sexta-feira, 5 de abril de 2013

PERNOSTICISMO



Eu reputo ao Neoliberalismo, a ascensão de todo pernosticismo que tenho visto.
As pessoas estão tão pernósticas que nem se tocam.
Assim como nosso biótipo tem sido modificado pelo tipo de alimentação a que somos expostos, nossa maneira de nos relacionar também tem sido mudada radicalmente, com uma injeção de estímulos por todos os lados nos dizendo para sermos pernósticos.
Incoerentemente, esse sistema econômico, social, político e de costumes, valeu-se grandemente da religião. E o principal erro, pecado, desvio de caráter, o que se chamar em cada uma das religiões para isso, é a soberba.
O que tem de gente se autoclassificando e ao mesmo tempo querendo ser humilde, o que tem de gente dizendo aos outros que é assim, assado, o que antigamente, se deixava que outros nos dissessem como somos vistos, que me trás à lembrança logo, o discurso de Jesus contra os fariseus, na entrada do templo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno. Os hipócritas religiosos de nossos dias cumprem seus deveres religiosos externos perfeitamente, mas permitem que pecados como orgulho, inveja e ódio floresçam por dentro, duas vezes mais do que vós" (Mateus 23:15)
As doenças espirituais que atacam aqueles que já estão caminhando com Cristo é a vaidade e a soberba. A pessoa que diz que não é vaidoso já está sendo. Porque nós não nos conformamos com aquilo que somos. Um filho sempre se sente o mais amado ou o mais desprezado, isso para não ser simplesmente igual aos outros.
Virou costume, até aceito socialmente que as pessoas se classifiquem, até com certo alarde que seus feitos, ou ao menos a vontade de ser aquela pessoa imaginada, sejam lançados aos cinco ventos, por ela própria. Como já disse, o tal Marketing Pessoal, é a oposição da soberba. Como ser religioso e ao mesmo tempo mostrar sua propaganda pessoal?
É um teorema muito difícil de resolver, para quem ao mesmo tempo segue a onda e quer ter seu lugar no Paraíso, após o Dia do Juízo Final. Mas infelizmente, o Deus Único é Onisciente. Quer dizer, se houver o Sono Eterno, ou o Inferno, vou ter tanta companhia. O carola que entra prostrado de joelhos no templo, é o mesmo que lá fora se mostra como acima até do próprio D’us que professa.
É como se dissessem a todo momento que quem não se “vende”, não tem lugar na pradaria. Então, para não ficar em desvantagem, tenho de fazer o mesmo jogo dos outros, sem pensar se realmente é o que se quer.
Dia desses, um taxista vinha conversando, dizendo que um “pica grossa” desses da vida, tinha conseguido que alguém que se fazia de muito íntegro, fosse cooptado para as suas ações, nem tanto assim. Então, ele repetiu o que o cidadão disse: “Todos têm seu preço!” E complementei: “Principalmente quem não tem caráter!”
É muito simples querer jogar todo mundo na lama, por se viver na pocilga. Quero ver a pessoa sustentar seu ponto de vista, sem precisar denegrir a imagem alheia. E isso, tem de monte. Uns recalcados que antes de se mostrarem integralmente já mancham a imagem alheia, para assim, serem aceitos como “mais um dos que fazem a sujeira, mas é o que se pode fazer para sobreviver. Se o mundo fosse diferente, eu seria ético”. A culpa da minha falta de honra, de hombridade até, não é minha, mas de um contexto perverso que eu mesmo não faço questão de me contrapor.
Estava vendo a reintegração de posse, do mandato do Seu Arlindo Porto, no cargo de Deputado Estadual, visto que foi o único em todo o Brasil, a ser caçado por seus pares, quando os outros todos, foram caçados pelo comando da Ditadura Militar. Não concordei muito com o discurso do Arthur Neto, mas ele trouxe à luz, fatos interessantes. O da própria Ditadura, dar ordem aos Deputados ávidos em se fazer mais real do que o rei, que legaram ao ostracismo Seu Arlindo Porto, de não caçarem mais ninguém. Ou seja, uns baba-ovos tão intensos, que seu ato de lamber botas, enojou inclusive a quem era nojento e asqueroso por princípio.
Mas na onda da pernosticidade, atentei para o fato de algumas pessoas que aplaudiam os discursos inflamados contra a Ditadura Militar, até de forma efusiva, terem elas mesmas, apoiado-a. Em seguida o Prefeito de Manaus, atentou que tem gente que sempre boia, depois de descer à sujeira. Sempre estão próximo ao poder. Talvez tenha lido meu pensamento. Mesmo assim, essas pessoas sem muito “semancol”, continuaram a aplaudi-lo muito mais.
Hoje, todo mundo quer se mostrar, quer gritar sua capacidade, mesmo que muitas vezes nem a tenha, mas para se igualar aos demais. Justamente num mundo onde existe igreja para todos os gostos e a interpretação do Messianismo seja vasta, do fim da vida, ao fim dos tempos. Cada um interpreta da sua maneira mais conveniente. Esquecem todos que a soberba, seja no Hinduísmo, com Brahma, Shiva e Vishnu, no Budismo, na Mitologia Greco-Romana, no Judaísmo, no Islamismo, no Cristianismo etc., é vista como uma coisa tão nociva a todos que quem a comete, sempre acaba dando exemplo de como ela mesma se pune. Noé fez a Arca, seguiu as ordens de D’us, mas achou que era o cara. Bebeu, quis estuprar sua nora, caiu em desgraça. Há a história de um Buda que tinha fama tanto de beberrão, quanto de “comedor de gente viva” que embebedou a mãe, colocou-a em frente aos cidadãos, levou-a para a cama e deu uma lição nela, por essa se mostrar tão digna e ter se deixado levar pela soberba de se entregar a um Buda, como se fosse o máximo da elevação humana, mesmo esse Buda, sendo seu filho.
As pessoas estão assim, tão soberbas que é difícil manter uma conversar com perguntas e respostas, com um assunto só, debatido pelos partícipes, pois todos querem ser mais, querem se mostrar mais do que os outros. E acaba que parece que numa conversa de cem pessoas, tem-se cem assuntos diferentes, cada um mostrando sua parte acima dos demais.
Dia desses, assistindo um desses programas sobre casais, a instrutora brasileira atentou ao marido que ele se achava tão acima da esposa que quando ela tentava falar alguma coisa, expressar-se, ele a interrompia, até mudava de assunto e se tivesse acompanhado, fazia a esposa se sentir invisível.  Talvez fosse um medo dela ser melhor do que ele, justamente tentando fazê-la calar, pudesse puxá-la para seu nível que pensava inferior, mas sem dar o braço a torcer.
Hoje, ouvi uma palestra sobre como se trata pessoa com necessidades especiais no país. O surdo, o cego, o deficiente físico, mesmo que tenham capacidade de responder, de discernir, quando têm de ser feito, ou de responder alguma coisa, seja no balcão de viagem, ou no atendimento médico, ao invés de se perguntar diretamente à pessoa, sempre se pergunta ao acompanhante, deixando a pessoa com necessidades especiais, sentindo-se invisível.
Mas isso não é um fato isolado, tem explicação. Freud explica!
Para existir o soberbo, tem de se tentar diminuir os outros, e principalmente quem esse soberbo acha acima dele. É um cálculo simples. O soberbo não sabe deixar que o vejam como ele é, sem que grite antes, os defeitos alheios, para esconder suas deficiências.
Mas, esse modo de se destacar, está com seus dias contados. A Gogólogia, ou a Gargantologia já não convencem mais muita gente, mesmo porque, têm deixado rastros de incompetência e até de tragédia por todos os lados por quando se tem de mostrar competência na prática, o discurso é bem outro. O profissional que antes de mostrar eficácia, dá um discurso sobre si, de derrubar foguete, está com os dias contados. Depois, como disse o Nizam Guanaes, “o Marketing Pessoa não entrega tudo aquilo que promete!” Vai ser uma onda de suicídios, de depressão, pois a soberba, nada mais é do que um complexo de superioridade, mas como dizem alguns especialistas da área, complexo de superioridade não existe, o que há de verdade, é um complexo de inferioridade, mascarado com esse arroubo de se mostra quase uma personagem mística.
Em suma, formamos uma sociedade que tem vergonha de si e ao invés de batalhar para ser eficaz, procura vencer na moleza, com esse discurso da soberba, com esses jeito pernóstico, não por ser e saber que é o cara, mas por se esconder do mundo, para não verem sua incapacidade, inclusive de viver a realidade.

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