domingo, 7 de abril de 2013

DO CÉU AO INFERNO


Sexta-feira passada foi um dia atípico, ou apenas outro dia.
Pensei que fossemos à Manaus Moderna, não, Dona Therezinha que havia combinado no dia anterior, acordou e pensou em irmos ao supermercado. Já falei diversas vezes para ela planejar as coisas, ela diz que sempre trabalhou com planejamento, visto que é assistente social aposentada e tinha de entregar estudos para novos bairros, novas vias etc., mas não parece. Ou como disse à ela, ela faz de propósito. Quando entramos no carro, aí é que ela disse o que queria de verdade.
- Vamos ao supermercado, depois passamos no banco, depois vamos comprar remédios.
Tudo lindo se não fossemos de táxi. Imagina fazer compras, deixar o táxi, depois ir ao banco, pegar outro táxi, dispensar, com sacolas por todos os lados, depois pegar mais um táxi, parar na drogaria, cheio de saco e com coisas que precisam de refrigeração. É de lascar. Até no supermercado, já disse à ela, para pegar primeiro as coisas que não estão no refrigerador, depois comprar o resto, yogurt, queijo, presunto, carnes, aves... Não tem jeito. É do jeito dela e não adianta falar o contrário, que vem aquele jeito bem cristão de se fazer de coitado e sempre é pelo bem da humanidade. Na Manaus Moderna, a mesma coisa. Começa pelos peixes, depois é que vai comprar o resto. Deus me livre! Sempre é do mais improvável, ao mais provável. Dá para fazer, mas de uma maneira que se faça primeiro o básico e depois, sim, vá se fazer compras. É muito mais fácil, mas ela só diz no meio do caminho.
- Mas é que eu aprendi assim e não vai ser agora que vão querer me mudar!
Ela acabou nem indo ao banco, nem à farmácia. Era tão fácil, primeiro banco, depois farmácia, depois supermercado, mas ela só decide no caminho.
Como depois do supermercado iria sair, preparei tudo para quando voltasse, iria tomar um banho, trocar de roupa, pegar minha bolsa com o material de desenho e o novo álbum que ainda estou “construindo”, para nem perder tempo. Não adiantou, ela decidiu, no caminho, depois do supermercado, deixar-me logo na casa do Piroka e ir sozinha para casa. Para eu não me zangar nem ser visto com vilão, muitas vezes é melhor nem argumentar. O problema é que estamos sem empregada, desde que a Suelem foi defenestrada, ela ia cheia de sacolas de supermercado, mesmo porque, quando decidi levar tudo em caixas, quase apanhei, porque estava faltando sacola para a lixeira da cozinha, comprei outra sacola para trazer as compras, mas não adianta se não trouxer as sacolas plásticas, tem briga. Aprenderam a usar sacolas plásticas, não adianta dizer que fazem mal ao meio-ambiente, a “avó delas ensinou assim...” Quem tira as sacolas do táxi, sou eu e agora, sem ajuda. Só queria saber como se viraram. Depois fica todo mundo doente, de fazer esforços além do que podem. Falei ao taxista que o grande problema no Brasil é a falta de planejamento, ele concordou.
- As pessoas acham lindo fazer tudo por impetuosidade!
Dia desses saímos do banco, tantas agências, mas ela tem de ir naquela mesma só para retirar dinheiro, mais longe e a mais assaltada. Era como antigamente, diziam que eu, sendo economista e administrador, não a ajudava nas questões financeiras da casa. Quem é de longe, não conhece Dona Therezinha. E adianta? Quando peguei o contrato, coloquei no Excell, peguei os índices de todos os anos, fiz os cálculos, nem precisava, pois de olhômetro estava visível, há 3 anos não havia reajuste. Quem determinava os valores, eram os outros. Mas muito discurso ela adora, acredita que advogado entende de números, agora que negociamos o pagamento dos atrasados, sentamos todos os lados para discutir, aliás, a tabela foi tão bem feita que nem tinha como discutir, foi acordado o pagamento retroativo, sem choro, mas agora, querem que seja tudo de uma vez, está demorando, tem de ser de uma vez. A reclamação de quem se deixou ser enganada, agora que está tudo dentro dos padres, quer que as coisas sejam céleres. Parece de propósito.
É como quando vamos ao banco, para tirar dinheiro, ou apenas o estrato, não pode ser no caixa eletrônico. Ela tem que ficar na fila. Não adianta dizer que ela é cliente especial que ela só quer ficar na Preferencial. Não adianta dizer que ela pode usar o cartão de crédito, ou o cartão de débito que ela quer pagar tudo em espécie. Pqp! Dia desses saímos do banco, ela decidiu pegar um táxi, pensei que fossemos ao supermercado, era para ir à casa da Dona Graci. Falei que podíamos ir à pé, era logo ali.
- Não, é muito longe.
Tudo bem. Pegamos o táxi, o taxímetro já começa em R$ 3,20 acho eu. Deu R$ 3,80. Foi só fazer a curva e descer uma pequena ladeira. O mais difícil, foi encontrar moedas e dinheiro trocado para pagar o taxista que também estava sem troco. Dona Graci não estava em casa, ela nem ligou antes para saber e era para entregar a merda de uma corrente de uma santa filha de uma puta que Dona Themis inventa e larga o pepino na mão dos outros. E Dona Therezinha ainda entra nessas barcas furadas. Agora, Dona Graci ligou, pois faltam as santas para ela continuar a corrente. Lá mandou comprar essas bostas numa dessas casas de cristãos malandros, como a Livraria Paulinas que ganham dinheiro fácil dos lesos, com essas papagaiadas. Na volta, liguei a uma empresa de táxi para pedir um, para irmos ao supermercado, ela queria subir a ladeira. Na vinda, é fácil, pois é descida, ela pegou o táxi, na ida que a ladeira é íngreme, ela queria esperar lá encima, no sol, em pé, dando sopa até para ser assaltada. E eu é que sou o escroto.
Bem, então fiquei na casa de Dona do Carmo, mãe de Pioka, para esperarmos Bustela nos buscar para irmos à casa da mãe dele.
MOMENTOS DE CONVERSA
Já falei que esperar tanto minha irmã advogada, quanto o Bustela que também é advogado, é um exercício de paciência. Quando eles marcam meio-dia, até as 15:00h, eles estão chegando. E não adianta apressar, pois parece que aí vem o stress. É muito stress, é muita falta de tempo, é... Uma vez, Dona Themis viajou e me pediu para levar minha sobrinha, para as aulas. Eu não sabia onde era a aula particular que hoje é chamada de reforço. Tudo bem, pedi à minha sobrinha para me ensinar o caminho. Dei tantas voltas, peguei tanto engarrafamento... Era uma coisa rápida. É o problema do stress. Falta de planejamento. O que levava quase uma hora, de repente levei menos de 15 minutos.
- Mas a mamãe sempre faz aquele caminho!
- Problema da tua mãe.
É que o pessoal acha bonito pegar só caminho cheio de problemas. Já disse que religioso que não se mostrar como sofredor, não vai para o Céu.
Minha sobrinha foi reclamar que eu corro demais. E olha que eu só chegava a 80km/h no máximo. Ela queria que eu fizesse o mesmo caminho da mãe dela. Mas nem morto. O trato foi eu levá-la à aula, não que eu suasse as nádegas no banco do carro, em caminhos escrotos.
Um tempo desses, fomos à Açutuba, do outro lado de Manaus, a Acácia que também estudou no Colégio Auxiliadora, fez o mesmo caminho que Dona Themis adora. A Avenida André Araújo. Mas eu evito, até aos domingos, pois é sempre complicada. Quando recolheram meu carro e tive de buscá-lo no fim do mundo, dei o carro para Dona Therezinha dirigir e fui entregar o carro de Dona Themis que trabalhava na André Araújo. Falei para Dona Therezinha ir na frente, quando vi, ficou, parou, não sabia o que era, nem podia parar, tive de continuar. Depois é que ela chegou, um ônibus bateu-a, na curva. Pooooooooorra!
Era para irmos às 9 horas, para a Ponte que Partiu de Manaus para Iranduba, ela me pegou depois do meio-dia, pegou a dita via para buscar filho,k sobrinha, papagaio, periquito, stressou de toda maneira, justamente porque a via estava tumultuada. Mas isso eu já sei, desde anteontem. Cortava a frente dos outros carros, entrava na preferência dos outros e ainda dizia:
- Meu professor foi o Thevis!
Primeiro não lembro, mas ela insiste em dizer que eu fui o professor de direção dela. Mas então deixei de ensinar que direção não é brincadeira. Quanto mais se quer ser esperto, quanto mais não se respeitam as regras, mais difícil de andar. E uma coisa que me ensinaram na autoescola, é fazer o melhor caminho, possível, antes de entrar no carro. Não adianta ser o caminho mais curto, se no caminho tem engarrafamento, tem buracos, tem todo tipo de empecilhos. Já naquele tempo, eles ensinavam a economizar combustível. Quanto mais o caminho for livre, mesmo que seja mais distante, muito melhor. Mas o pessoal tem mania de querer pensar, no meio do caminho, até para onde quer ir. E justamente, quando todo mundo parece que quer se salvar sozinho do dilúvio. Eu sempre pego a faixa da direita, coisa que em Manaus, ou melhor, de Niterói à Rio Branco parece que os motoristas têm problema no ouvido esquerdo, e quando mudo de faixa, primeiro dou a seta, depois, só troco de raia, quando percebo que dá, olhos por todos os retrovisores, inclusive o direito, nunca entro na minha velocidade, mas na velocidade que dê para não atrapalhar a velocidade dos outros. Mas em Manaus, primeiro que não se dá seta, por esperteza, e pior, quem está na preferência vem em quinta marcha, digamos a uns 100km/h, o filho da puta metido a ser único, entra, não acelera, vai a 30km/h, o outro que está na preferencial que se dane, freie, jogue para outro lado, dê o seu jeito. Isso, tenho certeza que não ensinei à ela, mas de maneira alguma. Não foi assim que eu aprendi. Isso é coisa de quem tirou a CNH, na base da esperteza. E privilégio é uma coisa que eu não suporto. Meu primo Benjamin, quando dirige em Manaus, tem mania de “costurar todo mundo”, mas como tirou a CNH no Colégio Militar, ou seja, na base da esperteza da Ditadura, sem fazer o Psicotécnico, a Legislação e Máquinas, ele coloca a culpa nos outros.
- Roda presa!
E acha que sabe dirigir mais do que quem fez todos os exames. Mas isso, também é uma cultura nacional que só atrasa nosso progresso. A culpa é sempre dos outros. Ninguém assume sua parte de erro.
Mas saltei do táxi, na casa da Dona do Carmo, começou uma pequena dor de cabeça. Lembrei daquela garota linda de rosto e de corpo que fomos para o motel e só deu para dar uma. Quando gozamos, corri ao banheiro, para jogar fora, toda a língua que havia almoçado. Ficou um cheiro de podre e ela me acompanhando. Uma pessoa com quem compartilhar muitos momentos, mas até hoje, não sei onde a deixei, não sei se ela deixou o número de telefone para nos comunicarmos, não me lembro de mais nada, depois de vomitar e ficar com uma dor de cabeça dos Diabos.
Dona do Carmo e eu conversamos um bom tempo e ela me dizendo do filho dela que eu já conheço. Mas não me conformo como uma pessoa pode ser tão pessimista. Digamos assim, eu não sou tão otimista, quanto os idiotas pensam ser o otimismo, mas do jeito de Piroka, Deus me livre. O mundo parece que só quer fazer o mal a ele. Desde o tempo do colégio, ele sempre foi assim, mas ficou pior. Nem tenta, porque já sabe que vai sempre ter algo contra ele.
Já falei que quando tivemos de fazer uma planta de uma casa para entregar ao Professor Isidoro Barbosa, o Espírita, em pouco tempo, no Terceiro Ano do colégio, falei para irmos ao colégio de manhã para adiantar tudo, depois iríamos ao Hotel, tomaríamos banho, almoçaríamos, depois voltaríamos para as aulas normais e entregaríamos o projeto. No prazo.
Tudo bem, tudo legal, antes da hora de irmos ao colégio, pegamos um apartamento, fui o primeiro a tomar banho, ele ficou esperando. Na vez dele, ele não queria entrar no banheiro.
- A mulher está olhando!
Era a arrumadeira que está acostumada com isso, nem liga. Ela estava entrgando a toalha, queria saber se estava faltando alguma coisa. Do lado de fora da porta, nem olhou à preciosidade.  
Depois fomos almoçar. Pedi dois escalopes de carne, misto, com queijo, presunto, tudo o que tínhamos direito, arroz branco, batatas fritas, legumes, comi tudo e ele só comeu uma fatia. Perguntei se ele não havia gostado, queria outra coisa.
- Não. Tem muita gente olhando.
Ai meu Deus! Foda-se! Vou já ficar com fome, por causa dos outros. Só lembro uma vez em que estava na rua, na hora do almoço, no Rio e no meio do shopping, encontrei um “Almoço Executivo” de comida oriental. Em Manaus, Executivo que eu conhecia, era motel na hora do almoço, onde os diretores levam as secretárias e de vez em quando, não tem vaga, das 11:00h às 14:00h. Não que as horas sejam longas, só 1, mas é tanta frequência que faltam vagas. Mas no restaurante, havia cadeiras e podia-se comer no balcão. Eu sou e estava sozinho, fiquei no balcão. Gosto muito de watabe, aquela pasta que se coloca, justamente para prevenir qualquer problema com vírus, com comida apodrecida. Dia desses falei à nora de um amigo meu, do tempo de Exatas que colocou tudo o que era comida crua, no restaurante do japonês velho que a Acácia tem vontade de dar umazinha com o senhor, mas não tem coragem de dizer toma, a garota colocou de tudo no prato, menos o watabe. Falei para o que servia.
- Ah, mas eu não gosto.
A outra mulher que estava se servindo, agradeceu, pois não sabia para o que servia aquilo. Tudo bem. Ela prefere ficar doente do que evitar com uma pasta que tem gosto de menta. Como diria o Amazonino Mendes.
- Então morra!
No Executivo Oriental no Rio, lasquei o watabe no prato, quando comi o primeiro pedaço, voltou aquele frio no nariz. Dei um “upa!”, todo mundo olhou, mas logo se esquece. Nós não vamos viver para sempre mesmo. Um dia tudo passa e se não passar com facilidade, tem KY e até um cuspe, passa até a goela. Nem precisei ficar com vergonha. Entrou uma gostosona, com blazer, saia, pasta de couro na mão, devia ser advogada, sentou-se do outro lado do balcão, quando vi, todo mundo se virou para ela. Fez a mesma coisa que eu, anteriormente. Acho que o watabe estava muito forte. Mas pelo menos, salvamo-nos de qualquer infecção, por não gostar de coisa que é feita para prevenir doença.
Mas Piroka tem medo de viver. Duvido se ele comeria sozinho, em um restaurante, ou se fosse a um teatro, a um cinema, sozinho. O problema sempre, é o que os outros vão pensar. Fodam-se! Eles não sabem o que eu estou pensando deles. Então nem quero saber o que eles estão pensando de mim.
Já disse que alguns profissionais da mente, dizem que tem gente que tem pavor de que as coisas deem certo, e sejam felizes. Piroka é desses. Pode dar certo, então é melhor nem tentar, pois é cristão e se não viver chorando, não tem lugar no Paraíso. Égua!
Se não me engano, fiz vestibular para Administração, para dar uma força a ele que havia deixado Estatística no fim, já devia estar se formando, visto que entrou ao mesmo tempo no vestibular, mas como não serviu o Exército, teve muito mais tempo do que eu que ainda tive de enfrentar problemas na Física, por falta de estar dentro do período próprio. Não sei como! Ele queria um curso diferente. Era preciso acordar mais cedo, ir buscá-lo em casa, senão ele não iria fazer as provas, deixá-lo no colégio em que estava inscrito e ir para o meu colégio. Numa dessas madrugadas, quando íamos saindo, pois vestibular antigamente, era uma semana inteira, Dona do Carmo deu a maior força a ele. Incrível.
- O Thevão eu tenho certeza que passa, mas o Piroka...
Imagina o cara já ser pessimista, com um estímulo desses. Realmente eu passei, mas como o PT estava na Reitoria, inventou que quem fazia um curso, não podia acumular estudos. Tive de decidir entre Economia que fui reprovado no final, só faltava PPE, ou Administração, o que iria começar. Lógico, larguei Administração, acabei o Curso de Economia, o jeito foi fazer novo vestibular no outro ano, onde a Acácia era o primeiro nome na lista dos aprovados. Como eu disse, quando fui reprovado para Economia, quando zerei na Redação, com tanta gente pentelhando, quando eu queria saber o nome do filho da puta do Humberto de Alencar Castelo Branco e deu branco. Veio tudo, Alberto, Roberto, Agberto, menos Humberto. Minha irmã mais nova gritando do lado de fora do muro, meu nome, para irmos embora e o Paraná falando para eu entregar a prova, pois era o último na sala e ele estava com fome, estava com tudo na cabeça, só não saiu o nome daquela bicha ditadora. O único vestibular em que não passei. Entreguei a prova pela metade. Eu hein!
Uma vez no Campus, no tempo em que em período de provas, não havia aula, e foi por isso que esqueci uma prova na Economia, justamente de Direito, o professor era um amigo de Seu Clovis. Direito e amigo de Seu Clovis, oh homenzinho de Direita, esqueci que tinha prova naquele dia e nem fui à Faculdade. Dona Themis é que gostava, gostava daquele leso. Quando o período voltou normal, falei que iria entrar com um processo para fazer a prova de segunda chamada, ele que nem me conhecia, veio me dizer que eu faltara à prova, para assistir o jogo do Flamengo no televisor. Serei leso? Na Economia, Eram três provas durante todo o período, para se tirar a média.
- Eu não faço segunda chamada. Não tem quem me force!
Tinha sim. Era regimental da Universidade e eu era do Conselho Universitário da reitoria.
Tudo bem. Na segunda prova, entrei na Biblioteca, dona Therezinha, mãe da Tárcia que era a Bibliotecária Chefe e dizia que eu só ia à biblioteca para fazer barulho, até se assustou de como eu estava calmo. Peguei tudo o que era livro de Direito, fiz um cola com duas folhas de papel ofício, frente e costas, dobrei, fiz uma sanfona, coloquei no bolso, o professor ia ver o que era bom para a tosse. Quando começou a prova, todas as perguntas pareciam combinadas. Sabia tudo. E acho que fui o, ou um dos primeiros a entregar. Nem precisei da cola. Acho que tirei 10,0 e 10,0. Ou seja, a nota de corte, como se dizia, era 5, fiquei com 6,7, zero na primeira, 10,0 nas outras duas, estava passado. Mas havia uma coisa a mais, acho que era maior pontuação da prova final, acabei com 7, muita coisa. Nem precisei pedir favor àquele abestado. Dona Therezinha fala sempre com a filha dele no supermercado. O filho é um boçal, deve ter puxado ao pai.
Mas eu e Piroka éramos da Exatas e numa dessas provas, acho que a última do período, ele precisava de 0,5. Só 0,5. Ou seja, até na Exatas, era nada. Uma confusão danada, ele não queria entrar na sala de aula, achava que seria reprovado. Levei-o até o bloco da Exatas e falei:
- Meu irmão, tenta. Tu já tens zero, precisas de 0,5, às vezes, só em assinar a prova, o professor dá até mais do que tu precisas. Não vais perder nada. Nem tempo, pois é a hora de que tu tens para estudar.
Coloquei-o na sala e fui para a minha prova. Eu precisava de muito mais e se não me engano, era Física III. Quando saí, ele já havia ido embora. Nem assinar a prova, o fez. Entrou, antes do professor chegar, levantou e puxou o carro. É um medo de tentar, que eu não entendo. Só existem 3 respostas para tudo. SIM, NÃO e TALVEZ. Mesmo assim, não vai tirar o pedaço de ninguém se não for a resposta esperada. Até para namorar, a resposta só podem ser essas. Às vezes um VAI TOMAR NO CU, mas já mostra que a porcaria não era aquilo tudo que se pensava. Mas ele já pensa que a resposta para ele, vai ser sempre contrária aos seus desejos. O mundo só pensa em dizer NÃO a ele. Mesmo se me disserem não, sempre lembro da outra menina que dei carona, depois de uma dessas óperas, no Teatro Amazonas. Primeiro foi uma dificuldade fazê-la pegar carona, tive de dar volta e voltas, até convencê-la, já tarde da noite, ela na parada de ônibus na Getúlio Vargas, sozinha. Depois, fomos direto para a casa dela, no Vieiralves, quando chegou, pedi pelo menos um beijo. Poxa, nem mão na coxa, nem carícias, nada, era a maior dureza, mas o beijo ela aceitou. Pronto, o que eu achava que estava perdido, não haveria uma pimbadinha de maneira alguma, ela falou para ir. Nem entendi. “Vai!” Fui. Acabamos no motel. Uma noite além da conta. A ópera do Teatro e uma ópera particular no motel. Uma com música, outra com gemidos. Muito bom! Se eu jogasse tudo fora, por um primeiro fora. Muitos amigos, têm mania de desistir no primeiro fora. Eu sempre deixo a dúvida no ar. De vez em quando, quem se fez de valente, é quem telefona, para me convidar para fazermos brincadeirinhas. É só não fechar a porta, pois enquanto há vida, pode ter solução para todos os problemas.
Tomar decisão, também não é com ele. É sempre: “Deixa pra depois!” “Pra depois!” “Depois!” Parece até eco. Não sai nunca. Seu Clovis dizia que eu era preguiçoso, pois quando tenho de fazer alguma coisa, faço antes, não espero para depois e ele dizia que isso é o maior exemplo de quem é preguiçoso ao extremo.
Mas como disse à Dona Therezinha ontem, parece que é coisa de homem, homem atrasado. Quando se acostuma com uma coisa, não muda, nem deixa que o façam. Era assim o Seu Clovis, era assim o pai do Piroka, assistindo SuperNannny, com aquela gordinha inglesa de rosto lindo, um desses maridos além de não colaborar, fez de tudo para boicotar o que estava sendo tentado. Dizem que mulher, quando se acostuma a trepar com o mesmo cara, não muda de posição, peguei uma dessas que só queria cachorrinho, e/ou papai-e-mamãe, nunca trepou no meu colo, na posição da mulher por cima, como minha amiga dizia que era a minha posição favorita, tanto que me presenteou com dois porquinhos, nessa pose, mas homem, fora da cama, é repetitivo, tem medo de mudanças, mas do que mulher na hora do sexo. Foi assim no meu relacionamento, com uma das minhas ex-namoradas. Estava morto há bastante tempo, mas eu já havia me acostumado, ia levando, até pegar um pé nas nádegas. Talvez por ter chegado à  conclusão de que eu não queria casar, ela sim, ela queria um Príncipe Encantado e além de ser comunista, nem em fada madrinha eu acreditava, mas ela pedia para ficarmos juntos, não se importaria. Fui levando. Quando ela chegou à essa mesma conclusão, nem deu chance de conversarmos a respeito, nem teve com argumentar que havia mudado, era um homem fiel, ela estava decidida e pronto. Fiquei chupando o dedo.
Ainda bem que foi a primeira e espero, a última vez em que me abestalhei para essas coisas. Todos dizem que o companheiro que se sente traído, ou pede para manter uma relação já acabada, é porque vai dar um troco, bastante escroto. E eu nem me toquei. Pode até ser coincidência, mas aconteceu comigo.
Mas Bustela que ia nos buscar ao meio-dia, extrapolou. O que era para ser meio-dia, deu 12:15h, 12:30h, nada. Pedi ao Piroka ligar ao Bustela, para saber se ele viria hoje, ou havia se esquecido de nós.
- Mas Thevão, tu és muito impaciente. Espera!
Dona do Carmo tem essa ideia de mim. Nem é tanto. Tem coisa que eu espero, mas tem coisa que passa dos limites e se ficar esperando, nada vai para frente.
Acho que chegou mais ou menos às 13:00h. E era um almoço na casa da Dona Brunilde, mãe dele.
- É comida árabe!
Mas eu gosto de comida árabe, de comida japonesa, de comida francesa, de comida africana, de... Até Comida Coreana. Quando levei o pé na bunda, voltei a ir aos lugares, sozinho. Fui jantar um desses dias, no Restaurante Koreana. Não conhecia nada, o pessoal não falava nada em português, quando depois de muito tempo, veio um rapaz que dava para entender alguma coisa. Ele indicou uns pratos, eu pedi outros, ele disse que iria mandar colocar pouca raiz forte, pouca pimenta, pois eu não iria gostar do jeito deles. Tudo bem. Nunca suei tanto, comendo qualquer coisa. Era uma comida tão ardida, a salada, o peixe, tudo cheio de pimenta. Tomei uma Fanta Litro, sozinho. Suava com se estivesse fazendo sexo no fogareiro da família, com a filha do bandido sanguinolento e ciumento da filha. Ainda bem que depois que acabei de jantar, quase na hora de ir embora, chegou um brasileiro e um desses descendentes de oriental. Eles também não conheciam e me perguntaram o que pedir. Ora bolas. As comidas mais condimentadas. Eles pediram. Fui embora, mas tenho certeza que se eles têm hemorroidas, o outro dia foi cruel. Das outras vezes em que voltei, até com a Aline, já sabiam falar português e a comida era mais palatável. Dava para sentir o gosto.
São três prazeres que eu gosto muito. Comer! Sentado, deitado, em pé, na cozinha, na pia, na banheira, no quarto, no jardim, até no carro. Comer é muito bom! Pena que essas religiões messiânicas tenham essa prática meio boneca, onde veem o comer em todas as posições, como pecado. É pecado comer à mesa, é pecado comer na cama, tudo é pecado. Mas tem graça! Pecado é Deus ser Todo Poderoso, o Alfa e o Ômega e fazer um mundo imperfeito. Ele que vá ser penalizado, por ser burro. Não dá uma dentro. Fez o Paraíso, fechou, expulsou Adão e Eva, seu filho primogênito e dileto. Deu poderes a Moisés, Noé, até a Cristo que era Messias, depois virou a terça parte de Deus e mesmo assim se lascou de verde e amarelo. Nada dá certo. A culpa é minha? De maneira alguma. Deus é que é um arquiteto de merda. Todas as obras d’ Ele, acabam em merda. E o pecado é meu? Não. Vou fazendo o que gosto, desde que não atente contra os outros e o mundo, coisa que os filhos do Pai, fazem brincando. Gente lesa. Procura respostas para o que está na cara que é a maior fraude. “Deus é bom, só é atrapalhado e muito abestalhado, o pecador és tu!” Mas nem morto!
OS ANIVERSÁRIOS
Depois de muito esperarmos, finalmente Bustela chegou. Uma SUV, ficou apertada atrás. Só pode ser sacanagem do Fauze e do Piroka.
- Meu irmão, são 130 quilos...
A Senhora Ana estava presente, nem mandei ir à pqp, antes que me esqueça.  
Fomos ao apartamento da mãe dele. Tudo bem, tudo legal. Cumprimentei a todos, inclusive Seu Fauze, até a Martinha, ex-vizinha de Bustela e de Dona Dolores, minha avó. Fiquei na sacada, maravilhosa. Uma ventilação que condicionador de ar e ventilador, além de serem dispensáveis, não chegam aos pés. Estavam a Andrea e a prima de Bustela.
- Porra Andrea, tu continuas uma mulher bonita, mas fumando desse jeito, vais ficar uma merda! Joga essa bosta fora!
- Só esse cara mesmo pra me deixar por cima!
A Andrea é uma mulher grande, onde chega, chama a atenção, Quando está de calças compridas, parece que está de fraldas por baixo, no lugar da calcinha, imagina como é a coisa. Quando íamos ao Kalamazon, ela chamava a atenção de todo mundo, quando adentrávamos aquele pardieiro. Eu baixinho, quando dançava com ela, batia abaixo dos peitos, imagina. Uma vez, um cara mandou recados no guardanapo, pensavam que eu não estava vendo. Acho que eram militares, só sei que não eram daqui. Depois, quando fomos sentar à mesa, ao lado, ficamos conversando e o mais interessado me perguntou se tínhamos alguma coisa. “Não, tenta!” Ela havia enviuvado recentemente, quem sabe... Mas deve ser dessas mulheres que acham que estão gordas, estão fora de forma, ninguém as quer. É a cultura Barbie, que faz as mulheres quererem ser estereotipadas, não para os homens, mas para as outras mulheres que também têm autoestima no calcanhar.
A prima de Bustela que fuma que nem pipira, observou.
- É Andrea. Eu já estou com enfisema pulmonar, mas ainda continuo fumando. Isso é uma droga. E a minha pele?
Realmente, uma pele de maracujá de gaveta, um pele de sapo morto ao sol. Meu Deeeeeeeeus, só de ver aquilo, já seria um estímulo para ela largar o vício.
- Vou tentar fumar menos.
- Não, Dona Therezinha quando parou, foi de uma vez. O Doutor Moura disse que a costela estava fissurada, depois de um acidente de trânsito, ela teria de parar de fumar, por uma semana, Ela parou para sempre. Seu Clovis que o médico disse, depois que ele teve a vesícula supurada, por não ir a médicos, foi preciso pegá-lo à força, depois de várias paradas cardíacas, para retirar a vesícula, depois de terem de abrir todo o abdômen, para lavarem, com tanto pus que se espalhou, depois de um bom tempo de UTI e de hospital, o médico recomendou que beber, até podia, socialmente, mas fumar, nem pensar. Ele ia lá para a rua, pedir que comprassem uma carteira para ele e fumava escondido. Quando morreu, estava escorado na parede do banheiro e o cigarro no muro que separa o box, da pia e do vaso sanitário.
- É Andrea, para de uma vez.
Toda vez que vejo a Andrea, lembro da Dedeia e da Cácia. Fumavam tanto que ficava impregnado aquele cheiro de cigarro no corpo, nos poros. A Cácia, fomos dar umas pimbadinhas, era difícil beijar o cangote, fazer carícias, beijar o copro e até a boca, com aquela catinga de cigarro, até no hálito.
- Fuma maconha Andreia que é mais perfumada.
Os cigarros de hoje, são para liquidar o cliente.
- Eu só fumo Derby!
 E olha que a prima de Bustela, está com enfisema pulmonar.O que é o vício! Só 60 anos, está bem pior, até de se ver, do que Dona Therezinha com 84 e Seu Fauze, com 102 anos.
Chegamos tarde, estava todo mundo nos esperando, como disse Piroka, “só velha bonitinha. Se for contar a idade, passam o Seu Fauze brincando!” Conversamos um tempão, só depois é que Dona Brunilde chamou para cantarmos os parabéns. No plural mesmo. Coloca a vela dos 102 anos do Seu Fauze, acende as velas, canta os parabéns, tira fotos, apaga, troca para a vela com a idade de Piroka, 43 anos, acende as velas, canta os parabéns, tira fotos, apaga, troca as velas para o Fauze Bisneto, 21 anos, acende as velas, canta os parabéns, tira fotos, apaga, troca as velas, para os 20 anos da namorada do Fause, acende de novo, canta os parabéns, tira fotos, apaga... Acho que foi o Piroka que disse que a dor de cabeça era de fome. Deve ser mesmo, mas há muito tenho sentido um mal estar, de estômago sujo, como digo. E quando isso acontece, ou como só comida leve, ou me advêm essas dores filhas de uma pústula. Lógico que para acender as velas, nada como um fumante ao lado.
- Ah, tu me dizes para parar de fumar, mas quando precisa acender as velas, a primeira que tu chamas sou eu.
Lógico. Qual o viciado em nicotina, fumante inveterado que não tem consigo um isqueiro, ou mesmo uma caixa de fósforos? A Andrea, num aniversário do Bustela em uma pizzaria, quando aventou a possibilidade de namorarmos, não conseguiu ficar mais de 15 minutos, á mesa. Era proibido fumar no ambiente, ela levantava, ia lá para fora, fumava, voltava com aquela inhaca que mesmo que seja proibido fumar no ambiente, o cheiro que vem com o dono, é pior do que a fumaça em si. Ela não consegue ficar mais de 15 minutos sem acender um veneno desses. Ela ainda é bonita, como eu disse, mas espera!!! Depois a culpa é da velhice. Nem sempre! Depois, quando os namorados terminam, não sabe por que. Além de muito ciumenta, batia no Beto que era duas veze maior do que ela, só porque o coitado ia ao carnaval e se agarrava com as cabocas. Graças a Deus, imagina se ela chegasse e o visse grudado com um macho. É carnaval, é folia! Imagina o que não faria comigo, 3 vezes menor do que ela? Depois, ter de aguentar aquele cheiro de tabaco o dia inteiro, por perto? Só sendo insensível. Ter problema no olfato, mas muito sério. Mulher maior do que eu, agora, depois que apanhei de uma ex-namorada, de guarda-chuva, no shopping, só se for bem pacífica, não esteja nem aí para nada. A Adreia me dando um tapa, eu iria ser internado na UTI, por um bom tempo. E eu me conheço muito bem. Fidelidade não é o meu ponto forte. Não vou perder uma amiga, por bobagem.  
Só depois disso, de todos apagarem as velhinhas, mas a do bolo, é que foi aberta a temporada de caça à comida. Uma das senhoras, com os cabelos mais pretos do que o de Bustela, na hora dos parabéns, já estava bicando os pastéis e os quibes. Ficou toda sem jeito, quando Bustela chegou perto de nós.
- Faz muito bem.
- É, está uma delícia.
FINALMENTE O ALMOÇO
Então os serviços à mesa, começaram. Bustela pegou um prato e ficou no início da fila. Falei para ele deixar de ser mal educado, ele recuou, mas só um pouco. Deixou algumas daquelas senhoras que já devem estar com a passagem de ida no Bonde dos Anjinhos marcada, servirem-se, só depois é que se serviu. O problema no dia da “passagem” daquelas senhoras é se chover.  Vai escurecer tudo, só com a tintura dos cabelos. Deve ser naquelas tinturas que Bustela pega o exemplo para a sua que ele diz que é G-Nética. Deve ser um produto novo da L’ Oreal. G-Nética. Nem quando éramos do colégio, os cabelos dele eram tão pretos. Agora, com G-Nética, é outra coisa. Ainda bem que a prima dele de apenas 60 anos, sabe das coisas.
- Maninho, não pinta os teus cabelos. Homem fica muito bonito com os cabelos grisalhos!
Ou seja, o Bustela está uma merda. Ele já era feio pacas, agora com G-Nética, está intragável.
Quanta fartura, Tinha todos os pratos árabe, possíveis e imagináveis, Imagina, charuto, em folha de parreira, maxixe recheado, chuchu recheado, Homus, aquela pasta de grão de bico, fatias de pão sírio – falei que era sírio e não libanês, nem árabe, uma das senhoras perguntou a diferença, se não era tudo pão ázimo, Dona Brunilde foi explicar, ou pelo menos, ficou tentando explicar, eu só comia desses pães, e uma vez, meu ex-cunhado ligou muito puto, querendo saber como era a tal pizza que eu fazia e os filhos dele queriam, daquele jeito -, quibe cru, quibe de forma... Não dá nem para descrever tudo. O que sobrou, mesmo com tanta gente e gente repetindo os pratos.
- A mamãe faz tudo sozinha. Ela é muito organizada.
Deve ser por isso que o filho dela é muito desorganizado.  
Fui ser educado, peguei um pastel, na hora de me servir. Fiquei muito zangado comigo. Quando fui repetir, cadê os pasteis? Dona Brunilde cozinha muito bem, desde muito tempo. Só lembro das nossas despedidas do colégio. Organizamos, sem a interferência de ninguém, festas e mais festas, ao invés de irmos às festas organizadas pelo colégio, fizemos nossas próprias, a partir dos últimos dias antes de nos formarmos. E uma dessas festas, foi à tarde, num dia de aula, reunimos o pessoal, pedimos uns ônibus do pai do Renato Stival Bueno que tinha uma empresa de ônibus, fomos para a Ponta Negra, mas na praia onde hoje é o Jardim das Américas. Uma areia branquinha, sem ninguém para pentelhar. Todos levamos um lanche. Bustela levou uma cesta de vime, daquelas todas trabalhadas, com uns sanduíches deliciosos. A cesta era enorme, ele não iria comer aquilo tudo. Ainda mais sozinho. Todo mundo se serviu, sem ele saber. Ele no rio, de vez e quando vinha um, uma, outro, outras. Quando chegou a hora do almoço e ele procurou u sanduíche para saciar a fome, a cesta de vime estava vazia. Não sobrou nem guardanapo. Duvido se Dona Brunilde cozinhasse ruim, se ele ficaria nessa situação. Era uma moça. Até para ir à praia, tinha de se travestir de Chapeuzinho Vermelho! São dois amigos que se não fossem casados, Piroka e Bustela, eu desconfiaria. Daqueles que se diz: “Esse cara rasga a tanga”. “Esse macho morde a fronha!” “”Esse jogador de futebol leva bolada no céu da boca!” “Esse esfomeado peida na farofa!”
Mas repeti o maxixe e os charutos. Deus me livre! Como disse à Dona Brunilde, na hora de me despedir.
- Nunca comi tão mal na minha vida!
- Deixe de brincadeira!
- Mas se a senhora quiser, eu volto amanhã, só para ver se apurou o gosto.
Na hora do bolo, puxa, pensei que fosse um bolo de coco, com rapas encima, só. E já estaria de bom tamanho. Que nada, havia um recheio e o recheio era de cupuaçu, além de outras coisas. Mas uma delícia! Quando ela me perguntou se eu queria bolo, Bustela que diz que não suporta nada doce, disse que é o mesmo que perguntar se formiga gosta de açúcar.
- Dona Brunilde, a senhora pode me fazer um favor? Para mim, a senhora corta o bolo do outro lado, tá bom?
- Mas por que meu filho?
 Por quê? Ora porra, um bolo onde tanta gente apagou vela, eu não vou comer o cuspe dos outros. O que aquele pessoal deve ter sorvido o cuspe alheio, tem graça? Ainda mais de Piroka e do Fauze, uns caras que nem tomam banho direito. O Fauze fica coçando a cabecinha do pau, depois quer dar a mão para a gente. “Vá tomar no cu. A outra mão. Vai lavar essa piroca porra!” E engraçado que de todos os aniversariantes, a namorada do Fauze era a única mulher e de todos, foi a única a apagar as velas, num sopro só. Não se fazem mais homens como eu. Tudo frouxo!
Era um bolo imenso, mesmo que tenhamos repetindo, a Andrea, muito mais, mesmo assim, também sobrou.
JÁ NOS CONHECÍMOS SEM ELA SABER
Eu sempre tenho essa mania de conhecer as pessoas e quando me apresentam, já as conheço até antes de quem me apresenta.
A cunhada do Bustela, estudei com ela, muito tempo, e muito tempo antes deles se conhecerem. Conheci-a até antes mesmo do marido dela que estudou Administração comigo e trabalhou na Secretaria de Saúde na mesma função e setor. A prima delas, conheci, antes delas me conhecerem também. Quando elas foram me apresentar, na casa do sogro de Bustela, já nos conhecíamos, faz tempo. A Acácia, quando foi me apresentar aos irmãos, em uma festa na casa dela, já os conhecia do Fisiculturismo. Acho que conheço Deus e o mundo. E tem quem me conheça e de vez em quando nem me lembro.
Perguntei à Andrea se ela se lembrava, de quando viajamos no mesmo navio. Ela não se recordava.
- Acho que eu tinha uns 14, ou 16 anos!
- Eu tinha 6!
Tudo bem. Realmente ela era bem criancinha, andava de calcinha, mas com uns laços na cabeça, que eram moda naquele tempo, parecia que as meninas estavam embrulhadas para presente. E nem por isso, ouvia-se falar em pedofilia.
- Lembro de pouca coisa. Uma sala onde me ensinaram a jogar xadrez, Eu ia todos os dias, jogar.
Era justamente a sala, onde ficavam as pessoas mais refinadas, mas as paqueras ficavam do lado de fora, do lado do mar, os músicos do navio iam tocar para um grupo de jovens e aí todos nos conhecíamos melhor. Ou melhor, as pessoas mais abertas a novas possibilidades. Em princípio eram os jovens, mas depois, apareceu uma horda de velhas fogosas, a fim de “dar” ao guitarrista e a quem quisesse. Ficava até difícil se concentrar. As velhas estavam há dias como náufragos, há muito sem ver pau. Graças a Deus que um tal de Lindoso, um cara mais velho do que eu, chamou mais a atenção da velharada, ele jogava ping-pong, na sala de dentro, e tirava a camisa, era todo cabeludo, as velhinhas mortas de fome, deixaram-nos de lado e foram fazer ponto na sala de jogos.
- Também lembro da piscina com a água suja...
- Não era suja. A viagem inteira, eles colocavam água do mar, clarinha, quando chegou no Norte, colocaram a água do Rio Amazonas, o pessoal pensava que era suja, era negra. Ninguém quis tomar banho nas piscinas.
- Tu te lembras daquela baiana que fazia a fantasia de tudo o que era homem solteiro, para as festas à fantasia do outro dia? Já meio velhusca, meio fora do prazo de validade, quando o navio chegou ao cais do porto da Bahia, ela deu um show de frescura, chorou tanto, fez tanto escândalo ao visualizar o marido na multidão que até encobriu as músicas que a banda tocava em cada porto. Ela havia passado todo mundo nos peitos, todo mundo sabia, mas ela fez tenta cena de amor para o corno velho... Mas tu não deves lembrar, porque nem sabias o que era isso.
- Não. Mas lembro de duas mulheres e um homem, que pintavam a barriga da grávida.
- Era a Luli e a Lucinha que faziam música para os Secos e Molhados e o marido dela ficava tirando foto o tempo inteiro.
Elas pagaram a viagem, com o dinheiro que receberam dos direitos autorais, do primeiro disco deles.  
- Olha Andreia, eu conheci a Andrea na viagem, mas era da minha idade. Outra, A filha do comandante do navio. O cão em pessoa. Te lembras dos cinemas da tarde e das filas do sorvete?
- Não. Nem sabia que havia cinema. Lembro de ter me perdido, desci as escadas e acabei na prisão do navio. Depois fui subindo as escadas e encontrei a mamãe.
- Tu só querias comer maçã.
Nem falei que ela dava o maior trabalho à mãe dela, para comer. E acabava sempre levando as maçãs disponíveis.  
- E tu, onde comias? No restaurante das crianças?
- Na verdade, nem no restaurante normal. Eu ia para a lanchonete da piscina de adultos e ficava comendo umas batatas fritas em saquinho, com Guaraná Antártica que à época eu gostava muito. Ficava saciado.
Mas não era um, nem dois saquinhos. Eram sacos e sacos, tanto que mais próximo daqui, faltou batata frita, na lanchonete, o jeito foi comer no restaurante mesmo. De adultos, lógico!
Mas até hoje me lembro do cheiro dos dois navios, do cheiro do restaurante, de muita coisa. Realmente acho que tenho uma memória muito boa. Todo mundo fala isso, menos Dona Themis que diz que eu nunca me lembro de nada. Fofoca da oposição.
Até hoje eu me lembro do cheiro do shampoo da Dedeia, até a hora dela começar a beber e a fumar. Depois, era difícil cheirar o cheiro que saía dela. Depois de muito tempo, não sei quem usava também, o mesmo cheiro, aí é que eu soube que é SHAMPPOO DE APRICOT que se traduz em damasco e bem recentemente, soube que nosso abricó, é chamado de damasco da Amazônia. Então, quem traduz APRICOT, como ABRICÓ, não deixa de estar certo. Uma delícia. Dava vontade de comer. Nós dançávamos colados e ela tinha um cabelão enorme, cacheado, colocava a cabeça no meio dos cabelos dela, como digo, até a hora em que ela ainda não havia começado a fumar, nem a beber. Depois...
Apesar de até hoje a Acácia achar que eu tinha preconceito com o cabelo dela, sempre lembra de uma vez em que fui pegar no cabelo dela e ela acha que eu disse que era limpo, porque de outra maneira, pensava que fosse sujo, nada disso. Ela é que tinha o preconceito em relação ao cabelo dela, e colocava nos outros, o que ela achava que os outros estavam certos. Eu observei alguma coisa, sobre o cabelo dela, mas ainda me lembro do cheiro dos shampoos que ela usava, menta e/ou hortelã, e outros, cítricos. O problema é que a própria família e como diz, no Colégio Auxiliadora, era vista como uma pessoa fora dos padrões brancos, tem os cabelos pixains também, levou isso consigo, como se a crítica fosse correta e ela a errada. Jesus palestino, no maior deserto, uma quentura danada, era louro, cabelo liso, como propaganda de shampoo, branco, quase ariano, olhos azuis, vê se pode? Perpassou por séculos, esse estereótipo do limpo total, contra o negro penalizado no Genesis, quando Deus deu cor às descendências de Caim, para nunca os perder de vista, desde quando matou Abel. A tia dela que é, ou era freira, quando íamos sair, uma vez, quando estava em Manaus, na casa deles, quis encher a paciência. A hora de sairmos para a noite, era 23:30h, todo dia, invariavelmente. A freira, como sempre, que forçar sua visão de mundo, até onde é apenas visita e frescou! Não era hora de moça de família sair. Naquele ponto do campeonato, a Acácia já havia sido noiva, não devia ser moça, e quem não é de família? Até puta e ladrão. Quando viu que iríamos sair assim mesmo, falou que a Acácia não iria sair despenteada daquele jeito. Ela sempre usara o cabelo daquele jeito. Uma freira do cafundó dos Judas, chegou e meteu bronca no cabelo dela? É assim que nascem os preconceitos e assim que muita gente coloca para dentro o que os outros fazem de imagem sobre o que eles são e deveriam ser. Entraram para o quarto, ela foi desembaraçar o cabelo da Acácia, foi fazer penteado, acho que saíram, mais ou menos, 1:00h da manhã. A primeira vez em que o cabelo da Acácia fora apresentado a um pente e à uma escova. Deve ter difícil a convivência. Pronto, a Acácia estava pronta, como a freira queria, fiquei esperando um tempão, mas freira ainda assim, quis meter bronca.
- Já não é mais hora de se sair, não é mesmo?
- De maneira alguma. Agora é que a festa está começando.
Uma freira que até na casa dos outros, usa aqueles trajes ridículos, fica que Mem palhaço,fantasiada, até na hora que deveria estar dormindo. Aí, com tanta gente religiosa, cheia de discriminações e de outra feita, esse pessoal, com uma visão de mundo perfeito, louro, olhos azuis, cabelos lisos, não podia se ver além de alguém marginalizada. E quem vive marginalizado e mesmo assim não se aparta dessas merdas de religião, é porque gosta! O problema do cabelo dela, foi a imagem que fizeram dela, para ela mesma e ela “comprou”. Aí quis colocar a culpa em mim que além de ter cabelo pixaim e não estar nem aí, não é culpa minha, mais uma questão genética, não sou cabeleireiro para me importar logo com o cabelo das outras.
Lembro do cheiro noturno de uma ex-namorada que tomava banho, e se melava toda com óleo de amêndoas, antes de deitar. Até que eu gostava, mas todo dia, enjoou. E como se fosse uma coisa rapidinha, depois de se untar de óleo de amêndoa, inventou de se untar com uns azeites, óleos, sei lá, anticelulite e antiestrias. Quem foi que disse que ela tinha essas porras? E eu que ficasse esperando ela se bezuntar até cansar, a noite inteira. Sempre me recordava no Bermudes, um aluno estrangeiro do colégio, diziam que era de Bermudas, jogávamos brutebol, ele passava liso, todo mundo tentava segurá-lo, só pararam-no, quando deram um chute na canela dele e ele foi parar lá fora de campo, numa pedreira que estava ali para servir de construção à quadra nova. Parecia essa ex-namorada. Se a jogassem para cima e quisessem segurá-la, ela escorregaria pelos dedos, de tanto óleo corporal. Deus me livre! “Não quer namorar, avisa!” Eu ficava até as 3:00h, quando finalmente ia dormir em casa, ainda tinha de aguentar essa melação toda?
Lembro também, ainda, do cheiro de patchuli do apartamento da Concom.
Ainda me lembro do cheiro do picolé da Kibom, com o cheiro da maresia, do cachorro quente das Kombis, na Barra da Tijuca, quando ainda nem era a Terra dos Emergentes, o cheiro dos barcos que utilizávamos aos domingos, para passearmos, o que fez Dona Therezinha comprar o Formigal, justamente por ela ter pavor de água, de rio, de mar, de tudo que possa morrer afogada, pois o pai delas não deixava mulher nadar e elas nunca aprenderam a nadar, a não ser a filha que era rebelde que saiu da mesmice, naquele tempo, nadar, assim como muito exercício físico, era coisa de homem, como tantos preconceitos de antigamente, capitalistas, gente bem religiosa. Lembro até do peido que uma amiga deu, quando estava na Posição D4, justamente quanto ia empurrá-la de trás para a frente e quase que acaba a festa, porque ela ficou com vergonha.
- Faz parte. Faz de conta que não houve nada. Vamos cheirar juntos que acaba esse cheiro, logo.
Tenho lembranças de muitas coisas, de muita gente, mas como fiz muitas coisas também, às vezes não lembro de tudo, principalmente de quem chega nos lugares e quer se esconder do mundo. Só lembro do Piroka, porque somos amigos de muito tempo. Senão, seria uma dessas pessoas de quem nunca iria me lembrar. E ele fica puto, quando as pessoas não lembram dele. O pessoal do Campus se lembra de mim, dele não. Quando a Tartaruguinha me viu na porta da loja dele, veio falar comigo, falei se ela se lembrava dele, ela olhou de cima a baixo e falou na lata: “Não”. E olha que além de ser nossa Professora de Português no colégio, ela foi professora dele na universidade, em Português Instrumental. Ele fica puto.
- Também tu não te comportas, tu és bagunceiro...
 Então que ele mude. Esse jeito de mosca-morta, realmente não dá para lembrar, nem com a pessoa presente.
Lembro da irmã do Vaquinha que era minha colega na Economia. Um dia o professor, acho que Jefferson Peres, fazendo a chamada, chamou o nome dela, falei que não estava. Ela estava logo atrás, até me assustei, quando ela falou presente.
SOBRE DIGINIDADE
Conversando com a prima do Bustela, a que fuma e a pele parece papel-manteiga amassado e ela falou que nunca seria capaz de se sujeitar a homem.
- Eu criei meus filhos vendendo bombom, nunca me prostituí. Hoje um é dentista, o outro é advogado.
Falei sobre uma prostituta que conheci, linda, que falei para ela ser empregada doméstica, fazer qualquer coisa, pois no dia que deixasse essa vida, encontrasse um desses homens babacas na rua, a primeira coisa que ele iria lembrar era de já ter sido cliente ela e para o filho, talvez seja uma reação muito ruim, de saber que a mãe se prostituiu, mesmo que tenha sido pelo motivo que seja. A prostituição não dá dignidade a ninguém, mesmo que faça muita prostituta de luxo, rica, mas no fim, vão procurar remédio para dormir, tratamento psiquiátrico, até se flagelar, por se sentir sempre suja. Às vezes, aqueles que se querem mostrar mais fora do sistema, é justamente quem trás para si, todos aquele comentários preconceituosos, ao invés de ir contra o que deveriam achar errados. A prostituta, ao invés de ser aquela mulher que vai contra os conceitos sociais, na maioria da vezes, é quem aceita os comentários do sexo sujo, da pessoa suja e acaba trazendo para sua vida, todas as doenças, como realmente fosse suja de verdade. Acabam tomando diversos banhos, para se limpar por fora, quando a sujeira está na mente.
- Justamente. É uma questão de dignidade. Não aceito que mulher se prostitua para viver. Vai ser empregada, vai lavar roupa pra fora, mas depender de homem, nunca.  
Sinceramente, a questão não é da prostituta, mas de um sistema que aceita que pessoas tenham de se valer da prostituição, para sobreviver. Invertem-se os conceitos, justamente para não se dizer quem é o culpado de verdade. E tem quem deixe muitas famílias na miséria, para prostituir suas filhas e muitas vezes filhos, para se sentir superior, mesmo que sejam filhos desse Deus cretino, onde Seus filhos são o Demônio na Terra, pregando em Seu Santo Nome. Imagina!
Bustela falou que eu adoro prostituta. Uma percepção estranha.
Dia desses um advogado que ele recomendou, para ver a questão do sítio de Dona Thderezinha que a Construtora Capital grilou no Cartório do Luquita, encontrou com Dona Themis no escritório de Direito, onde ela trabalha e conversando, ele falou que eu nem voltei.
- Mas o perfil que me disseram dele, é que ele é um cara com três faculdades...
E daí? Não entendi. Talvez por isso não tenha gostado da solução dele. Ele mesmo me disse que retiraram das minhas contas bancárias, mais de R$ 11mil, a tal Construtora Capital, para pagar os Serviços Advocatícios. A solução dele, era eu pagar mais R$ 3mil para me entregarem o apartamento pela metade que era contratual, já caído, ainda iria ter de pagar os serviços advocatícios do advogado que servia à empresa e parece que está desempregado, depois pagaria os servilos dele, depois entraríamos com uma ação, contra o condomínio, depois... Ora porra, além de ser roubado de todo jeito, ainda vou pagar mais para os bandidos? Nem morto. O tal advogado da Capital é amigo da família, Dona Therezinha é colega da esposa dele e agora, descobri que aquela garotinha bonitinha dos tempos de Campus Universitário, lourinha, de olhos azuis, educadíssima, é filha dele, não deve ter puxado o cretino de maneira alguma, mas por mim, quero mais que ele se foda, se possível, todo torto, todo lascado. Agora, a vítima é que tem de pagar mais para os bandidos? Não volto mesmo. Só quem é leso.
Como disse um dia desses, quando estava fechando negócios com um advogado, que dizem ser um dos bons no estado, não entendo nada de Direito, mas entendo de outros saberes, de outras coisas da vida. Tem coisa que mesmo que queiram me enganar, não tem jeito. É ilógico. E essa solução desse advogado, é uma dessas. Acho que deve trabalhar para a empreiteira, a solução mais graciosa, mas para o outro lado. Até o CNJ deu ganho de causa para nós, mas diz que não pode fazer nada, porque o desembargador em questão, que deu ganho de causa para a Capital, está morto. Mas para mim, a questão ainda está viva. Eles continuam ganhando dinheiro com aquilo, ou seja, ainda está em aberto.
Na negociação, dei um preço, o advogado achou bem salgado, “não era bem o que eu estava em mente...” mas acabou aceitando. Uma questão de lógica. Se fosse fora da realidade, colocaria muitos empecilhos, mas sabe que vai ganhar muito, mesmo com o preço dado e mesmo assim, se largar, tem quem queira, como dizia minha amiga da ginástica, que a minha ex-namorada não gostava dela. Mas no caso dela, eu ficava muito grosso. Coisa mais chata. Qualquer coisa: “tem quem queira!” Dia desses, até estava lembrando de quando apareceu um amigo nosso na ginástica e a chamava para conversar no estacionamento. Ela jurava que não tinha nada com ele, o pessoal da ginástica, dizia que tinha e queria que eu tomasse uma decisão. Mas pensei, ele era cliente da minha namorada, o pessoal, depois fiquei sabendo, dizia tudo o que acontecia na academia para a minha namorada, até o que eu nem fazia, de certa maneira, era um teatrinho, para ver o que eu faria. Ainda bem que nunca fiz nada. Eu tinha namorada, ele tinha esposa, ela tinha noivo. Eu é que vou dar show? Ela dizia que não era o que pensavam, quem sou eu que vou atirar a primeira pedra. “Comeu?” “Não!” Era mais ou menos, uma maneira dele se afirmar como homem. Acabou sendo deixado pela esposa, depois de ter tido filha e feito a maior festa para comemorar. Minha namorada foi, todos esperavam a presença da minha amiga, ela nem foi. Fiquei o tempo todo na piscina, o pessoal no salão de festas, outra amiga veio para a piscina, só nós dois, ela quis fazer topless, estava preocupado da minha namorada chegar, ver a situação da minha sunga e pensar bobagem. O jeito foi ficar de molho, até passar, ou melhor, amolecer a linguiça. Hoje, também era um teste. Se eu avanço, ela grita e olha a confusão. Aquelas irmãs evangélicas que arrepiavam até com vento a estibordo, quando na sauna que eu estava de sunga cheia, de repente minha namorada chegou e o pessoal foi me chamar, pois ela queria falar comigo. Também deve ter sido a maior armação. Eu e a evangélica, “conversando”, minha namorada chegou de repente? O problema foi sair da sauna, com a sunga em estado crítico. Fui tomar um banho, dei um tempo, até poder sair para falar com a namorada. Era uma fofoca, era tanta gente dedurando. E quem eu nem pensava. Quando descobri, fiz uma caricatura da fofoqueira e deixei no quadro de avisos. Foram os melhores dias da minha vida, pois ela deixou de falar comigo, por um tempo e como não podia ficar por perto, não podia falar nada. O outro amigo de academia que a mulher contratava até detetive, dizia que só havia uma solução para calar a boca daquela menina. “Tu tem de comer!” Não era bem o meu tipo. Mas depois de anos que nos separamos, essa dita cuja veio apresentar a filha dela.
- Quase tua filha!
- Égua! Eu nunca te comi!
- Mas podia ter sido o pai da minha filha.
Imagina! O cara estava certo. Mulher muito cheia de conselhos para a outra, quer morder o cara da outra. Mas é verdade. E a amiga da Simone Bundinha, já havia me alertado, quando eu nem pensava que estava sendo vigiado. A Katlen que o namorado dela ficou com ciúmes, porque nós caminhávamos juntos. Fui caminhando com ela, até o INPA e o chamei. Estava um engarrafamento danado.
- Hey gaúcho, está vendo esse engarrafamento? Dá pra comer alguém na rua? Deixa de leseira, com ciuminhos! Nós só queremos caminhar.
De repente ele deixou de leseira. Mesmo porque as más línguas diziam que ela era do meu amigo e a minha, era a Simone. Pessoal linguarudo.
É como eu digo, em questão de gostar de prostituta. Não, eu gosto de mulher. O problema é que muita gente, antes de ver a pessoa, primeiro olha a cor, a classe social, a escolaridade, a profissão... Eu não tenho nada disso. Deu vontade, houve empatia, aquiescência das partes, dá para dar, é o que importa. Não interessa se é doutora, empregada doméstica, rica, pobre, preta, branca, azul, puta, ou moça de família. A minha questão é buceta e cu. Teve, está afim, está resolvida a questão.
Sempre digo que quem foi patrão da Luzia Brunet que talvez tenha tido vontade de dar uma pirocada, mas pelo fato de ser empregada doméstica achou por bem, não sujar o pedigree, como aprendi com a minha ex-namorada que tinha cachorros de raça, o pedigree é uma dessas certidões maiores do que as nossas, com uma árvore genealógica maior do que dos humanos e cachorro de raça se cruza com outro de outra raça, acaba com todo o pedigree, inclusive o dele, o patrão dela, depois que virou modelo em conceituada, deve ter se arrependido amargamente. E ainda tem muita gente que ainda pensa que é cachorro de raça. Só transa com quem tenha o mesmo pedigree, seja da mesma raça, da mesma classe social, da mesma cor, dos mesmos princípios. Acaba se fodendo, mas no mal sentido. Quando gosto de uma mulher, às vezes são prostitutas, mas tem cu e tem buceta como qualquer mulher e às vezes, é até mais mulher do que essas mulherezinhas.
Eu sempre falo que uma Fulana, fez de tudo para chamar a minha atenção. Quando conseguiu, antes que fossemos ao motel, antes que fossemos colocar as bolas na caçapa, fez com que eu fosse fazer um teste de soropositividade. Falei para ela fazer o mesmo. Só transaria comigo se eu comprovasse que não tinha AIDS. Ótimo. É sempre bom, saber o que podemos, ou não, ter contraído, em termo de saúde. Pedi à Ana Cira, mulher do Mucura, para ela me passar um teste de HIV, ela que é dermatologista, perguntou por que, eu falei do que se tratava, ela fez cara feia. Saiu o resultado, deu negativo, ela, da parte dela não fez nada, não foi ver se era soropositiva, mas mesmo assim, fomos fazer nhenhém. Tudo bem, ela se acha acima da média, cheia de muito dedo, só sei que a única DST que peguei, foi gonorreia, primeira e única, tratei, estou curado. Ela, com tanto medo de ser contagiada, com tantas firulas, pegou uma DST e não foi de mim. Muito santa! Como dizia o primo de Piroka, o pau mole, ou melhor, o Pall Mall.
- Porra, sempre transava com puta, no dia que peguei uma moça de família, fui transar com ela, peguei gonorreia.
É que muitas profissionais do sexo, por se cuidarem, sabem como não entrar numa barca furada dessas. Já as meninas tratadas a pão de ló, pensam que podem foder que estão salvas, mesmo sem preservativo.
Quando era adolescente, Seu Clovis adquiriu uns livros sobre sexo, traduzidos, ingleses, americanos, as fotos dos peitões, eram melhores do que revista masculina. Dissertavam sobre gravidez indesejada e doenças venéreas, encima das culturas vigentes desses povos. Fui lê-los e me assustei com as tolices. Uma pensava que não ficaria grávida, porque transava em pé. A outra, porque só “dava” na banheira, ou na piscina. Meninas de famílias que tinham o sexo, como algo como um conto de fadas, ou um outro mundo. Em pleno Século XX, eu que ainda era adolescente já sabia que as coisas eram outras, mesmo antes de usar camisinha, já tirava para gozar fora, o que a Bíblia diz que é pecado, também, aquelas garotas ainda tinham aquelas ilusões macabras, de se foder. E talvez, até hoje, muita menina de família, por não ser aconselhada devidamente, por verem familiares, religiosos, professores e outros idiotas em volta, tratarem sexo como coisa que se deve evitar, mas quando ataca a vontade, é físico, é animal, é necessidade orgânica e biológica, é difícil de não se agarrar, ainda pense igual, que se possa fazer sexo, desde que no chuveiro, evita-se tanto filho, quanto doenças, essas tolices, e é mais fácil se ser contagiado por uma filha da puta dessas que ainda acredita no Salvador, que acredita que rezando pode-se fazer tudo o que é sacanagem que estarão salvas, do que por uma puta que vive a realidade da vida. Sabe que sexo pode ser a coisa mais divina do mundo, como também o maior Inferno, depende de como se previne e como se o trata. A melhor reza de todos, é aprender a lidar com o próprio corpo. As doenças, as consequências, mas ainda ensinam a pessoas a orarem. Ora vai tomar...
É CHIFRE
Depois da festa, Bustela e Piroka foram cortar o cabelo e como tiveram de passar antes no TJ, foi melhor me deixar logo. Queriam que eu os acompanhasse, ainda bem que não deu.
Fauze queria ver meus desenhos. Estava tudo, inclusive as tintas e o material, na bolsa que eu preparei, caso voltasse para casa, antes de ir ao almoço, enviei por Bustela, para ele, o álbum mais novo, até a próxima quinta-feira.
Cheguei em casa, a dor de cabeça foi piorando. Tomei tudo o que é remédio para estômago, fígado, o caralho a quatro, de novo me lembrei da menina com quem dei umazinha, muito ruim, pois nem dei muita atenção a ela, nem tive a consideração de ligar depois, por causa daquela dor de cabeça filha de uma puta.
Depois, em casa, só deu para comer uma salada que estava uma delícia e fui para o meu quarto. Estava lancinante pois a dor de cabeça piorou. Tomei um remédio para dor de cabeça e fui ler. Acabei dormindo, mas no outro dia estava bem.
Um dia que começou meio chateado, subi aos Céus, e Céu Árabe, só não tinhas as 45 virgens, mas muitas senhoras fora do prazo de validade, com os cabelos pintados artificialmente, mas no fim, a coisa foi bem real, desci ao Inferno.
Graças a Deus, não vomitei, como o fiz na frente da garota, senão iria ficar muito, mas muito puto de já ter sido educado e só ter colocado um pastel no prato e depois de tudo, ainda jogar toda aquela joia fora, seria o cúmulo da sacanagem.
Bem, estou comendo menos e comida menos problemática. No sábado fui à Feira da Banana, depois da Manaus Moderna e tinha uma garota, com uma camisa de cetim, seda, nunca sei a diferença entre uma e outra, meu corpo não se adapta a nenhum desses tecidos, uma bermuda também verde, bem comportada, mas bem sensual, um colar dourado no pescoço, grande, mas delicado, realmente fiquei a fim. Uma bundinha linda de se ver, imaginei como seria arregaçar aquilo e fazer fonfom, umas coxas malhadas, uma perna bonita, o andar de sapatão. Mas eu tenho atração por sapatão também. Não tenho por travesti. É engraçado isso. Fiquei encarando, ela passava baixava a vista, mas quem sabe... Estou solteiro mesmo. Um dia talvez... E nem seja tão sapatão assim. Ou nem seja...

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OBSERVADORES DE PLANTÃO