A Primeira Semana de Moda do Planeta estava encerrada. Todos recolheram suas tralhas, as equipes, dentre profissionais da alta costura, de agências de modelos, de meios de comunicação e tudo o mais, estavam tirando o time de campo.
Durvalina permaneceu calada,
pensativa, sem mover um cílio sequer. Finalmente, quando as luzes se apagaram,
ela gritou:
- Espera seu antipático !
Aquele grito solitário, num
galpão vazio, ecoou, como igreja vazia, com um som solitário.
Ninguém a escutou. Ela teve de
ir para o quarto, sozinha no elevador. O voo que os levaria de volta, só no
outro dia, no fim da tarde.
- Alô!
- Alô seu antipático!
- Oi Durvalina. Boa noite!
Perguntar-me-ás: e o que
aconteceu depois? Usem sua imaginação. Só posso dizer que Troglô, zangado, ainda
na Earth Planet Fashion Wieek falou que só a aceitaria em seu quarto se tivesse
cu. Lembras? Então, como um fluxograma para programação de computador, tentemos
fazer todas as possibilidades.











NÃO FIZERAM SEXO
TOMOU NO RABO
São tantas possibilidades só em
uma simples suposição que sempre é melhor saber logo a verdade. E essa verdade,
infelizmente não sei qual é. Exercite sua cabeça, antes que chegue o Alzheimer
e te leve para o mundo da abstração completa.
Chegaram à Rede, já namorando.
Mas o que fazer? Assumir em público, ou ficar enrustido? Troglô tomou uma
decisão. Foi ao RH e perguntou se havia alguma restrição de duas pessoas na
mesma empresa, namorarem. O Diretor, Doutor Crisólogo, grande advogado de causas
impossíveis, não sabia responder. Aliás, naquela situação que não era para ele,
ele não sabia nada. Estava boiando.
Decidiram assumir.
Apesar dos pesares, as normas
internas da maioria das empresas, ninguém sabe, ninguém viu, é a própria
Conceição, cantada pelo Cauby. Qual a missão da empresa? Não sei. O
organograma? Não sei. O Regimento Interno? Não sei. O fluxograma? Não sei. Empresa
no Brasil é um mar de incertezas por todos os lados, que muitas vezes só não
naufraga, por jogar toda sua bagagem inútil, para o mercado, ou para o estado,
pois até isso, capitalista não é feito para correr risco, neste mercado de
pulgas.
É como o banco do Silvio Santos,
uma instituição financeira, dirigida por um advogado, quando afunda, a culpa é
da Administração do País. Êpa. A culpa é do M.I.T. e do modelo neoliberal que
acha que qualquer bosta n’ água, pode ser
tudo, desde que... Esse desde que é que ainda não está bem definido para
ninguém. De vez em quando, o cara é um grande maquiador de drag-queen, mas o mercado está estagnado, entra numa seleção para
técnico sênior de informática e mexe os pauzinhos para cá e para lá, acaba
sendo contratado. O resultado depois, é que é fatídico, ou fatal. Um tal de
baratear custos, contratando qualquer porcaria, depois se vem dizer que não há
profissional competente no mercado. O problema são os incompetentes na empresa
que têm medo de remunerar decentemente quem tem competência, para não perder
seu posto para quem chegou depois.
Todos sabiam que desde a ida do
casal à EPFW, houve uma ligação direta entre os dois que não se desgrudavam
mais. Eram unha e carne, como briga de mulher, em salão de beleza, antes das
duas tratarem e pintarem as unhas, senão não sai briga, nem se meterem no meio
da mãe. Era mais unha na carne, e sobrava uma lasca, debaixo da unha, sempre. É
briga de mulher. E se depois de pagarem os serviços do salão, alguém desfazer o
trabalho que tiveram, acaba em morte.
Durvalina e Troglô eram a
felicidade em pessoa. E muitas vezes, a felicidade dos outros, é como uma faca,
ferindo quem adora a infelicidade pessoal e ao invés de procurar ser feliz,
prefere fazer de tudo para trazer para o seu nível, os outros a quem acreditam
ser inimigos.
O Diretor de Redação, a cada dia
que os via mais felizes, ficava mais chateado, como se aquilo fosse uma afronta
a ele. Era desses messiânicos que acreditava que a felicidade de verdade, só é
possível, depois da morte. Mas depois da morte, é a morte. Alguém duvida? Só o
Gasparzinho, é que consegue brincar, ajudar as pessoas, ser personagem, só que
de ficção. Ou de fricção, pois ele consegue atravessar parede. Deve ficar todo
arranhado.
Alguém chegou por trás, no mal
sentido, no estacionamento da empresa e os alertou do que estava acontecendo. Muita
felicidade era sinal de ineficiência, para quem nunca estudou as relações
interpessoais num ambiente com muita gente. Assim como amizade, carinho,
piada... Em suma, muitas empresas mais parecem um templo religioso, onde se vai
pisar em ovos, para não desagradar o Deus, na cadeira de CEO, ou do Inferno. Se
I, Ou, não sei, só sei que tem muita gente que não sabe como fazer o principal
e cuida só do secundário. Depois, não sabem, porque só dá prejuíjo.
Então o casal decidiu ser o mais
discreto possível, na zona de trabalho. Troglô não aguentou muito e decidiu que
era hora deles morarem juntos. Ver Durvalina para cá e para lá, não poder nem
passar a mão na bunda dela, era demais. Ele tinha de tê-la, no péssimo sentindo
da coisa.
Tem besta para tudo. A melhor
relação do mundo é aquela, onde a distância é como uma pimenta a mais, um
tempero para motivar ainda mais o amor. Viver junto, nem por decreto. Mas isso
é pensamento de solteiro arraigado. A grande maioria, ainda acredita na eternidade.
Acha que aquela buceta linda e maravilhosa vai permanecer para todo o sempre,
do mesmo jeito. Ou que aquele pau vigoroso, estará sempre teso, quando
precisar. E mesmo que funcione assim, às vezes, enjoa, depois da primeira, da
segunda, ou da última cacetada bem dada. O problema da eternidade, é que antes
que se consiga chegar lá, os peitos caem, o saco cresce, se existe, pelo menos
nos deixa chupando do dedo, com os fatos que nos cercam, no dia a dia. Aliás, o
dia a dia foi feito para acabar com o tesão de qualquer um. Aquele homem
atlético, acaba sendo visto como aquele cara patético. Aquele cuzinho
delicioso, acaba sendo visto como aquele cu, na expressão da má palavra. Viver
eternamente junto, ou é tara, ou é uma condição de leseira profunda.
Mas eles são maiores, sabem o
que fazem. Eu é que vou meter no meio dos dois. Que nada, se tiver de meter, é
no meio dela e melhor, se for casada, para não encher o saco e ficar
pressionando para casarmos, pois ela já é casada, não precisa mais disso, mas,
tão somente daquilo.
Foram morar juntos.
Troglô, era visto como
troglodita, por não se adequar aos ditames da sociedade, por ter personalidade
própria, e, principalmente, por não fazer média, ao dizer o que sente. Num
mundo, onde todo mundo quer ser delicado e acaba sendo mentiroso e outras
vezes, canalha, quem fala o que pensa, pena que dá pena.
Era o marido que as amigas
queriam, para si. Dividia as tarefas de casa, tomava decisões, muitas vezes,
para não deixá-la se cansar, era companheiro, fazia tudo, em comum acordo com
Durvalina.
Em uma manhã de sol, as amigas
de colégio reunidas, Durvalina deu uma notícia que caiu como uma bomba.
- Estou pensando em pedir o
divórcio. Não aguento mais!
As amigas atônitas e agoniadas,
queriam saber por que.
- É a mania de comer cu?
- Não. Ele até cansou dessa
leseira!
- Tens outro?
- Quem diria!
- Ele tem outra?
- Se tem, sabe disfarçar muito
bem.
- Ele te bate?
- Muito pelo contrário, é um
homem que sabe controlar seus impulsos mais submersos!
- Ele...
- Vou contar pra vocês! Ele é o
homem ideal, mas não fala que me ama!
As amigas de Durvalina acharam
que ela estava com toda a razão. Uma coisa dessas era imperdoável, quando
chegou Clotilde, toda machucada, chorando como cachoeira em dia de chuva e
perguntaram o que tinha havido.
- O Claudionor! Ele me mandou
flores, um cartão com uma poesia divina, caramelos e chocolates, pagou um helicóptero
para jogar pétalas de rosas encima de mim, foi à televisão, declarar para todo
o mundo, o amor que sentia por mim, no Dia Internacional da Mulher...
- E então?
- Então, na frente dos outros,
ele é o amante mais perfeito, fala as coisas mais bonitas do mundo. Quando
estamos sós, tenho de ficar de boca calada, e até sem me mexer, pois qualquer
coisa que o desagrade, ele me mete a porrada. Fala toda hora que me ama, mas eu
estou cansada de lavar, passar, cozinhar, como a empregada da casa e ele, como
o patrão exigente. Não adianta fazer o turno no emprego, no colégio das
crianças e em casa, não adianta ser submissa, não adianta nada do que eu faça,
pois ele sempre acha que é pouco. Em casa, ele é o rei e eu sou a serviçal não
remunerada que tenho de saber o que ele está pensando.
Todas olharam no mesmo instante
para Durvalina.
- E então Durvalina? O Troglô que
é diferente, ainda tem de declarar amor eterno, ou tu vais aprender a inferir,
encima das ações que ele despende em relação a ti? O problema é dele declarar
amor, ou de tu nã saberes identificar, sem precisar fazer anúncio?
Durvalina pensou, pensou, quando
as amigas estavam em casa, quando o garçon
veio anunciar que já havia passado da hora de fechar o bar, ela chamou-o.
- Oi antipático!
Troglô até queria ser perfeito,
mas quanto mais perfeito se mostra, mais psicopata se é. Na verdade, normal é
ser diferente. Assim como o Príncipe Encantado só em contos infantis e de
antigamente, a Cinderela tem de decidir o que é melhor para si.
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