Sexta-feira passada foi um dia atípico, ou apenas outro dia.
Pensei que fossemos à
Manaus Moderna, não, Dona Therezinha que havia combinado no dia anterior,
acordou e pensou em irmos ao supermercado. Já falei diversas vezes para ela
planejar as coisas, ela diz que sempre trabalhou com planejamento, visto que é
assistente social aposentada e tinha de entregar estudos para novos bairros,
novas vias etc., mas não parece. Ou como disse à ela, ela faz de propósito.
Quando entramos no carro, aí é que ela disse o que queria de verdade.
- Vamos ao
supermercado, depois passamos no banco, depois vamos comprar remédios.
Tudo lindo se não
fossemos de táxi. Imagina fazer compras, deixar o táxi, depois ir ao banco, pegar
outro táxi, dispensar, com sacolas por todos os lados, depois pegar mais um
táxi, parar na drogaria, cheio de saco e com coisas que precisam de
refrigeração. É de lascar. Até no supermercado, já disse à ela, para pegar
primeiro as coisas que não estão no refrigerador, depois comprar o resto, yogurt, queijo, presunto, carnes,
aves... Não tem jeito. É do jeito dela e não adianta falar o contrário, que vem
aquele jeito bem cristão de se fazer de coitado e sempre é pelo bem da
humanidade. Na Manaus Moderna, a mesma coisa. Começa pelos peixes, depois é que
vai comprar o resto. Deus me livre! Sempre é do mais improvável, ao mais
provável. Dá para fazer, mas de uma maneira que se faça primeiro o básico e
depois, sim, vá se fazer compras. É muito mais fácil, mas ela só diz no meio do
caminho.
- Mas é que eu aprendi
assim e não vai ser agora que vão querer me mudar!
Ela acabou nem indo ao
banco, nem à farmácia. Era tão fácil, primeiro banco, depois farmácia, depois
supermercado, mas ela só decide no caminho.
Como depois do
supermercado iria sair, preparei tudo para quando voltasse, iria tomar um
banho, trocar de roupa, pegar minha bolsa com o material de desenho e o novo álbum
que ainda estou “construindo”, para nem perder tempo. Não adiantou, ela
decidiu, no caminho, depois do supermercado, deixar-me logo na casa do Piroka e
ir sozinha para casa. Para eu não me zangar nem ser visto com vilão, muitas
vezes é melhor nem argumentar. O problema é que estamos sem empregada, desde
que a Suelem foi defenestrada, ela ia cheia de sacolas de supermercado, mesmo
porque, quando decidi levar tudo em caixas, quase apanhei, porque estava
faltando sacola para a lixeira da cozinha, comprei outra sacola para trazer as
compras, mas não adianta se não trouxer as sacolas plásticas, tem briga. Aprenderam
a usar sacolas plásticas, não adianta dizer que fazem mal ao meio-ambiente, a “avó
delas ensinou assim...” Quem tira as sacolas do táxi, sou eu e agora, sem ajuda.
Só queria saber como se viraram. Depois fica todo mundo doente, de fazer
esforços além do que podem. Falei ao taxista que o grande problema no Brasil é a
falta de planejamento, ele concordou.
- As pessoas acham
lindo fazer tudo por impetuosidade!
Dia desses saímos do
banco, tantas agências, mas ela tem de ir naquela mesma só para retirar
dinheiro, mais longe e a mais assaltada. Era como antigamente, diziam que eu,
sendo economista e administrador, não a ajudava nas questões financeiras da
casa. Quem é de longe, não conhece Dona Therezinha. E adianta? Quando peguei o
contrato, coloquei no Excell, peguei os índices de todos os anos, fiz os
cálculos, nem precisava, pois de olhômetro estava visível, há 3 anos não havia
reajuste. Quem determinava os valores, eram os outros. Mas muito discurso ela
adora, acredita que advogado entende de números, agora que negociamos o
pagamento dos atrasados, sentamos todos os lados para discutir, aliás, a tabela
foi tão bem feita que nem tinha como discutir, foi acordado o pagamento
retroativo, sem choro, mas agora, querem que seja tudo de uma vez, está
demorando, tem de ser de uma vez. A reclamação de quem se deixou ser enganada,
agora que está tudo dentro dos padres, quer que as coisas sejam céleres. Parece
de propósito.
É como quando vamos ao
banco, para tirar dinheiro, ou apenas o estrato, não pode ser no caixa
eletrônico. Ela tem que ficar na fila. Não adianta dizer que ela é cliente
especial que ela só quer ficar na Preferencial. Não adianta dizer que ela pode
usar o cartão de crédito, ou o cartão de débito que ela quer pagar tudo em
espécie. Pqp! Dia desses saímos do banco, ela decidiu pegar um táxi, pensei que
fossemos ao supermercado, era para ir à casa da Dona Graci. Falei que podíamos
ir à pé, era logo ali.
- Não, é muito longe.
Tudo bem. Pegamos o
táxi, o taxímetro já começa em R$ 3,20 acho eu. Deu R$ 3,80. Foi só fazer a
curva e descer uma pequena ladeira. O mais difícil, foi encontrar moedas e
dinheiro trocado para pagar o taxista que também estava sem troco. Dona Graci
não estava em casa, ela nem ligou antes para saber e era para entregar a merda
de uma corrente de uma santa filha de uma puta que Dona Themis inventa e larga
o pepino na mão dos outros. E Dona Therezinha ainda entra nessas barcas
furadas. Agora, Dona Graci ligou, pois faltam as santas para ela continuar a
corrente. Lá mandou comprar essas bostas numa dessas casas de cristãos
malandros, como a Livraria Paulinas que ganham dinheiro fácil dos lesos, com
essas papagaiadas. Na volta, liguei a uma empresa de táxi para pedir um, para irmos
ao supermercado, ela queria subir a ladeira. Na vinda, é fácil, pois é descida,
ela pegou o táxi, na ida que a ladeira é íngreme, ela queria esperar lá encima,
no sol, em pé, dando sopa até para ser assaltada. E eu é que sou o escroto.
Bem, então fiquei na
casa de Dona do Carmo, mãe de Pioka, para esperarmos Bustela nos buscar para
irmos à casa da mãe dele.
MOMENTOS DE CONVERSA
Já falei que esperar
tanto minha irmã advogada, quanto o Bustela que também é advogado, é um
exercício de paciência. Quando eles marcam meio-dia, até as 15:00h, eles estão
chegando. E não adianta apressar, pois parece que aí vem o stress. É muito stress, é
muita falta de tempo, é... Uma vez, Dona Themis viajou e me pediu para levar
minha sobrinha, para as aulas. Eu não sabia onde era a aula particular que hoje
é chamada de reforço. Tudo bem, pedi à minha sobrinha para me ensinar o caminho.
Dei tantas voltas, peguei tanto engarrafamento... Era uma coisa rápida. É o
problema do stress. Falta de
planejamento. O que levava quase uma hora, de repente levei menos de 15
minutos.
- Mas a mamãe sempre faz
aquele caminho!
- Problema da tua mãe.
É que o pessoal acha
bonito pegar só caminho cheio de problemas. Já disse que religioso que não se
mostrar como sofredor, não vai para o Céu.
Minha sobrinha foi
reclamar que eu corro demais. E olha que eu só chegava a 80km/h no máximo. Ela
queria que eu fizesse o mesmo caminho da mãe dela. Mas nem morto. O trato foi
eu levá-la à aula, não que eu suasse as nádegas no banco do carro, em caminhos
escrotos.
Um tempo desses, fomos
à Açutuba, do outro lado de Manaus, a Acácia que também estudou no Colégio
Auxiliadora, fez o mesmo caminho que Dona Themis adora. A Avenida André Araújo.
Mas eu evito, até aos domingos, pois é sempre complicada. Quando recolheram meu
carro e tive de buscá-lo no fim do mundo, dei o carro para Dona Therezinha
dirigir e fui entregar o carro de Dona Themis que trabalhava na André Araújo.
Falei para Dona Therezinha ir na frente, quando vi, ficou, parou, não sabia o
que era, nem podia parar, tive de continuar. Depois é que ela chegou, um ônibus
bateu-a, na curva. Pooooooooorra!
Era para irmos às 9
horas, para a Ponte que Partiu de Manaus para Iranduba, ela me pegou depois do
meio-dia, pegou a dita via para buscar filho,k sobrinha, papagaio, periquito, stressou de toda maneira, justamente
porque a via estava tumultuada. Mas isso eu já sei, desde anteontem. Cortava a
frente dos outros carros, entrava na preferência dos outros e ainda dizia:
- Meu professor foi o
Thevis!
Primeiro não lembro,
mas ela insiste em dizer que eu fui o professor de direção dela. Mas então
deixei de ensinar que direção não é brincadeira. Quanto mais se quer ser
esperto, quanto mais não se respeitam as regras, mais difícil de andar. E uma
coisa que me ensinaram na autoescola, é fazer o melhor caminho, possível, antes
de entrar no carro. Não adianta ser o caminho mais curto, se no caminho tem
engarrafamento, tem buracos, tem todo tipo de empecilhos. Já naquele tempo,
eles ensinavam a economizar combustível. Quanto mais o caminho for livre, mesmo
que seja mais distante, muito melhor. Mas o pessoal tem mania de querer pensar,
no meio do caminho, até para onde quer ir. E justamente, quando todo mundo
parece que quer se salvar sozinho do dilúvio. Eu sempre pego a faixa da direita,
coisa que em Manaus, ou melhor, de Niterói à Rio Branco parece que os
motoristas têm problema no ouvido esquerdo, e quando mudo de faixa, primeiro
dou a seta, depois, só troco de raia, quando percebo que dá, olhos por todos os
retrovisores, inclusive o direito, nunca entro na minha velocidade, mas na
velocidade que dê para não atrapalhar a velocidade dos outros. Mas em Manaus,
primeiro que não se dá seta, por esperteza, e pior, quem está na preferência
vem em quinta marcha, digamos a uns 100km/h, o filho da puta metido a ser
único, entra, não acelera, vai a 30km/h, o outro que está na preferencial que
se dane, freie, jogue para outro lado, dê o seu jeito. Isso, tenho certeza que
não ensinei à ela, mas de maneira alguma. Não foi assim que eu aprendi. Isso é
coisa de quem tirou a CNH, na base da esperteza. E privilégio é uma coisa que
eu não suporto. Meu primo Benjamin, quando dirige em Manaus, tem mania de “costurar
todo mundo”, mas como tirou a CNH no Colégio Militar, ou seja, na base da
esperteza da Ditadura, sem fazer o Psicotécnico, a Legislação e Máquinas, ele
coloca a culpa nos outros.
- Roda presa!
E acha que sabe dirigir
mais do que quem fez todos os exames. Mas isso, também é uma cultura nacional
que só atrasa nosso progresso. A culpa é sempre dos outros. Ninguém assume sua
parte de erro.
Mas saltei do táxi, na
casa da Dona do Carmo, começou uma pequena dor de cabeça. Lembrei daquela
garota linda de rosto e de corpo que fomos para o motel e só deu para dar uma.
Quando gozamos, corri ao banheiro, para jogar fora, toda a língua que havia
almoçado. Ficou um cheiro de podre e ela me acompanhando. Uma pessoa com quem
compartilhar muitos momentos, mas até hoje, não sei onde a deixei, não sei se ela
deixou o número de telefone para nos comunicarmos, não me lembro de mais nada,
depois de vomitar e ficar com uma dor de cabeça dos Diabos.
Dona do Carmo e eu conversamos
um bom tempo e ela me dizendo do filho dela que eu já conheço. Mas não me
conformo como uma pessoa pode ser tão pessimista. Digamos assim, eu não sou tão
otimista, quanto os idiotas pensam ser o otimismo, mas do jeito de Piroka, Deus
me livre. O mundo parece que só quer fazer o mal a ele. Desde o tempo do
colégio, ele sempre foi assim, mas ficou pior. Nem tenta, porque já sabe que
vai sempre ter algo contra ele.
Já falei que quando
tivemos de fazer uma planta de uma casa para entregar ao Professor Isidoro
Barbosa, o Espírita, em pouco tempo, no Terceiro Ano do colégio, falei para
irmos ao colégio de manhã para adiantar tudo, depois iríamos ao Hotel, tomaríamos
banho, almoçaríamos, depois voltaríamos para as aulas normais e entregaríamos o
projeto. No prazo.
Tudo bem, tudo legal, antes
da hora de irmos ao colégio, pegamos um apartamento, fui o primeiro a tomar
banho, ele ficou esperando. Na vez dele, ele não queria entrar no banheiro.
- A mulher está
olhando!
Era a arrumadeira que
está acostumada com isso, nem liga. Ela estava entrgando a toalha, queria saber
se estava faltando alguma coisa. Do lado de fora da porta, nem olhou à
preciosidade.
Depois fomos almoçar.
Pedi dois escalopes de carne, misto, com queijo, presunto, tudo o que tínhamos
direito, arroz branco, batatas fritas, legumes, comi tudo e ele só comeu uma
fatia. Perguntei se ele não havia gostado, queria outra coisa.
- Não. Tem muita gente
olhando.
Ai meu Deus! Foda-se!
Vou já ficar com fome, por causa dos outros. Só lembro uma vez em que estava na
rua, na hora do almoço, no Rio e no meio do shopping,
encontrei um “Almoço Executivo” de comida oriental. Em Manaus, Executivo que eu
conhecia, era motel na hora do almoço, onde os diretores levam as secretárias e
de vez em quando, não tem vaga, das 11:00h às 14:00h. Não que as horas sejam
longas, só 1, mas é tanta frequência que faltam vagas. Mas no restaurante,
havia cadeiras e podia-se comer no balcão. Eu sou e estava sozinho, fiquei no
balcão. Gosto muito de watabe, aquela pasta que se coloca, justamente para
prevenir qualquer problema com vírus, com comida apodrecida. Dia desses falei à
nora de um amigo meu, do tempo de Exatas que colocou tudo o que era comida
crua, no restaurante do japonês velho que a Acácia tem vontade de dar umazinha
com o senhor, mas não tem coragem de dizer toma, a garota colocou de tudo no
prato, menos o watabe. Falei para o que servia.
- Ah, mas eu não gosto.
A outra mulher que
estava se servindo, agradeceu, pois não sabia para o que servia aquilo. Tudo
bem. Ela prefere ficar doente do que evitar com uma pasta que tem gosto de
menta. Como diria o Amazonino Mendes.
- Então morra!
No Executivo Oriental
no Rio, lasquei o watabe no prato, quando comi o primeiro pedaço, voltou aquele
frio no nariz. Dei um “upa!”, todo mundo olhou, mas logo se esquece. Nós não
vamos viver para sempre mesmo. Um dia tudo passa e se não passar com
facilidade, tem KY e até um cuspe, passa até a goela. Nem precisei ficar com
vergonha. Entrou uma gostosona, com blazer, saia, pasta de couro na mão, devia
ser advogada, sentou-se do outro lado do balcão, quando vi, todo mundo se virou
para ela. Fez a mesma coisa que eu, anteriormente. Acho que o watabe estava
muito forte. Mas pelo menos, salvamo-nos de qualquer infecção, por não gostar
de coisa que é feita para prevenir doença.
Mas Piroka tem medo de
viver. Duvido se ele comeria sozinho, em um restaurante, ou se fosse a um
teatro, a um cinema, sozinho. O problema sempre, é o que os outros vão pensar.
Fodam-se! Eles não sabem o que eu estou pensando deles. Então nem quero saber o
que eles estão pensando de mim.
Já disse que alguns
profissionais da mente, dizem que tem gente que tem pavor de que as coisas deem
certo, e sejam felizes. Piroka é desses. Pode dar certo, então é melhor nem
tentar, pois é cristão e se não viver chorando, não tem lugar no Paraíso. Égua!
Se não me engano, fiz
vestibular para Administração, para dar uma força a ele que havia deixado
Estatística no fim, já devia estar se formando, visto que entrou ao mesmo tempo
no vestibular, mas como não serviu o Exército, teve muito mais tempo do que eu que
ainda tive de enfrentar problemas na Física, por falta de estar dentro do
período próprio. Não sei como! Ele queria um curso diferente. Era preciso
acordar mais cedo, ir buscá-lo em casa, senão ele não iria fazer as provas,
deixá-lo no colégio em que estava inscrito e ir para o meu colégio. Numa dessas
madrugadas, quando íamos saindo, pois vestibular antigamente, era uma semana
inteira, Dona do Carmo deu a maior força a ele. Incrível.
- O Thevão eu tenho
certeza que passa, mas o Piroka...
Imagina o cara já ser
pessimista, com um estímulo desses. Realmente eu passei, mas como o PT estava na
Reitoria, inventou que quem fazia um curso, não podia acumular estudos. Tive de
decidir entre Economia que fui reprovado no final, só faltava PPE, ou
Administração, o que iria começar. Lógico, larguei Administração, acabei o
Curso de Economia, o jeito foi fazer novo vestibular no outro ano, onde a
Acácia era o primeiro nome na lista dos aprovados. Como eu disse, quando fui
reprovado para Economia, quando zerei na Redação, com tanta gente pentelhando,
quando eu queria saber o nome do filho da puta do Humberto de Alencar Castelo
Branco e deu branco. Veio tudo, Alberto, Roberto, Agberto, menos Humberto.
Minha irmã mais nova gritando do lado de fora do muro, meu nome, para irmos
embora e o Paraná falando para eu entregar a prova, pois era o último na sala e
ele estava com fome, estava com tudo na cabeça, só não saiu o nome daquela
bicha ditadora. O único vestibular em que não passei. Entreguei a prova pela
metade. Eu hein!
Uma vez no Campus, no tempo em que em período de
provas, não havia aula, e foi por isso que esqueci uma prova na Economia,
justamente de Direito, o professor era um amigo de Seu Clovis. Direito e amigo
de Seu Clovis, oh homenzinho de Direita, esqueci que tinha prova naquele dia e
nem fui à Faculdade. Dona Themis é que gostava, gostava daquele leso. Quando o
período voltou normal, falei que iria entrar com um processo para fazer a prova
de segunda chamada, ele que nem me conhecia, veio me dizer que eu faltara à
prova, para assistir o jogo do Flamengo no televisor. Serei leso? Na Economia,
Eram três provas durante todo o período, para se tirar a média.
- Eu não faço segunda
chamada. Não tem quem me force!
Tinha sim. Era
regimental da Universidade e eu era do Conselho Universitário da reitoria.
Tudo bem. Na segunda
prova, entrei na Biblioteca, dona Therezinha, mãe da Tárcia que era a Bibliotecária
Chefe e dizia que eu só ia à biblioteca para fazer barulho, até se assustou de
como eu estava calmo. Peguei tudo o que era livro de Direito, fiz um cola com
duas folhas de papel ofício, frente e costas, dobrei, fiz uma sanfona, coloquei
no bolso, o professor ia ver o que era bom para a tosse. Quando começou a
prova, todas as perguntas pareciam combinadas. Sabia tudo. E acho que fui o, ou
um dos primeiros a entregar. Nem precisei da cola. Acho que tirei 10,0 e 10,0.
Ou seja, a nota de corte, como se dizia, era 5, fiquei com 6,7, zero na
primeira, 10,0 nas outras duas, estava passado. Mas havia uma coisa a mais,
acho que era maior pontuação da prova final, acabei com 7, muita coisa. Nem
precisei pedir favor àquele abestado. Dona Therezinha fala sempre com a filha
dele no supermercado. O filho é um boçal, deve ter puxado ao pai.
Mas eu e Piroka éramos da
Exatas e numa dessas provas, acho que a última do período, ele precisava de
0,5. Só 0,5. Ou seja, até na Exatas, era nada. Uma confusão danada, ele não
queria entrar na sala de aula, achava que seria reprovado. Levei-o até o bloco
da Exatas e falei:
- Meu irmão, tenta. Tu
já tens zero, precisas de 0,5, às vezes, só em assinar a prova, o professor dá
até mais do que tu precisas. Não vais perder nada. Nem tempo, pois é a hora de
que tu tens para estudar.
Coloquei-o na sala e
fui para a minha prova. Eu precisava de muito mais e se não me engano, era
Física III. Quando saí, ele já havia ido embora. Nem assinar a prova, o fez. Entrou,
antes do professor chegar, levantou e puxou o carro. É um medo de tentar, que
eu não entendo. Só existem 3 respostas para tudo. SIM, NÃO e TALVEZ. Mesmo assim,
não vai tirar o pedaço de ninguém se não for a resposta esperada. Até para
namorar, a resposta só podem ser essas. Às vezes um VAI TOMAR NO CU, mas já
mostra que a porcaria não era aquilo tudo que se pensava. Mas ele já pensa que
a resposta para ele, vai ser sempre contrária aos seus desejos. O mundo só
pensa em dizer NÃO a ele. Mesmo se me disserem não, sempre lembro da outra
menina que dei carona, depois de uma dessas óperas, no Teatro Amazonas.
Primeiro foi uma dificuldade fazê-la pegar carona, tive de dar volta e voltas,
até convencê-la, já tarde da noite, ela na parada de ônibus na Getúlio Vargas,
sozinha. Depois, fomos direto para a casa dela, no Vieiralves, quando chegou,
pedi pelo menos um beijo. Poxa, nem mão na coxa, nem carícias, nada, era a
maior dureza, mas o beijo ela aceitou. Pronto, o que eu achava que estava
perdido, não haveria uma pimbadinha de maneira alguma, ela falou para ir. Nem
entendi. “Vai!” Fui. Acabamos no motel. Uma noite além da conta. A ópera do
Teatro e uma ópera particular no motel. Uma com música, outra com gemidos.
Muito bom! Se eu jogasse tudo fora, por um primeiro fora. Muitos amigos, têm
mania de desistir no primeiro fora. Eu sempre deixo a dúvida no ar. De vez em
quando, quem se fez de valente, é quem telefona, para me convidar para fazermos
brincadeirinhas. É só não fechar a porta, pois enquanto há vida, pode ter
solução para todos os problemas.
Tomar decisão, também
não é com ele. É sempre: “Deixa pra depois!” “Pra depois!” “Depois!” Parece até
eco. Não sai nunca. Seu Clovis dizia que eu era preguiçoso, pois quando tenho
de fazer alguma coisa, faço antes, não espero para depois e ele dizia que isso
é o maior exemplo de quem é preguiçoso ao extremo.
Mas como disse à Dona
Therezinha ontem, parece que é coisa de homem, homem atrasado. Quando se
acostuma com uma coisa, não muda, nem deixa que o façam. Era assim o Seu
Clovis, era assim o pai do Piroka, assistindo SuperNannny, com aquela gordinha
inglesa de rosto lindo, um desses maridos além de não colaborar, fez de tudo
para boicotar o que estava sendo tentado. Dizem que mulher, quando se acostuma
a trepar com o mesmo cara, não muda de posição, peguei uma dessas que só queria
cachorrinho, e/ou papai-e-mamãe, nunca trepou no meu colo, na posição da mulher
por cima, como minha amiga dizia que era a minha posição favorita, tanto que me
presenteou com dois porquinhos, nessa pose, mas homem, fora da cama, é
repetitivo, tem medo de mudanças, mas do que mulher na hora do sexo. Foi assim
no meu relacionamento, com uma das minhas ex-namoradas. Estava morto há
bastante tempo, mas eu já havia me acostumado, ia levando, até pegar um pé nas
nádegas. Talvez por ter chegado à conclusão
de que eu não queria casar, ela sim, ela queria um Príncipe Encantado e além de
ser comunista, nem em fada madrinha eu acreditava, mas ela pedia para ficarmos
juntos, não se importaria. Fui levando. Quando ela chegou à essa mesma conclusão,
nem deu chance de conversarmos a respeito, nem teve com argumentar que havia
mudado, era um homem fiel, ela estava decidida e pronto. Fiquei chupando o
dedo.
Ainda bem que foi a
primeira e espero, a última vez em que me abestalhei para essas coisas. Todos
dizem que o companheiro que se sente traído, ou pede para manter uma relação já
acabada, é porque vai dar um troco, bastante escroto. E eu nem me toquei. Pode
até ser coincidência, mas aconteceu comigo.
Mas Bustela que ia nos
buscar ao meio-dia, extrapolou. O que era para ser meio-dia, deu 12:15h,
12:30h, nada. Pedi ao Piroka ligar ao Bustela, para saber se ele viria hoje, ou
havia se esquecido de nós.
- Mas Thevão, tu és
muito impaciente. Espera!
Dona do Carmo tem essa
ideia de mim. Nem é tanto. Tem coisa que eu espero, mas tem coisa que passa dos
limites e se ficar esperando, nada vai para frente.
Acho que chegou mais ou
menos às 13:00h. E era um almoço na casa da Dona Brunilde, mãe dele.
- É comida árabe!
Mas eu gosto de comida
árabe, de comida japonesa, de comida francesa, de comida africana, de... Até
Comida Coreana. Quando levei o pé na bunda, voltei a ir aos lugares, sozinho.
Fui jantar um desses dias, no Restaurante Koreana. Não conhecia nada, o pessoal
não falava nada em português, quando depois de muito tempo, veio um rapaz que
dava para entender alguma coisa. Ele indicou uns pratos, eu pedi outros, ele
disse que iria mandar colocar pouca raiz forte, pouca pimenta, pois eu não iria
gostar do jeito deles. Tudo bem. Nunca suei tanto, comendo qualquer coisa. Era
uma comida tão ardida, a salada, o peixe, tudo cheio de pimenta. Tomei uma
Fanta Litro, sozinho. Suava com se estivesse fazendo sexo no fogareiro da
família, com a filha do bandido sanguinolento e ciumento da filha. Ainda bem
que depois que acabei de jantar, quase na hora de ir embora, chegou um
brasileiro e um desses descendentes de oriental. Eles também não conheciam e me
perguntaram o que pedir. Ora bolas. As comidas mais condimentadas. Eles
pediram. Fui embora, mas tenho certeza que se eles têm hemorroidas, o outro dia
foi cruel. Das outras vezes em que voltei, até com a Aline, já sabiam falar
português e a comida era mais palatável. Dava para sentir o gosto.
São três prazeres que
eu gosto muito. Comer! Sentado, deitado, em pé, na cozinha, na pia, na
banheira, no quarto, no jardim, até no carro. Comer é muito bom! Pena que essas
religiões messiânicas tenham essa prática meio boneca, onde veem o comer em
todas as posições, como pecado. É pecado comer à mesa, é pecado comer na cama,
tudo é pecado. Mas tem graça! Pecado é Deus ser Todo Poderoso, o Alfa e o Ômega
e fazer um mundo imperfeito. Ele que vá ser penalizado, por ser burro. Não dá
uma dentro. Fez o Paraíso, fechou, expulsou Adão e Eva, seu filho primogênito e
dileto. Deu poderes a Moisés, Noé, até a Cristo que era Messias, depois virou a
terça parte de Deus e mesmo assim se lascou de verde e amarelo. Nada dá certo. A
culpa é minha? De maneira alguma. Deus é que é um arquiteto de merda. Todas as
obras d’ Ele, acabam em merda. E o pecado é meu? Não. Vou fazendo o que gosto,
desde que não atente contra os outros e o mundo, coisa que os filhos do Pai,
fazem brincando. Gente lesa. Procura respostas para o que está na cara que é a
maior fraude. “Deus é bom, só é atrapalhado e muito abestalhado, o pecador és
tu!” Mas nem morto!
OS ANIVERSÁRIOS
Depois de muito
esperarmos, finalmente Bustela chegou. Uma SUV, ficou apertada atrás. Só pode
ser sacanagem do Fauze e do Piroka.
- Meu irmão, são 130
quilos...
A Senhora Ana estava
presente, nem mandei ir à pqp, antes que me esqueça.
Fomos ao apartamento da
mãe dele. Tudo bem, tudo legal. Cumprimentei a todos, inclusive Seu Fauze, até
a Martinha, ex-vizinha de Bustela e de Dona Dolores, minha avó. Fiquei na
sacada, maravilhosa. Uma ventilação que condicionador de ar e ventilador, além de
serem dispensáveis, não chegam aos pés. Estavam a Andrea e a prima de Bustela.
- Porra Andrea, tu
continuas uma mulher bonita, mas fumando desse jeito, vais ficar uma merda! Joga
essa bosta fora!
- Só esse cara mesmo
pra me deixar por cima!
A Andrea é uma mulher
grande, onde chega, chama a atenção, Quando está de calças compridas, parece
que está de fraldas por baixo, no lugar da calcinha, imagina como é a coisa.
Quando íamos ao Kalamazon, ela chamava a atenção de todo mundo, quando
adentrávamos aquele pardieiro. Eu baixinho, quando dançava com ela, batia
abaixo dos peitos, imagina. Uma vez, um cara mandou recados no guardanapo,
pensavam que eu não estava vendo. Acho que eram militares, só sei que não eram
daqui. Depois, quando fomos sentar à mesa, ao lado, ficamos conversando e o
mais interessado me perguntou se tínhamos alguma coisa. “Não, tenta!” Ela havia
enviuvado recentemente, quem sabe... Mas deve ser dessas mulheres que acham que
estão gordas, estão fora de forma, ninguém as quer. É a cultura Barbie, que faz
as mulheres quererem ser estereotipadas, não para os homens, mas para as outras
mulheres que também têm autoestima no calcanhar.
A prima de Bustela que
fuma que nem pipira, observou.
- É Andrea. Eu já estou
com enfisema pulmonar, mas ainda continuo fumando. Isso é uma droga. E a minha
pele?
Realmente, uma pele de
maracujá de gaveta, um pele de sapo morto ao sol. Meu Deeeeeeeeus, só de ver
aquilo, já seria um estímulo para ela largar o vício.
- Vou tentar fumar
menos.
- Não, Dona Therezinha
quando parou, foi de uma vez. O Doutor Moura disse que a costela estava
fissurada, depois de um acidente de trânsito, ela teria de parar de fumar, por
uma semana, Ela parou para sempre. Seu Clovis que o médico disse, depois que
ele teve a vesícula supurada, por não ir a médicos, foi preciso pegá-lo à força,
depois de várias paradas cardíacas, para retirar a vesícula, depois de terem de
abrir todo o abdômen, para lavarem, com tanto pus que se espalhou, depois de um
bom tempo de UTI e de hospital, o médico recomendou que beber, até podia,
socialmente, mas fumar, nem pensar. Ele ia lá para a rua, pedir que comprassem
uma carteira para ele e fumava escondido. Quando morreu, estava escorado na
parede do banheiro e o cigarro no muro que separa o box, da pia e do vaso sanitário.
- É Andrea, para de uma
vez.
Toda vez que vejo a
Andrea, lembro da Dedeia e da Cácia. Fumavam tanto que ficava impregnado aquele
cheiro de cigarro no corpo, nos poros. A Cácia, fomos dar umas pimbadinhas, era
difícil beijar o cangote, fazer carícias, beijar o copro e até a boca, com aquela
catinga de cigarro, até no hálito.
- Fuma maconha Andreia
que é mais perfumada.
Os cigarros de hoje,
são para liquidar o cliente.
- Eu só fumo Derby!
E olha que a prima de Bustela, está com
enfisema pulmonar.O que é o vício! Só 60 anos, está bem pior, até de se ver, do
que Dona Therezinha com 84 e Seu Fauze, com 102 anos.
Chegamos tarde, estava todo
mundo nos esperando, como disse Piroka, “só velha bonitinha. Se for contar a
idade, passam o Seu Fauze brincando!” Conversamos um tempão, só depois é que
Dona Brunilde chamou para cantarmos os parabéns. No plural mesmo. Coloca a vela
dos 102 anos do Seu Fauze, acende as velas, canta os parabéns, tira fotos, apaga,
troca para a vela com a idade de Piroka, 43 anos, acende as velas, canta os parabéns,
tira fotos, apaga, troca as velas para o Fauze Bisneto, 21 anos, acende as
velas, canta os parabéns, tira fotos, apaga, troca as velas, para os 20 anos da
namorada do Fause, acende de novo, canta os parabéns, tira fotos, apaga... Acho
que foi o Piroka que disse que a dor de cabeça era de fome. Deve ser mesmo, mas
há muito tenho sentido um mal estar, de estômago sujo, como digo. E quando isso
acontece, ou como só comida leve, ou me advêm essas dores filhas de uma
pústula. Lógico que para acender as velas, nada como um fumante ao lado.
- Ah, tu me dizes para
parar de fumar, mas quando precisa acender as velas, a primeira que tu chamas
sou eu.
Lógico. Qual o viciado
em nicotina, fumante inveterado que não tem consigo um isqueiro, ou mesmo uma
caixa de fósforos? A Andrea, num aniversário do Bustela em uma pizzaria, quando aventou a possibilidade
de namorarmos, não conseguiu ficar mais de 15 minutos, á mesa. Era proibido
fumar no ambiente, ela levantava, ia lá para fora, fumava, voltava com aquela
inhaca que mesmo que seja proibido fumar no ambiente, o cheiro que vem com o
dono, é pior do que a fumaça em si. Ela não consegue ficar mais de 15 minutos
sem acender um veneno desses. Ela ainda é bonita, como eu disse, mas espera!!!
Depois a culpa é da velhice. Nem sempre! Depois, quando os namorados terminam,
não sabe por que. Além de muito ciumenta, batia no Beto que era duas veze maior
do que ela, só porque o coitado ia ao carnaval e se agarrava com as cabocas.
Graças a Deus, imagina se ela chegasse e o visse grudado com um macho. É
carnaval, é folia! Imagina o que não faria comigo, 3 vezes menor do que ela? Depois,
ter de aguentar aquele cheiro de tabaco o dia inteiro, por perto? Só sendo insensível.
Ter problema no olfato, mas muito sério. Mulher maior do que eu, agora, depois
que apanhei de uma ex-namorada, de guarda-chuva, no shopping, só se for bem pacífica, não esteja nem aí para nada. A
Adreia me dando um tapa, eu iria ser internado na UTI, por um bom tempo. E eu
me conheço muito bem. Fidelidade não é o meu ponto forte. Não vou perder uma
amiga, por bobagem.
Só depois disso, de
todos apagarem as velhinhas, mas a do bolo, é que foi aberta a temporada de
caça à comida. Uma das senhoras, com os cabelos mais pretos do que o de
Bustela, na hora dos parabéns, já estava bicando os pastéis e os quibes. Ficou
toda sem jeito, quando Bustela chegou perto de nós.
- Faz muito bem.
- É, está uma delícia.
FINALMENTE O ALMOÇO
Então os serviços à
mesa, começaram. Bustela pegou um prato e ficou no início da fila. Falei para
ele deixar de ser mal educado, ele recuou, mas só um pouco. Deixou algumas
daquelas senhoras que já devem estar com a passagem de ida no Bonde dos Anjinhos
marcada, servirem-se, só depois é que se serviu. O problema no dia da “passagem”
daquelas senhoras é se chover. Vai
escurecer tudo, só com a tintura dos cabelos. Deve ser naquelas tinturas que Bustela
pega o exemplo para a sua que ele diz que é G-Nética. Deve ser um produto novo
da L’ Oreal. G-Nética. Nem quando éramos do colégio, os cabelos dele eram tão
pretos. Agora, com G-Nética, é outra coisa. Ainda bem que a prima dele de
apenas 60 anos, sabe das coisas.
- Maninho, não pinta os
teus cabelos. Homem fica muito bonito com os cabelos grisalhos!
Ou seja, o Bustela está
uma merda. Ele já era feio pacas, agora com G-Nética, está intragável.
Quanta fartura, Tinha
todos os pratos árabe, possíveis e imagináveis, Imagina, charuto, em folha de
parreira, maxixe recheado, chuchu recheado, Homus, aquela pasta de grão de
bico, fatias de pão sírio – falei que era sírio e não libanês, nem árabe, uma
das senhoras perguntou a diferença, se não era tudo pão ázimo, Dona Brunilde
foi explicar, ou pelo menos, ficou tentando explicar, eu só comia desses pães,
e uma vez, meu ex-cunhado ligou muito puto, querendo saber como era a tal pizza que eu fazia e os filhos dele queriam,
daquele jeito -, quibe cru, quibe de forma... Não dá nem para descrever tudo. O
que sobrou, mesmo com tanta gente e gente repetindo os pratos.
- A mamãe faz tudo
sozinha. Ela é muito organizada.
Deve ser por isso que o
filho dela é muito desorganizado.
Fui ser educado, peguei
um pastel, na hora de me servir. Fiquei muito zangado comigo. Quando fui
repetir, cadê os pasteis? Dona Brunilde cozinha muito bem, desde muito tempo.
Só lembro das nossas despedidas do colégio. Organizamos, sem a interferência de
ninguém, festas e mais festas, ao invés de irmos às festas organizadas pelo
colégio, fizemos nossas próprias, a partir dos últimos dias antes de nos
formarmos. E uma dessas festas, foi à tarde, num dia de aula, reunimos o
pessoal, pedimos uns ônibus do pai do Renato Stival Bueno que tinha uma empresa
de ônibus, fomos para a Ponta Negra, mas na praia onde hoje é o Jardim das
Américas. Uma areia branquinha, sem ninguém para pentelhar. Todos levamos um
lanche. Bustela levou uma cesta de vime, daquelas todas trabalhadas, com uns
sanduíches deliciosos. A cesta era enorme, ele não iria comer aquilo tudo. Ainda
mais sozinho. Todo mundo se serviu, sem ele saber. Ele no rio, de vez e quando
vinha um, uma, outro, outras. Quando chegou a hora do almoço e ele procurou u
sanduíche para saciar a fome, a cesta de vime estava vazia. Não sobrou nem
guardanapo. Duvido se Dona Brunilde cozinhasse ruim, se ele ficaria nessa
situação. Era uma moça. Até para ir à praia, tinha de se travestir de
Chapeuzinho Vermelho! São dois amigos que se não fossem casados, Piroka e
Bustela, eu desconfiaria. Daqueles que se diz: “Esse cara rasga a tanga”. “Esse
macho morde a fronha!” “”Esse jogador de futebol leva bolada no céu da boca!” “Esse
esfomeado peida na farofa!”
Mas repeti o maxixe e
os charutos. Deus me livre! Como disse à Dona Brunilde, na hora de me despedir.
- Nunca comi tão mal na
minha vida!
- Deixe de brincadeira!
- Mas se a senhora
quiser, eu volto amanhã, só para ver se apurou o gosto.
Na hora do bolo, puxa,
pensei que fosse um bolo de coco, com rapas encima, só. E já estaria de bom tamanho.
Que nada, havia um recheio e o recheio era de cupuaçu, além de outras coisas. Mas
uma delícia! Quando ela me perguntou se eu queria bolo, Bustela que diz que não
suporta nada doce, disse que é o mesmo que perguntar se formiga gosta de
açúcar.
- Dona Brunilde, a
senhora pode me fazer um favor? Para mim, a senhora corta o bolo do outro lado,
tá bom?
- Mas por que meu
filho?
Por quê? Ora porra, um bolo onde tanta gente
apagou vela, eu não vou comer o cuspe dos outros. O que aquele pessoal deve ter
sorvido o cuspe alheio, tem graça? Ainda mais de Piroka e do Fauze, uns caras
que nem tomam banho direito. O Fauze fica coçando a cabecinha do pau, depois
quer dar a mão para a gente. “Vá tomar no cu. A outra mão. Vai lavar essa
piroca porra!” E engraçado que de todos os aniversariantes, a namorada do Fauze
era a única mulher e de todos, foi a única a apagar as velas, num sopro só. Não
se fazem mais homens como eu. Tudo frouxo!
Era um bolo imenso,
mesmo que tenhamos repetindo, a Andrea, muito mais, mesmo assim, também sobrou.
JÁ NOS CONHECÍMOS SEM ELA SABER
Eu sempre tenho essa
mania de conhecer as pessoas e quando me apresentam, já as conheço até antes de
quem me apresenta.
A cunhada do Bustela,
estudei com ela, muito tempo, e muito tempo antes deles se conhecerem.
Conheci-a até antes mesmo do marido dela que estudou Administração comigo e
trabalhou na Secretaria de Saúde na mesma função e setor. A prima delas,
conheci, antes delas me conhecerem também. Quando elas foram me apresentar, na
casa do sogro de Bustela, já nos conhecíamos, faz tempo. A Acácia, quando foi
me apresentar aos irmãos, em uma festa na casa dela, já os conhecia do
Fisiculturismo. Acho que conheço Deus e o mundo. E tem quem me conheça e de vez
em quando nem me lembro.
Perguntei à Andrea se
ela se lembrava, de quando viajamos no mesmo navio. Ela não se recordava.
- Acho que eu tinha uns
14, ou 16 anos!
- Eu tinha 6!
Tudo bem. Realmente ela
era bem criancinha, andava de calcinha, mas com uns laços na cabeça, que eram
moda naquele tempo, parecia que as meninas estavam embrulhadas para presente. E
nem por isso, ouvia-se falar em pedofilia.
- Lembro de pouca
coisa. Uma sala onde me ensinaram a jogar xadrez, Eu ia todos os dias, jogar.
Era justamente a sala,
onde ficavam as pessoas mais refinadas, mas as paqueras ficavam do lado de
fora, do lado do mar, os músicos do navio iam tocar para um grupo de jovens e
aí todos nos conhecíamos melhor. Ou melhor, as pessoas mais abertas a novas
possibilidades. Em princípio eram os jovens, mas depois, apareceu uma horda de velhas
fogosas, a fim de “dar” ao guitarrista e a quem quisesse. Ficava até difícil se
concentrar. As velhas estavam há dias como náufragos, há muito sem ver pau.
Graças a Deus que um tal de Lindoso, um cara mais velho do que eu, chamou mais
a atenção da velharada, ele jogava ping-pong, na sala de dentro, e tirava a
camisa, era todo cabeludo, as velhinhas mortas de fome, deixaram-nos de lado e
foram fazer ponto na sala de jogos.
- Também lembro da
piscina com a água suja...
- Não era suja. A
viagem inteira, eles colocavam água do mar, clarinha, quando chegou no Norte,
colocaram a água do Rio Amazonas, o pessoal pensava que era suja, era negra.
Ninguém quis tomar banho nas piscinas.
- Tu te lembras daquela
baiana que fazia a fantasia de tudo o que era homem solteiro, para as festas à
fantasia do outro dia? Já meio velhusca, meio fora do prazo de validade, quando
o navio chegou ao cais do porto da Bahia, ela deu um show de frescura, chorou tanto, fez tanto escândalo ao visualizar o
marido na multidão que até encobriu as músicas que a banda tocava em cada
porto. Ela havia passado todo mundo nos peitos, todo mundo sabia, mas ela fez
tenta cena de amor para o corno velho... Mas tu não deves lembrar, porque nem
sabias o que era isso.
- Não. Mas lembro de
duas mulheres e um homem, que pintavam a barriga da grávida.
- Era a Luli e a Lucinha
que faziam música para os Secos e Molhados e o marido dela ficava tirando foto
o tempo inteiro.
Elas pagaram a viagem,
com o dinheiro que receberam dos direitos autorais, do primeiro disco deles.
- Olha Andreia, eu
conheci a Andrea na viagem, mas era da minha idade. Outra, A filha do
comandante do navio. O cão em pessoa. Te lembras dos cinemas da tarde e das
filas do sorvete?
- Não. Nem sabia que
havia cinema. Lembro de ter me perdido, desci as escadas e acabei na prisão do
navio. Depois fui subindo as escadas e encontrei a mamãe.
- Tu só querias comer
maçã.
Nem falei que ela dava
o maior trabalho à mãe dela, para comer. E acabava sempre levando as maçãs
disponíveis.
- E tu, onde comias? No
restaurante das crianças?
- Na verdade, nem no
restaurante normal. Eu ia para a lanchonete da piscina de adultos e ficava
comendo umas batatas fritas em saquinho, com Guaraná Antártica que à época eu
gostava muito. Ficava saciado.
Mas não era um, nem
dois saquinhos. Eram sacos e sacos, tanto que mais próximo daqui, faltou batata
frita, na lanchonete, o jeito foi comer no restaurante mesmo. De adultos,
lógico!
Mas até hoje me lembro
do cheiro dos dois navios, do cheiro do restaurante, de muita coisa. Realmente
acho que tenho uma memória muito boa. Todo mundo fala isso, menos Dona Themis
que diz que eu nunca me lembro de nada. Fofoca da oposição.
Até hoje eu me lembro
do cheiro do shampoo da Dedeia, até a
hora dela começar a beber e a fumar. Depois, era difícil cheirar o cheiro que
saía dela. Depois de muito tempo, não sei quem usava também, o mesmo cheiro, aí
é que eu soube que é SHAMPPOO DE APRICOT que se traduz em damasco e bem
recentemente, soube que nosso abricó, é chamado de damasco da Amazônia. Então,
quem traduz APRICOT, como ABRICÓ, não deixa de estar certo. Uma delícia. Dava
vontade de comer. Nós dançávamos colados e ela tinha um cabelão enorme,
cacheado, colocava a cabeça no meio dos cabelos dela, como digo, até a hora em
que ela ainda não havia começado a fumar, nem a beber. Depois...
Apesar de até hoje a
Acácia achar que eu tinha preconceito com o cabelo dela, sempre lembra de uma
vez em que fui pegar no cabelo dela e ela acha que eu disse que era limpo, porque
de outra maneira, pensava que fosse sujo, nada disso. Ela é que tinha o
preconceito em relação ao cabelo dela, e colocava nos outros, o que ela achava
que os outros estavam certos. Eu observei alguma coisa, sobre o cabelo dela,
mas ainda me lembro do cheiro dos shampoos
que ela usava, menta e/ou hortelã, e outros, cítricos. O problema é que a
própria família e como diz, no Colégio Auxiliadora, era vista como uma pessoa
fora dos padrões brancos, tem os cabelos pixains também, levou isso consigo,
como se a crítica fosse correta e ela a errada. Jesus palestino, no maior
deserto, uma quentura danada, era louro, cabelo liso, como propaganda de shampoo, branco, quase ariano, olhos
azuis, vê se pode? Perpassou por séculos, esse estereótipo do limpo total,
contra o negro penalizado no Genesis, quando Deus deu cor às descendências de
Caim, para nunca os perder de vista, desde quando matou Abel. A tia dela que é,
ou era freira, quando íamos sair, uma vez, quando estava em Manaus, na casa
deles, quis encher a paciência. A hora de sairmos para a noite, era 23:30h, todo
dia, invariavelmente. A freira, como sempre, que forçar sua visão de mundo, até
onde é apenas visita e frescou! Não era hora de moça de família sair. Naquele
ponto do campeonato, a Acácia já havia sido noiva, não devia ser moça, e quem
não é de família? Até puta e ladrão. Quando viu que iríamos sair assim mesmo,
falou que a Acácia não iria sair despenteada daquele jeito. Ela sempre usara o
cabelo daquele jeito. Uma freira do cafundó dos Judas, chegou e meteu bronca no
cabelo dela? É assim que nascem os preconceitos e assim que muita gente coloca
para dentro o que os outros fazem de imagem sobre o que eles são e deveriam
ser. Entraram para o quarto, ela foi desembaraçar o cabelo da Acácia, foi fazer
penteado, acho que saíram, mais ou menos, 1:00h da manhã. A primeira vez em que
o cabelo da Acácia fora apresentado a um pente e à uma escova. Deve ter difícil
a convivência. Pronto, a Acácia estava pronta, como a freira queria, fiquei
esperando um tempão, mas freira ainda assim, quis meter bronca.
- Já não é mais hora de
se sair, não é mesmo?
- De maneira alguma.
Agora é que a festa está começando.
Uma freira que até na
casa dos outros, usa aqueles trajes ridículos, fica que Mem palhaço,fantasiada,
até na hora que deveria estar dormindo. Aí, com tanta gente religiosa, cheia de
discriminações e de outra feita, esse pessoal, com uma visão de mundo perfeito,
louro, olhos azuis, cabelos lisos, não podia se ver além de alguém
marginalizada. E quem vive marginalizado e mesmo assim não se aparta dessas merdas
de religião, é porque gosta! O problema do cabelo dela, foi a imagem que
fizeram dela, para ela mesma e ela “comprou”. Aí quis colocar a culpa em mim
que além de ter cabelo pixaim e não estar nem aí, não é culpa minha, mais uma
questão genética, não sou cabeleireiro para me importar logo com o cabelo das
outras.
Lembro do cheiro
noturno de uma ex-namorada que tomava banho, e se melava toda com óleo de amêndoas,
antes de deitar. Até que eu gostava, mas todo dia, enjoou. E como se fosse uma
coisa rapidinha, depois de se untar de óleo de amêndoa, inventou de se untar
com uns azeites, óleos, sei lá, anticelulite e antiestrias. Quem foi que disse
que ela tinha essas porras? E eu que ficasse esperando ela se bezuntar até
cansar, a noite inteira. Sempre me recordava no Bermudes, um aluno estrangeiro do
colégio, diziam que era de Bermudas, jogávamos brutebol, ele passava liso, todo
mundo tentava segurá-lo, só pararam-no, quando deram um chute na canela dele e
ele foi parar lá fora de campo, numa pedreira que estava ali para servir de
construção à quadra nova. Parecia essa ex-namorada. Se a jogassem para cima e
quisessem segurá-la, ela escorregaria pelos dedos, de tanto óleo corporal. Deus
me livre! “Não quer namorar, avisa!” Eu ficava até as 3:00h, quando finalmente
ia dormir em casa, ainda tinha de aguentar essa melação toda?
Lembro também, ainda,
do cheiro de patchuli do apartamento da Concom.
Ainda me lembro do
cheiro do picolé da Kibom, com o cheiro da maresia, do cachorro quente das
Kombis, na Barra da Tijuca, quando ainda nem era a Terra dos Emergentes, o
cheiro dos barcos que utilizávamos aos domingos, para passearmos, o que fez
Dona Therezinha comprar o Formigal, justamente por ela ter pavor de água, de
rio, de mar, de tudo que possa morrer afogada, pois o pai delas não deixava
mulher nadar e elas nunca aprenderam a nadar, a não ser a filha que era rebelde
que saiu da mesmice, naquele tempo, nadar, assim como muito exercício físico, era
coisa de homem, como tantos preconceitos de antigamente, capitalistas, gente
bem religiosa. Lembro até do peido que uma amiga deu, quando estava na Posição
D4, justamente quanto ia empurrá-la de trás para a frente e quase que acaba a
festa, porque ela ficou com vergonha.
- Faz parte. Faz de
conta que não houve nada. Vamos cheirar juntos que acaba esse cheiro, logo.
Tenho lembranças de
muitas coisas, de muita gente, mas como fiz muitas coisas também, às vezes não
lembro de tudo, principalmente de quem chega nos lugares e quer se esconder do
mundo. Só lembro do Piroka, porque somos amigos de muito tempo. Senão, seria
uma dessas pessoas de quem nunca iria me lembrar. E ele fica puto, quando as
pessoas não lembram dele. O pessoal do Campus
se lembra de mim, dele não. Quando a Tartaruguinha me viu na porta da loja
dele, veio falar comigo, falei se ela se lembrava dele, ela olhou de cima a
baixo e falou na lata: “Não”. E olha que além de ser nossa Professora de
Português no colégio, ela foi professora dele na universidade, em Português Instrumental.
Ele fica puto.
- Também tu não te
comportas, tu és bagunceiro...
Então que ele mude. Esse jeito de mosca-morta,
realmente não dá para lembrar, nem com a pessoa presente.
Lembro da irmã do
Vaquinha que era minha colega na Economia. Um dia o professor, acho que
Jefferson Peres, fazendo a chamada, chamou o nome dela, falei que não estava.
Ela estava logo atrás, até me assustei, quando ela falou presente.
SOBRE DIGINIDADE
Conversando com a prima
do Bustela, a que fuma e a pele parece papel-manteiga amassado e ela falou que
nunca seria capaz de se sujeitar a homem.
- Eu criei meus filhos
vendendo bombom, nunca me prostituí. Hoje um é dentista, o outro é advogado.
Falei sobre uma
prostituta que conheci, linda, que falei para ela ser empregada doméstica,
fazer qualquer coisa, pois no dia que deixasse essa vida, encontrasse um desses
homens babacas na rua, a primeira coisa que ele iria lembrar era de já ter sido
cliente ela e para o filho, talvez seja uma reação muito ruim, de saber que a
mãe se prostituiu, mesmo que tenha sido pelo motivo que seja. A prostituição
não dá dignidade a ninguém, mesmo que faça muita prostituta de luxo, rica, mas
no fim, vão procurar remédio para dormir, tratamento psiquiátrico, até se
flagelar, por se sentir sempre suja. Às vezes, aqueles que se querem mostrar
mais fora do sistema, é justamente quem trás para si, todos aquele comentários
preconceituosos, ao invés de ir contra o que deveriam achar errados. A
prostituta, ao invés de ser aquela mulher que vai contra os conceitos sociais,
na maioria da vezes, é quem aceita os comentários do sexo sujo, da pessoa suja
e acaba trazendo para sua vida, todas as doenças, como realmente fosse suja de
verdade. Acabam tomando diversos banhos, para se limpar por fora, quando a
sujeira está na mente.
- Justamente. É uma
questão de dignidade. Não aceito que mulher se prostitua para viver. Vai ser
empregada, vai lavar roupa pra fora, mas depender de homem, nunca.
Sinceramente, a questão
não é da prostituta, mas de um sistema que aceita que pessoas tenham de se
valer da prostituição, para sobreviver. Invertem-se os conceitos, justamente
para não se dizer quem é o culpado de verdade. E tem quem deixe muitas famílias
na miséria, para prostituir suas filhas e muitas vezes filhos, para se sentir
superior, mesmo que sejam filhos desse Deus cretino, onde Seus filhos são o
Demônio na Terra, pregando em Seu Santo Nome. Imagina!
Bustela falou que eu
adoro prostituta. Uma percepção estranha.
Dia desses um advogado
que ele recomendou, para ver a questão do sítio de Dona Thderezinha que a
Construtora Capital grilou no Cartório do Luquita, encontrou com Dona Themis no
escritório de Direito, onde ela trabalha e conversando, ele falou que eu nem
voltei.
- Mas o perfil que me
disseram dele, é que ele é um cara com três faculdades...
E daí? Não entendi.
Talvez por isso não tenha gostado da solução dele. Ele mesmo me disse que
retiraram das minhas contas bancárias, mais de R$ 11mil, a tal Construtora Capital,
para pagar os Serviços Advocatícios. A solução dele, era eu pagar mais R$ 3mil
para me entregarem o apartamento pela metade que era contratual, já caído, ainda
iria ter de pagar os serviços advocatícios do advogado que servia à empresa e
parece que está desempregado, depois pagaria os servilos dele, depois
entraríamos com uma ação, contra o condomínio, depois... Ora porra, além de ser
roubado de todo jeito, ainda vou pagar mais para os bandidos? Nem morto. O tal
advogado da Capital é amigo da família, Dona Therezinha é colega da esposa dele
e agora, descobri que aquela garotinha bonitinha dos tempos de Campus Universitário, lourinha, de olhos
azuis, educadíssima, é filha dele, não deve ter puxado o cretino de maneira
alguma, mas por mim, quero mais que ele se foda, se possível, todo torto, todo
lascado. Agora, a vítima é que tem de pagar mais para os bandidos? Não volto
mesmo. Só quem é leso.
Como disse um dia
desses, quando estava fechando negócios com um advogado, que dizem ser um dos
bons no estado, não entendo nada de Direito, mas entendo de outros saberes, de
outras coisas da vida. Tem coisa que mesmo que queiram me enganar, não tem
jeito. É ilógico. E essa solução desse advogado, é uma dessas. Acho que deve trabalhar
para a empreiteira, a solução mais graciosa, mas para o outro lado. Até o CNJ
deu ganho de causa para nós, mas diz que não pode fazer nada, porque o
desembargador em questão, que deu ganho de causa para a Capital, está morto.
Mas para mim, a questão ainda está viva. Eles continuam ganhando dinheiro com
aquilo, ou seja, ainda está em aberto.
Na negociação, dei um
preço, o advogado achou bem salgado, “não era bem o que eu estava em mente...”
mas acabou aceitando. Uma questão de lógica. Se fosse fora da realidade,
colocaria muitos empecilhos, mas sabe que vai ganhar muito, mesmo com o preço
dado e mesmo assim, se largar, tem quem queira, como dizia minha amiga da
ginástica, que a minha ex-namorada não gostava dela. Mas no caso dela, eu
ficava muito grosso. Coisa mais chata. Qualquer coisa: “tem quem queira!” Dia
desses, até estava lembrando de quando apareceu um amigo nosso na ginástica e a
chamava para conversar no estacionamento. Ela jurava que não tinha nada com
ele, o pessoal da ginástica, dizia que tinha e queria que eu tomasse uma
decisão. Mas pensei, ele era cliente da minha namorada, o pessoal, depois
fiquei sabendo, dizia tudo o que acontecia na academia para a minha namorada,
até o que eu nem fazia, de certa maneira, era um teatrinho, para ver o que eu
faria. Ainda bem que nunca fiz nada. Eu tinha namorada, ele tinha esposa, ela
tinha noivo. Eu é que vou dar show?
Ela dizia que não era o que pensavam, quem sou eu que vou atirar a primeira
pedra. “Comeu?” “Não!” Era mais ou menos, uma maneira dele se afirmar como
homem. Acabou sendo deixado pela esposa, depois de ter tido filha e feito a
maior festa para comemorar. Minha namorada foi, todos esperavam a presença da
minha amiga, ela nem foi. Fiquei o tempo todo na piscina, o pessoal no salão de
festas, outra amiga veio para a piscina, só nós dois, ela quis fazer topless, estava preocupado da minha
namorada chegar, ver a situação da minha sunga e pensar bobagem. O jeito foi
ficar de molho, até passar, ou melhor, amolecer a linguiça. Hoje, também era um
teste. Se eu avanço, ela grita e olha a confusão. Aquelas irmãs evangélicas que
arrepiavam até com vento a estibordo, quando na sauna que eu estava de sunga
cheia, de repente minha namorada chegou e o pessoal foi me chamar, pois ela
queria falar comigo. Também deve ter sido a maior armação. Eu e a evangélica, “conversando”,
minha namorada chegou de repente? O problema foi sair da sauna, com a sunga em
estado crítico. Fui tomar um banho, dei um tempo, até poder sair para falar com
a namorada. Era uma fofoca, era tanta gente dedurando. E quem eu nem pensava.
Quando descobri, fiz uma caricatura da fofoqueira e deixei no quadro de avisos.
Foram os melhores dias da minha vida, pois ela deixou de falar comigo, por um
tempo e como não podia ficar por perto, não podia falar nada. O outro amigo de
academia que a mulher contratava até detetive, dizia que só havia uma solução
para calar a boca daquela menina. “Tu tem de comer!” Não era bem o meu tipo.
Mas depois de anos que nos separamos, essa dita cuja veio apresentar a filha
dela.
- Quase tua filha!
- Égua! Eu nunca te
comi!
- Mas podia ter sido o
pai da minha filha.
Imagina! O cara estava
certo. Mulher muito cheia de conselhos para a outra, quer morder o cara da
outra. Mas é verdade. E a amiga da Simone Bundinha, já havia me alertado,
quando eu nem pensava que estava sendo vigiado. A Katlen que o namorado dela
ficou com ciúmes, porque nós caminhávamos juntos. Fui caminhando com ela, até o
INPA e o chamei. Estava um engarrafamento danado.
- Hey gaúcho, está
vendo esse engarrafamento? Dá pra comer alguém na rua? Deixa de leseira, com
ciuminhos! Nós só queremos caminhar.
De repente ele deixou
de leseira. Mesmo porque as más línguas diziam que ela era do meu amigo e a
minha, era a Simone. Pessoal linguarudo.
É como eu digo, em
questão de gostar de prostituta. Não, eu gosto de mulher. O problema é que
muita gente, antes de ver a pessoa, primeiro olha a cor, a classe social, a
escolaridade, a profissão... Eu não tenho nada disso. Deu vontade, houve
empatia, aquiescência das partes, dá para dar, é o que importa. Não interessa
se é doutora, empregada doméstica, rica, pobre, preta, branca, azul, puta, ou
moça de família. A minha questão é buceta e cu. Teve, está afim, está resolvida
a questão.
Sempre digo que quem
foi patrão da Luzia Brunet que talvez tenha tido vontade de dar uma pirocada,
mas pelo fato de ser empregada doméstica achou por bem, não sujar o pedigree, como aprendi com a minha
ex-namorada que tinha cachorros de raça, o pedigree
é uma dessas certidões maiores do que as nossas, com uma árvore genealógica
maior do que dos humanos e cachorro de raça se cruza com outro de outra raça,
acaba com todo o pedigree, inclusive
o dele, o patrão dela, depois que virou modelo em conceituada, deve ter se arrependido
amargamente. E ainda tem muita gente que ainda pensa que é cachorro de raça. Só
transa com quem tenha o mesmo pedigree,
seja da mesma raça, da mesma classe social, da mesma cor, dos mesmos princípios.
Acaba se fodendo, mas no mal sentido. Quando gosto de uma mulher, às vezes são
prostitutas, mas tem cu e tem buceta como qualquer mulher e às vezes, é até mais
mulher do que essas mulherezinhas.
Eu sempre falo que uma
Fulana, fez de tudo para chamar a minha atenção. Quando conseguiu, antes que
fossemos ao motel, antes que fossemos colocar as bolas na caçapa, fez com que
eu fosse fazer um teste de soropositividade. Falei para ela fazer o mesmo. Só
transaria comigo se eu comprovasse que não tinha AIDS. Ótimo. É sempre bom,
saber o que podemos, ou não, ter contraído, em termo de saúde. Pedi à Ana Cira,
mulher do Mucura, para ela me passar um teste de HIV, ela que é dermatologista,
perguntou por que, eu falei do que se tratava, ela fez cara feia. Saiu o
resultado, deu negativo, ela, da parte dela não fez nada, não foi ver se era
soropositiva, mas mesmo assim, fomos fazer nhenhém. Tudo bem, ela se acha acima
da média, cheia de muito dedo, só sei que a única DST que peguei, foi
gonorreia, primeira e única, tratei, estou curado. Ela, com tanto medo de ser
contagiada, com tantas firulas, pegou uma DST e não foi de mim. Muito santa! Como
dizia o primo de Piroka, o pau mole, ou melhor, o Pall Mall.
- Porra, sempre
transava com puta, no dia que peguei uma moça de família, fui transar com ela,
peguei gonorreia.
É que muitas
profissionais do sexo, por se cuidarem, sabem como não entrar numa barca furada
dessas. Já as meninas tratadas a pão de ló, pensam que podem foder que estão
salvas, mesmo sem preservativo.
Quando era adolescente,
Seu Clovis adquiriu uns livros sobre sexo, traduzidos, ingleses, americanos, as
fotos dos peitões, eram melhores do que revista masculina. Dissertavam sobre gravidez
indesejada e doenças venéreas, encima das culturas vigentes desses povos. Fui
lê-los e me assustei com as tolices. Uma pensava que não ficaria grávida,
porque transava em pé. A outra, porque só “dava” na banheira, ou na piscina. Meninas
de famílias que tinham o sexo, como algo como um conto de fadas, ou um outro
mundo. Em pleno Século XX, eu que ainda era adolescente já sabia que as coisas
eram outras, mesmo antes de usar camisinha, já tirava para gozar fora, o que a
Bíblia diz que é pecado, também, aquelas garotas ainda tinham aquelas ilusões
macabras, de se foder. E talvez, até hoje, muita menina de família, por não ser
aconselhada devidamente, por verem familiares, religiosos, professores e outros
idiotas em volta, tratarem sexo como coisa que se deve evitar, mas quando ataca
a vontade, é físico, é animal, é necessidade orgânica e biológica, é difícil de
não se agarrar, ainda pense igual, que se possa fazer sexo, desde que no
chuveiro, evita-se tanto filho, quanto doenças, essas tolices, e é mais fácil se
ser contagiado por uma filha da puta dessas que ainda acredita no Salvador, que
acredita que rezando pode-se fazer tudo o que é sacanagem que estarão salvas,
do que por uma puta que vive a realidade da vida. Sabe que sexo pode ser a
coisa mais divina do mundo, como também o maior Inferno, depende de como se
previne e como se o trata. A melhor reza de todos, é aprender a lidar com o
próprio corpo. As doenças, as consequências, mas ainda ensinam a pessoas a
orarem. Ora vai tomar...
É CHIFRE
Depois da festa,
Bustela e Piroka foram cortar o cabelo e como tiveram de passar antes no TJ,
foi melhor me deixar logo. Queriam que eu os acompanhasse, ainda bem que não
deu.
Fauze queria ver meus
desenhos. Estava tudo, inclusive as tintas e o material, na bolsa que eu
preparei, caso voltasse para casa, antes de ir ao almoço, enviei por Bustela,
para ele, o álbum mais novo, até a próxima quinta-feira.
Cheguei em casa, a dor
de cabeça foi piorando. Tomei tudo o que é remédio para estômago, fígado, o
caralho a quatro, de novo me lembrei da menina com quem dei umazinha, muito
ruim, pois nem dei muita atenção a ela, nem tive a consideração de ligar
depois, por causa daquela dor de cabeça filha de uma puta.
Depois, em casa, só deu
para comer uma salada que estava uma delícia e fui para o meu quarto. Estava
lancinante pois a dor de cabeça piorou. Tomei um remédio para dor de cabeça e
fui ler. Acabei dormindo, mas no outro dia estava bem.
Um dia que começou meio
chateado, subi aos Céus, e Céu Árabe, só não tinhas as 45 virgens, mas muitas
senhoras fora do prazo de validade, com os cabelos pintados artificialmente, mas
no fim, a coisa foi bem real, desci ao Inferno.
Graças a Deus, não vomitei,
como o fiz na frente da garota, senão iria ficar muito, mas muito puto de já
ter sido educado e só ter colocado um pastel no prato e depois de tudo, ainda
jogar toda aquela joia fora, seria o cúmulo da sacanagem.
Bem, estou comendo
menos e comida menos problemática. No sábado fui à Feira da Banana, depois da
Manaus Moderna e tinha uma garota, com uma camisa de cetim, seda, nunca sei a
diferença entre uma e outra, meu corpo não se adapta a nenhum desses tecidos, uma
bermuda também verde, bem comportada, mas bem sensual, um colar dourado no
pescoço, grande, mas delicado, realmente fiquei a fim. Uma bundinha linda de se
ver, imaginei como seria arregaçar aquilo e fazer fonfom, umas coxas malhadas,
uma perna bonita, o andar de sapatão. Mas eu tenho atração por sapatão também.
Não tenho por travesti. É engraçado isso. Fiquei encarando, ela passava baixava
a vista, mas quem sabe... Estou solteiro mesmo. Um dia talvez... E nem seja tão
sapatão assim. Ou nem seja...
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