segunda-feira, 21 de setembro de 2015

UMA FESTA JUNINA


CADERNO 2
Eu sempre digo que para mim – pessoa física, Thevis Bayma Valle, sim, porque no Brasil de um povo mal instruído e até destruído em termos de saber, com a internet na mão, o que o cara diz que gosta, um monte de leso vem discutir que não é possível. Gosto não se discute, é como cu, cada um tem o seu, o que se discute é mau gosto, no que esse pessoal está exagerando. Uma vez, logo que o Arnaldo Antunes saiu dos Titãs, fui procurar o disco que ele lançou e três meninas atrás, pentelhando, achando que o Antunes era uma bosta, aquele papo leso, quando saí da ilha de audição, elas pegaram uns discos de Sertanejo, essa porcaria de um monte de biba enrustida, cantando que gosta de mulher e na verdade, é a Country-Music disfarçada, uma bosta traduzida do Inglês, imagina em Cornuguès, ou Viadoguês. Eu estou dizendo que EU gostava -, as festas juninas eram mais interessantes do que o carnaval. Quando realizada na Praça General Osório que a Ditadura fechou e transformou na área esportiva do Colégio Militar, era onde a Cidade se reunia, em termos de festa junina. Os políticos podiam fazer sua campanha só ali. Com o fim da praça pública, tentou-se realizar um festival, com o mesmo sucesso, em vários lugares e nunca mais deu certo. Até chegar o Amazonino e deslocar o foco, para o Festival de Parintins e transformar as festas juninas no Amazonas, em julina, agostina, setembrina, até o fim do ano, tem festival folclórico pelos interiores, sempre depois do Boi de Parintins, num lapso no calendário de eventos, o que agora, dá visibilidade à muita gente sem plataforma, sem caráter, sem nada, mas com muita pieguice. Todo mundo beijando os Bois, dá mais votos do que o General Médici que matava gente às pampas, mas no domingo ia à igreja chorar a morte de Jesus, vestia a camisa do Fluminense – que Deus me livre – e na saída, beijava criancinha, para dizerem que er um bom cristão. Acredito! Eu é quem nem cristão sou!
Em junho, dava para comer de todo jeito. E tudo gorduroso. Banana frita, torta de banana, banana verde frita, vatapá, caruru, maçã do amor, pirarucu de casaca, tacacá e de vez em quando, ainda sobrava uma racha. Gordurosa, mas no espeto, ficava no jeito. Como disse um repórter que morou uma época no Amazonas e depois, da França, escreveu o que pensava.
- No Amazonas, a mulher quando está se penteando, diz que vai à festa, mas a festa é fazer sexo, senão não tem graça.
-...-
Devo dizer que depois de adulto, fui a um festival no estacionamento do Estádio Vivaldo Lima, aquele pardieiro escroto que deu lugar à arena da Amazônia. Foi meu dia de sorte. Encontrei uns amigos, família, família, família. Papai, mamãe, filhinhos, vizinhas, cachorro, papagaio, periquito, gatinho... Então ficamos juntos e na entramos todos, na atração da Monga, a mulher gorila, já engatei uma amizade com as vizinhas deles. A transformação da Monga em gorila, gritos, não era de susto, era de dedada. Nem estavam se importando com a Monga, cada dedada, uma gritaria enorme. Umas paranaenses louras, de olhos azuis, e outra que se diz atriz. A Claudia Oxana, algo assim. Ali mesmo, no escuro, já combinamos de jogar uma peladinha, cada uma por vez.
Uma no dia seguinte, a outra, depois e assim por diante, até começar tudo de novo.
Depois da Monga, resolvi ir num daqueles aparelhos radicais de parque de diversão. Tão radical, que em outros anos, jogou os clientes no meio da rua. E na minha frente havia uma garota até “degustável”. Quando fecharam as portas, as coisas, ela se virou para trás.
- Me agarra!
Eu sou tímido, pensei que fosse para ela não cair, ser jogada, segurei com parcimônia nos ombros.
- Não.  Me agarra, entendeu?
- Como? Assim?
Já foi mão nos peitos, acho que nem deu para sentir medo, porque não teve chance para isso. Quando acabou, ela se virou.
- Vamos de novo?
Até que eu queria, até porque a cueca estava dando a maior bandeira. Fazendo volume, quando o coração bate no meio da virilha. Falei que tinha de encontrar o pessoal. Podia ter ficado com ela naquele dia, nos outros, com o pessoal. Pensei que iríamos sair dali, para uma peladinha, foi todo mundo para casa. E pior, não encontrei mais a garota do parquinho.
No outro dia, como combinado, liguei e fomos ao Parque. Aphrodite Park Motel. Perguntei à cidadã, porque não fizemos aquela brincadeira na noite anterior.
- Ah, eu estava com o pessoal, sabe, ia ficar meio chato. Mas você devia ter seguido o carro e me pegado depois.
Acabei na munheca em casa, nem a colega, nem a “medrosa”.
Moravam num condomínio enorme, é tanto portão, eu ia ficar do lado de fora, torcendo para ela perceber que eu os estava seguindo. E se não percebesse, o pessoal da guarita já iria pensar que era assalto, no mínimo um tiro nos óvulos.
É cada uma. Depois dali, do Parque, nem ela, nem as outras. Quando perguntei o que havia acontecido, ela me falou que não queria mais, deve ter falado mal de mim,  para as outras. Perguntei o que eu fiz.
- Você não me beijou.
- Beijei sim.
- Não me beijou na boca.
É lesa? E os lábios, grandes e pequenos, não contam? Eu beijei muito!
- De novo, só se namorar.
- Rola um cuzinho amor?
- Só namorando.
Mas tem mil! Dá umazinha e já fica de chantagem? Bem que era o corpo. Mas o cara ter de ficar grudado, só para saciar o desejo? Muito obrigado.  É uma obsessão com namoro. Por isso que as mulheres são infelizes e sofrem de uma prisão de ventre danada. Libera mulher!
-...-
Durante as festas de junho em Manaus, era cheiro de fumaça e de pólvora seca, em toda Manaus. Cada rua tinha a sua festa, cada bairro, cada colégio, cada sítio, Era um tempo de muita confraternização, muito congraçamento. Aí dizem que é o progresso, acabam com as oportunidades das pessoas se conhecerem e se fica correndo de bandido. É lógico. Se eu não te conheço, não tenho o menor compromisso contigo, vou te respeitar? Se eu te conhecer, começo a respeitar e já fica mais difícil chegar a extremos. Já dizia o Pequeno Príncipe que quem cativa o outro, começa a ficar importante, até a hora de se encontrar, já causa uma sensação de querer estar junto. No dia que mudarem os conceitos de civilização, as pessoas começarem a se respeitar e a se verem como iguais, quem sabe, a criminalidade baixe um pouco?  O “progresso”, para quem nunca estudou Ciência, foi tirar o Aviaquário da Matriz, o banho do Parque Dez. o zoológico do Parque Dez, as festas nas ruas, a amizade entre vizinhos – essa, desestimulada pela Ditadura. Manter os vizinhos conversando nas ruas, um ajudando o outro, poderia ser muito perigoso, qualquer ajuntamento de mais de duas pessoas que não fosse casamento, era desestimulado. Cada um nas suas casas, de preferência, sem o menor contato. No máximo um bom dia e um boa noite, quando se encontravam no elevador. Já dizia Goebels, ideólogo de Hitler e do Coronel Golbery do Couto e Silva: “dividir para dominar” –, a Praia da Baixa da Égua, a praia do Educando, do Monte Cristo, de São Raimundo, os banhos do Aleixo, do V8, o Tarumã Açú e o Tarumã Mirim, a Ponte da Bolívia até a Praia da Ponta Negra que ficou privatizada para os moradores dos condomínios de luxo. Não se pode mais fazer nada lá. A Parada Gay que era uma atração foi deslocada para o Sambódromo e ainda se tem de pagar, como se fosse um zoológico, onde se paga para ver animais raros, ou estranhos. Isso, porque dizem que Manaus não é preconceituosa. A Parada Gay, restrita, é sinal de quê?
Manaus é uma cidade de guetos. Os gaúchos se fecham em seus grupos, os paulistas, os cearenses, cada um, separado e segregando todo mundo. Depois, não se entende, como uma cidade que era cordial entre seus cidadãos, virou quase um filme de Western de categoria C e como essa violência desmedida, acaba gerando políticos, como os Irmãos Sousa, a Família Castelo Branco, Omar Aziz, Henrique Oliveira e tantos outros que se alimentam disso.
-...-
Em toda Manaus, havia uma fogueira, mesmo porque, era possível fazê-las, primeiro, porque não havia tanto asfalto, depois, nem tanto fio de energia, nem tanto carro nas ruas e a temperatura, inclusive em Manaus, era mais amena, depois da 18:00h, os vidros dos carros, embaçavam, saindo um pouco do Centro, já no V8, na Ponta Negra, a temperatura era fresca e amena. A umidade do ar, fazia com que se sentisse frio. E aí o pessoal diz que poluir os rios, acabar com a alegria de uma cidade, destruir as árvores nas ruas, desde a Avenida Eduardo Ribeiro, até o fim da Joaquim Nabuco, é progresso. Não foi o que eu estudei, onde progresso é se aliar o conhecimento adquirido, com uma melhor qualidade de vida. O cara estuda pacaralho e de repente, faz tudo ao contrário, torna a vida uma bosta e diz que é “pogresso?” Mudou!
Tem como pavimentar as ruas, permitindo que tenham capilaridade e não escoem as águas pluviais, tornando uma tragédia, como uma inundação súbita? Tem. Em se utilizando esse saber, é progresso, não o contrário. Tem como manter as cidades com seus recursos hídricos servindo tanto para o lazer, quanto para a higiene? Tem. Isso sim é progresso. Tem como fazer esgotos que não sejam retos, gerando um tsunami, quando o volume hídrico enfrenta um obstáculo? Tem. Tem como utilizar morros e encostas, como o faziam os incas há uma caralhada de tempos, sem que o solo fique encharcado e gere traumas a cada verão? Tem. Então, isso é progresso. Destruir, fazendo o mesmo que se fazia há séculos atrás, por falta de conhecimento, é burrice.
-...-
Quando estudante de Economia chegou um grupo de brasilianistas chineses e nos pediram para ciceroneá-los. O pessoal do Centro Acadêmico de Economia. O Jefferson Praia, o Zé Ricardo Wendling, eu e talvez, mais outros. Uma caminhonete pequena, cabine simples, a maioria na boleia. Fomos mostrar-lhes as fazendas que eles queriam conhecer. Ficaram abismados em saber que no Brasil, para se produzir muito menos que se produzia na China, dispunha-se de uma quantidade enorme de terras. Uma fazenda produzia mamão que também alimentava os porcos, o esterco das galinhas, servia de adubo, o cocô dos porcos, alimentava a criação de peixes, os frangos mortos, alimentavam os porcos e assim por diante. Acharam sensacional, a utilização dos recursos próprios e da cabeça de um caboclo sem estudo, mas com criatividade, mas ainda abalados com a quantidade de hectares necessários para se produzir tão pouco. O bom mesmo foi aprender sobre Economia Brasileira, com eles. Meu professor de Economia Brasileira, foi o Jefferson Peres, era advogado e muito invocado. Com eles, poucos minutos, davam lição sobre o Brasil, a terra onde eu moro e conheço tão pouco. Aprendi mais sobre o Brasil com as poucas horas que passamos juntos, do que um curso inteiro. Mas então, em um sítio, acho que na BR 174, decidimos nos banhar num igarapé. Eu pensei que as chinesas fossem ficar de biquíni, ou ao menos de bermudas. Elas entraram na água, com o vestido que estavam usando. Nem um peitinho, nem mesmo o joelinho, as colegas estavam empacotadas da goela, até o dedão do pé. Na volta, já noite, na boleia, algum dos colegas reclamou que estava sentindo frio. Uma das chinesas atentou que não era frio, era o efeito da umidade, no corpo molhado.
Vai agora para a AM 010, AM 070, ou BR 174, para ver se há essa mudança de temperatura, essa baixa de pelo menos uns 5°C?
- É o “pogresso!”
-...-
As festas juninas atuavam na libido. O Festival do Colégio Marquês de Santa Cruz, os meninos ficavam excitados com as meninas, as meninas, com os meninos. Era a Dança do Café, do Beija-Flor, do Ventre, do Tipiti que era tradicional da Escola Técnica Federal, assim como o Cacetinho que ele tratavam o cacete com um carinho enorme, da Abelinha, do pessoal do Coroado, umas garotas, “gostosas”, mas os segurança ficavam na saída, não dava nem para mandar beijinho etc. Agora, ou é Boi, ou Ciranda, onde os garotos requebram mais do que as meninas e pior, proibiram das dançantes usarem tanguinhas, o que deixava os espectadores boquiabertos, a minissaia subia na virada, umas calcinhas tão mínimas e de rendinha, coisinha mais linda, dava vontade de ser a renda, que olhasse com boa vontade, dava para enxergar até o útero. Agora tem de ser de ceroulas.  Ou seja, a civilização amazônica que era galgada na sexualidade e no respeito a todos os gêneros e idades, deu lugar a um conceito europeu-cristão, muito cheio de não me toques, mas uma safadeza por baixo dos panos, silenciada.
Também, dizem que para integrar este grupo político que nos tem achincalhado, desde os anos de 1980, tem de usar drogas e brincar com a bundinha. Quem não se dispuser, pode até ser bom político, ter ótimas propostas, mas o que dá o tom da gestão do Amazonas na política é o cu. Se fizessem o Teste da Farinha, para poderem se inscrever eleitoralmente, ninguém deste grupo, passaria. A rainha já foi, dizem que só tem princesa. Não se pode esperar que suas propostas, sejam melhores do que o próprio cu. Tudo enrustido, casado com baranga, para não se revelar mulher, mulher, mulher.
Assim conta a lenda. As festas, regadas a muitas meninas e outros meninos, parece defesa de osga, ou de jacaré em perigo. Todo mundo soltando o rabo. Mas é todo mundo religioso até a alma e todos têm seu jaburu de estimação, para apresentar como sua “esposa” oficial. É cada Primeira Mulher-Dama que faz medo!
E são esses que querem fazer do Amazonas, um lugar de gente assexuada, desde que não esteja intramuros de suas bacanais.
-...-
Os 15 anos de Dona Themis no Formigal, foi épico. 22 de junho. Tinha fogueira, quentão, banda de xaxado, trio nordestino, o chato foi no dia seguinte. Os motoristas da frente da empresa de Seu Clóvis, querendo que eu “pegasse” as meninas.
- Fica soltando bombinha, fica brincando sozinho, ao invés de “comer” as meninas.
Eu tinha 15 anos até aquele momento, mas até hoje, com 55 anos, quando eu saio para me divertir, é para me divertir. Se surgir algo mais que interesse, aí são outras coisas. Não fico me torturando, pensando em ir à festa, para “comer” alguém. Eu vou para me divertir. Se soltar bombinha está me divertindo, ótimo. Se dar uma pirocada for mais divertido. Ótimo. Mas não condiciono as coisas. É mais ou menos, como diz o Budismo sobre a ansiedade. O cara está na beira de um lago sozinho, sentindo paz e satisfação, de repente fica pensando que se estivesse na cidade, poderia ir ao cinema. Vai ao cinema, fica pensando em ir a um restaurante, no restaurante, antes de curtir o lugar, já pensa em ir ao motel, quando chega no motel, fica pensando que se estivesse no lago, estaria melhor. Nunca se está satisfeito com o momento, sempre se pensa no futuro. É o que gera a ansiedade.
Parece o irmão da Acácia que disse que nunca me viu “comendo” ninguém. E nunca vai ver. Eu faço isso, só entre mim e a pessoa que estiver comigo. Ele vestido já é feiol, imagina nu. Não é o meu prato favorito.  Nem eu, o vi “comer” alguém. Graças a Deus. Imagina aquela bunda flácida, branca e batida, à mostra.
Ou uma conhecida que nem me conhecia ainda, já saiu dizendo que nunca “comi” ninguém que não fossem as caboquinhas. Tem bola de cristal? E ela, nem daqui é.  
As pessoas se acham muito importantes. Nunca se colocaram diante do mundo. Do universo. O maior de nós é nada, diante da imensidão. E temos prazo de validade. Até a nossa galáxia vai acabar um dia. Por que se achar tão grande que mesmo depois de tudo, ainda acha que vai continuar importante? O mundo acaba, mas um ser superior vai se lembrar, num mundo que é o não mundo.
- Ah, mas o Thevis, que saudade.
Quanta leseira!
Somos importantes sim, mas não acima de nossa capacidade de momento e de lugar no universo. É um deslumbramento desgraçado. Pergunta quem és tu, fora da Terra, na Lua, ao menos. Ninguém.
-...-
Outra das festas que eu me lembro, foi do Curso de Medicina. Num sítio afastado, todo mundo estacionou num areal danado e a festa era numa casa ampla, num salão bem grande. Festa mesmo, só um som tocando umas músicas de época, todo mundo olhando para a cara de todo mundo. A quadrilha, as meninas não queriam dançar, uma porcaria, nem houve, não queriam sujar a roupa, suar. Então, chamaram para o bingo. Foi a única alegria do pessoal. Ficou tanta gente alegre que parecia Festa Bingolina. Ficamos recostados nos carros, no estacionamento. Os viciados, no salão principal, com as cartelas e ávidos em escutar a chamada do número sorteado. Um cara com voz empostada gritava.
- Dois patinhos na lagoa! Número viiiiinte e dois!
E aquele alvoroço. Eita coisa chata. Então decidimos nos dividir e do areal, quando o cara gritava, cada um perguntava.
- O quê?
O cara fazia questão de repetir, parecia que o fazia muito importante.
- Dois patinhos na lagoa. Número viiinte e dois!
Parece que estava gravado.
A audiência já estava ficando chateada.
- Olha, cheguem mais perto.
- Mas nós queremos ficar aqui.
O pessoal querendo gritar “Bingo” e nós enchendo a paciência, sem nenhuma cartela sequer. Mas ninguém sabia, pois de onde estávamos, era bem distante do salão. E o cara sem se importar, continuava a gritar os números sacados.
- O quê mermão?
- Oh sonzinho escroto. Aumenta.
E era ruim mesmo. Quando aumentava, dava a maior microfonia, distorcia tudo. Mesmo porque, gente burra, quando tem o microfone na mão, procura logo ficar em frente da caixa de som. Os guitarristas em Woodstock colocavam a guitarra na frente da caixa, para gerar distorção, com o campo magnético gerado entre o autofalante e o captador da guitarra, era de propósito, sabiam o que estavam fazendo, mas gerar microfonia, quando se quer um som limpo, é burrice. E continuamos a encher a paciência. 
- Não dá pra escutar daqui.
- Repete!
O pessoal já estava com cara de quem iria nos pegar e nos estraçalhar, a melhor coisa a se fazer, foi tirar o time de campo, fomos procurar um lugar mais divertido.
O bingo deve ter acabado na manhã do outro dia.
Esses viciados em bingo parecem os perdedores das últimas eleições. Deselegantes e irascíveis. Não sabiam dialogar.
- Vem pra cá caralho!
- Eu não. Eu quero ficar aqui.
- Olha, então vai se foder!
Uma turma de Medicina, sempre de classes mais abonadas, dirigindo-se a nós, com palavras tão chulas, de um jeito que pareciam ter a mãe na zona.
-...-
Mas a festa a que eu me refiro, foi no sítio do Gener.
Eu tinha a turma do Colégio, Bustela, Pirocka. A turma da Agronomia, Acácia, Kombi, Menudo. A turma das Kaneko, amigas e agregados. Uma vez eu fui ao cinema com a Marcinha. Éramos dois. De repente, umas amigas chegaram e ficaram na nossa frente. Chegaram os amigos das amigas, ficaram na frente. A fila andava para trás. Até que chegaram dois e a Marcinha falou que era o namorado de uma amiga. Era o Paulo que depois casou com a Monica e depois se separaram. Eu conheço todo mundo, de um jeito, ou de outro.
Era filme de terror, mas virou filme de humor. Pegamos duas fileiras de banco e à frente, duas americanas que estavam ligadíssimas, tão entretidas que desligaram do que ocorria em volta. Quando a cena começava a ficar mais quente, pegavam na nuca das americanas, elas só faltavam saltar de medo. Depois ficou todo mundo amigo. Havia a turma da Economia e da FES, de onde o Gener era originário.  Mas de vez em quando, misturava todo mundo, não tinha divisão alguma. Acabava numa única turma.
Então a festa junina foi marcada no sítio do Gener.
Para começar e mal, eu tinha um saco de dormir, todo camuflado. Não que eu goste desses motivos militares, mas era o único que havia, quando fui comprar. Depois de um tempo, a Acácia me pediu emprestado, pensei que ela fosse acampar, coisa parecida. Emprestar para a Acácia é como emprestar a Deus. A fundo perdido. Nada volta, pelo menos o que é meu.
Ela estava namorando um hippie do Recife, e um dia, no Centro, vi o hippie com a capa do saco de dormir, toda costurada de um jeito, que virou uma bolsa que ele cruzava no corpo. Tudo o que ele tinha, estava ali.
No dia da festa, combinei com as Kaneko, mas a única que foi, justamente a Super K. O pessoal da Economia apelidou-a assim, ela era do Serviço Social. Não interessa discorrer o por quê. Vamos preservar sua memória que se o Céu existe, ela está muito feliz.
A Márcia estava namorando alguém que não me recordo que tinha um caso com a irmã do Gener, uma confusão danada. E a Solange resolveu não ir.
Fomos os dois desbravadores daquelas terras inóspitas e ainda não exploradas pela especulação imobiliária.
-...-
Nos idos da década de 1980, festas, danceterias, puteiro – sim, nós frequentávamos o Vaga-Lume, em frente à Catedral Metropolitana de Manaus, na zona do baixo meretrício. O bar estava chato, a danceteria terminava de madrugada, começavam as porradas tradicionais do pessoal do Jiu-Jitsu, direto para a zona que nunca fechava, e ninguém era valente, briga, quando havia, era de puta com o garoto mais novo que só queria o dinheiro da velha, chegava aquela turma, principalmente de meninas bem vestidas, boa aparência, toda vez perguntavam quem nós éramos. E uma vez, agradeceram “aos acadêmicos de Medicina”, pela presença ali. Nesse dia em particular, tinha gente de Economia, Contabilidade, Educação Física, Agronomia, Engenharia, só não havia um aluno de Medicina sequer -, sair para a noite, só depois das 23:00h. E olhe lá.  
Eu tinha meu Kit Alerta. Uma colher de pó de guaraná e três sementes de guaraná que ficava chupando a noite inteira. Oh coisinha amarga. Mas eu ficava desperto até o começo da noite do outro dia. Tem gente que toma uma colherinha de pó de guaraná, tem taquicardia, só falta morrer. Eu hein!
Só uma vez, cheguei à casa da Acácia e pedi para ela me trazer o álcool.
- Estás com dor de cabeça? Vou chamar a mamãe.
Lá veio Dona Íris com remédio para enxaqueca. Fiquei a madrugada inteira, querendo sair pulando e ao mesmo tempo, parado, queria dançar e ficar ao mesmo tempo, sentado. Bateu desespero. Coisa estranha. Falei que não queria remédio, mas como sou muito educado, mamãe me ensinou, aceitei, ainda mais das mãos da Dona Íris, uma mulher fina, e muito educada que não passou isso aos filhos.
-...-
Essa mania de só sair às 23:00h, deu uma confusão danada. Cheguei, estava hospedada na casa da Acácia, uma tia, freira, daquelas cheias de conceitos e preconceitos. Quando íamos saindo, a freira invocou com o penteado da Acácia.
- Não minha filha, você tem de pentear os cabelos.
Era o penteado mais prático do mundo. Enxugou, estava pronto. Pela primeira vez em décadas, aqueles cabelos viam uma escova e um pente. A tia ficou penteando, acabou lá por 1:00h da manhã. E eu esperando. Quando pensamos que já podíamos sair, a freira se invocou de novo.   
- Mas é mais de uma hora da manhã. Uma moça de família não sai à uma hora destas. Vocês vão sair a esta hora?
Mas onde? “Não senhora, eu vim aqui, para saber se ela estava dormindo”. Dona freira, não meta a família no meio, senão eu meto no meio da família e não vai dar certo! Eu fiquei umas 3 horas, fazendo trancinha nos pentelhos, como dizia Seu Marival, para não sairmos?
Engraçado que na casa da Dedeia, eu chegava, ela entrava para tomar banho. Eu dava uma volta na cidade inteira, quando retornava, ela estava saindo do banheiro, tudo de novo, quando retornava, ela estava se aprontando, muitas veze não esperei nem um pouco. Ia embora.
-...-
Mas no dia da festa junina no sítio do Gener, fui pegar a Claudia na casa dela e fomos.
Dois dos citados, Claudia e Seu Marival já foram desta para a pior.
Da casa das Kaneko, onde a mãe dela sempre me recebeu muito bem, inclusive no enterro da Claudia, para o sítio do Gener é que foi a aventura. Sabe quando se combina na base do boca a boca? Nenhum mapa, nada. Naquele tempo, o Aleixo era deserto e uma floresta com umas picadas onde passava um carro por vez.
Mas nós fomos, devíamos acreditar muito na sorte e que sempre iríamos encontrar alguém conhecido.
Eu já havia ido ao sítio, mas de dia, à noite, todo gato é pardo.
Uma colega de Economia fez o aniversário dela, lá. O Tatu resolveu dar aula aos sábados e combinamos de ir depois da aula, direto. De repente a aniversariante resolveu ir comigo.
- Só vou se for com você!
Meu Deus do Céu! Eu ainda nem havia comprado o presente dela. Fui levá-la em casa para se arrumar, pegar o bolo, o material que faltava e aproveitei, para ficar andando pelo Centro, ainda não havia shopping em Manaus, lá pela Saldanha Marinho, vi um ursinho com um coração no peito que se apertava ele falava em Espanhol.
- Amote!
Alguma coisa assim. Ou era aquilo, ou nada, o tempo estava esgotando. Voltei à casa da colega que já havia feito uma vergonha, quando o carro estava parado no sinal de trânsito, um leproso se aproximou do lado dela, para pedir esmolas, ela tomou um susto e fechou a janela na cara dele. Não estava acostumada a isso, era de Minas Gerais e Manaus tinha pelo menos um leproso, em cada esquina naquele tempo.
Pronto, fomos ao sítio do Gener, fiquei até com vergonha de dar um ursinho tão mixuruca, um cara da Medicina deu um anel de pedra, ela nem ligou, ficou mostrando para todos, o ursinho. Coisa mais lindinha. Eu já sei como agradar mulher. Se eu não gostar da cor, se eu não gostar a da coisa, então é o que elas gostam.
Lindo foi quando a colega trocou de roupa, colocou aquela tanga que ninguém enxerga nem a cor, logo ela que era alta, bem feita de corpo e ainda entrou na piscina para brincar conosco. Na verdade, eu estava brincando com a prima de uma colega que tinha um rolo com o Gener e ela atrapalhou. Nem lá, nem cá, nem um trois. Tinha de dar atenção às duas e não tinha como rolar nada com ninguém.
Mas pelo menos,ela gostou. Como dizem os lesos.
- Foi de coração!
Lógico, pelo menos de coração do urso de pelúcia. Mulher gosta de coisa sem utilidade.
-...-
Quando era da pós-graduação, quem comprava os presentes para os professores era a Simone e eu que também trabalhávamos na mesma empresa. No último dia, fazíamos a prova às pressas e corríamos para comprar um presente e voltar a tempo de ainda o pessoal estar presente. Quando era no cartão dela, ninguém pagava, no meu, todo mundo pagava sem chiar. É o machismo no Brasil, que tem quem pense que não exista. Mulher pode ser desrespeitada. Aliás, desrespeita-se todo mundo neste país. Uma questão do cara se sentir superior, quando na verdade vai se foder à frente.
Uma conhecida me pediu para acompanhá-la à uma oficina mecânica de uns mineiros, o pai engenheiro eletricista, o filho engenheiro mecânico, tanta coisa, quando ela chegou, eu fiquei vendo um protótipo que eles estavam construindo. A relação de coisas que precisava, era enorme.
- Sabe, mulher em oficina, eles passam pra trás. Você pode me acompanhar?
Iam fazer um carro novinho. Voltei à roda, em torno do carro e falei para ela ligar o ar-condicionado. O carro estava esquentando quando ligava a chave. Ela ligou o ar, a temperatura caiu.
- Troca a ventoinha!
O engenheiro  eletricista ficou muito puto.
- Eu sou engenheiro eletricista.
- Pois eu sou Físico. Troca a ventoinha e só.
- Foi uma questão de sorte, mas nem sempre acontece isso.
- Ah, acontece sim, sempre, quando o problema é de ventoinha, liga o ar, a temperatura baixa.
Então em dezembro, era o módulo da Dona Ignês Izquierdo. Saímos para comprar um presente, a Simone se recusou a ir ao shopping.
- Quando voltarmos, todo mundo já foi embora. Deve ter carro estacionado do lado de fora.
Eu é que estava dirigindo, ela estava preocupada com o estacionamento.
Bem, então procuramos uma loja aberta naquele horário que não fosse de shopping. Entramos numa loja do irmão do Alfredo Nascimento, de artigos para casa, num mini-shopping na Avenida André Araujo, até mais próximo ao Campus. Dizem, artigos de luxo. Só tolice. Patinhos, pintinhos, muita coisa que não fode nem sai de cima. Não tem utilidade para porra nenhuma. Cada patinho, os olhos da cara.  Eu querendo ir embora, a Simone insistindo.
- Desculpa gente, minha funcionária faltou hoje, não conheço bem as coisas.
De repente ela pegou um vidro cheio de folhas secas. Para mim, fosse R$ o,50, já seria muito caro. Mas era caro demais. Falei que dar uma bosta daquelas, cheia de folhas, para que serviria? Ela me olhou com raiva. Bosta num ambiente daqueles? Então embrulha, vamos embora, quando chegamos e a turma ofereceu o vidro que por si, já era uma porcaria, fino, se soprasse, quebraria e cheio de folha velha. Dona Ignês agradeceu tanto. Achei que era demagogia, uma porcaria daquelas?
- Diga de verdade, a senhor gostou mesmo disso?
- Lindo!
E a mulherada comeu com explicação.
- Isso numa sala.
- Numa prateleira!
- É muito chique!
Não digo? Se eu não gostar, as mulheres adoram.
No fim do ano, resolvemos enviar um cartão de festas, a cada professor dos módulos. Eu pegava um cartão, a Simone devolvia. Ela só pegava cartão com mensagem piegas, o que é normal no Natal, mas só escolhia as mais ruinzinhas, aquele tal “QUE NESTAS FESTAS, DEUS ILUMINE COM SUAS BÊNÇÃOS SUA FAMÍLIA E VOCÊ E QUE TODOS SEUS SONHOS SE REALIZEM...” O jeito foi combinar que para as professoras, ela pegaria, para os professores, eu escolheria. Quando foi a hora de pagar, eu com os meus, ela com um monte, mandou embrulhar todos os delas. Tinha escolhido de todos, tive de devolver os cartões que eu escolhi. Os meus, eram bonitos. Uns tocavam, outros tinham mensagem sonora em Inglês, só não tinha nada escrito. Quem quisesse que escrevesse.
É por isso que compram umas bolsas escrotas, uns sapatos que afetam as varizes, as hemorroidas, a coluna, mas só porque dizem que as faz poderosas, pronto, compram pensando que vão ser poderosas mesmo.
-...-
Da festa, só sabia duas coisas. Era no Aleixo, longe pacas e próximo ao Encontro das Águas.
Parecia o Rally Parou Deká. Eu de piloto a Claudia de navegadora. Tudo escuro, só o farol do carro iluminava alguma coisa. Árvore de um lado e de outro, o carro andava justo no meio, um milímetro para os lados, machucaria a lataria e a pintura.
Finalmente encontramos um portão de ferro. Nem bem paramos, veio um pessoal armado até os dentes, com fuzil.  Era uma estação da EMBRATEL. Deram luz na nossa cara e perguntaram o que estávamos fazendo ali. Depois das devidas explicações, eles disseram que tinham agido assim, porque antes, uns carros haviam parado ali e começaram a fumar maconha. Quando eles foram pedir para que se afastassem, pois era área restrita, os caras atiraram pedras, foi a maior esculhambação.  A estrada era tão estreita que o jeito foi voltar de ré, até um pedaço, onde dava para fazer a conversão.  Era um entroncamento, de umas três vias. Finalmente um carro, seguimo-lo. Depois de muito tempo, dele pensando que iríamos assaltar, pudemos emparelhar e perguntamos se iriam também, para a festa do sítio do Gener. Não sabiam nem quem era Gener. Era outra festa, em outro sítio. Voltamos ao princípio. Uma porrada de carros, finalmente gente conhecida.
- P’ ro Gener?
- Vamos!
Nem eles sabiam bem onde era, mas juntos, é mais fácil descobrir.
De repente era tanto carro, acho que estava todo mundo perdido, só esperando uma luz e apareceram foi vários faróis de uma vez.
- É a luz!
- Não abestalhado, é o pisca-pisca.
Finalmente chegamos. Os carros ficavam lá encima, e a festa era lá no buracão, lá embaixo. Descer uma vez, subir depois, já era difícil, subir e descer várias vezes, era um saco. Ficamos lá encima logo. O Menudo, a Gilci e um pessoal. A Claudia sumiu, ficou numa casa, onde estava um pessoal mais circunspecto, conversando.
De repente chegou o Edwin, um estrangeiro de Engenharia Elétrica que acordava já drogado, não tinha uma hora em que ele não estivesse drogado.
Uma vez, dei carona ao pessoal, ele foi atrás, quando saí do carro, fui verificar lá por trás, ele havia deixado um papelote de cocaína, atrás e embaixo do banco do motorista.
Alguém falou que ele é alto funcionário do governo do país dele, uma dessas repúblicas da América Central. A família dele, riquíssima, tinham haciendas do caralho.
Quando o vimos, pensamos numa brincadeirinha. Colocar sal de frutas no capot do carro e chamá-lo. As meninas foram contra.
- Vocês vão matar o rapaz.
Se não morresse, nunca mais iria cheirar pó. Nem se fosse talco infantil. Ele dando aquela cafungada, o sal de frutas fervendo no nariz dele, nunca mais.
Depois, quando vimos, começou uma brincadeira de pular fogueira. Para tudo. O Edwin, baixinho e cheio de “brilho”, foi pular também. Caiu sentado, queimou as nádegas, pega o cara, era problemático. Mas a fogueira, também era quase uma Torre Gêmea. Talvez tenham pensado numa festa de uns 5 dias.   Imagina de quem foi a ideia de pular fogueira? Do namorado da Acácia.
-...-
Festinha mais chata. Fui dar uma mijadinha no banheiro. Ainda bem que eu sou guerreiro de selva. O banheiro, longe, longe, mas longe, no meio da floresta. Escuro, escuro, escuro que o cara não enxerga nem o órgão genital. Vai no tato. Pega no vaso sanitário faz um cálculo vetorial e manda bala. Se mijar no chão, nem mesmo ele, vê.
Eu estava com um jeans que era todo de botão e a cueca, samba-canção. Imagina para tirar a mangueira. E o cara até que nem está desesperado, mas chega próximo ao destino final, a vontade parece que se multiplica rapidinho. O número um e o número dois. Lá longe, só aquele sinal de que vai dar merda, mas quando chega próximo, já está melando as beiradas. E o cara sua para abrir a braguilha, para baixa a cueca e quanto mais pressa, mais as coisas dão errado, é melhor cagar nas calças mesmo. Eu queria só fazer o número 1, mas a mesma agonia, a merda dos botões não abriam, sempre tem um que parece ser maior do que a casa, o dedo fica todo esfolado, o filho da puta não abre, tira a pistola da cueca, samba-canção, só aquela abertura na frente, o pintinho desaparece nas coxas, é uma merda.  O cara acaba mijando nas coxas.
Um tempo desses, estava com vontade de arriar o barro, saí correndo, tentei tirar a roupa, tanta confusão, para piorar, escorreguei, caí no chão, por pouco não pinto o banheiro de merda. Antes de sentar, as coisas já vão se despedindo.
Lá na festa, ou melhor, no banheiro, quando consegui apontar, murros desesperados na porta.
- Abre! Abre! Me deixa entrar, não estou aguentando mais.
Depois, algum filho da puta questionou.
- Por que você não vai mijar no mato?
O pessoal quer mandar até nas minhas vontades?
Era a colega da Economia, a aniversariante do ursinho.
Devo dizer que quando era criança para adolescente, usava zíper nas calças, como não usava cueca, de vez em quando prendia a pele do prepúcio no zíper. Se eu precisasse fazer operação de tirar o excesso de pele, sairia de graça. Então resolvi usar calças de botão. Quando começaram os problemas de abrir, voltei ao zíper, mas já usava cueca de bola. Umas cuecas furadinhas, de nylon que eram vendidas no início da Zona Franca, vinham numa bola, só dava para usar umas duas vezes. Rasgava completamente.
Eu tentei mijar rápido e quando terminei, coloquei as coisas para dentro e resolvi fechar o zíper. Puxava, puxava e nada, depois me lembrei que eram calças de botões. O jeito foi abrir a porta com os botões abertos mesmo, o cinto aberto, até a fenda da cueca, aberta. A pressa da colega era mais importante. Saí com as calças nas mãos, literalmente. E até a cueca samba-canção.
Eu já lá do lado de fora e ela gritando, de dentro da casinha.
- Me espera! Não vai embora.
Nem podia, ainda estava abotoando aquela merda de calças. Uns botões de ferro, umas casinhas justas, era um sacrifício. Mas pela demora, ela fez o número 2. Só queria saber, como as meninas se limpavam. Se tivesse papel-higiênico, não dava para enxergar nada. Mesmo no tato, os dedos tinham de usar óculos para astigmatismo, distrofia óptica, miopia e hipermetrofia no aparelho tátil.
Quando voltamos, a quadrilha estava sendo formada. Não me lembro quem me chamou para ser seu par. Mas estava a postos. A Claudia se enfiou naquela casa, não saiu nem para cuspir.
Eu em pé, esperando o começo da quadrilha e nada. Lá no fim da fila. Os discos de vinil que levaram, não conseguiam tocar. Tenta uma, duas, nada. Acho que foi a Acácia que teve a “excelente” ideia de pegar umas fitas K7, de rock ‘n roll. “Toca Raul”. É uma mulher de fases. Só gostava de reggae, depois enjoou. Depois, só forró. Enjoou. Depois, só rock nacional, por isso, quando era show, eu ia com a Dedeia.  Um dos poucos shows que fomos juntos, foi do Fagner, chegamos cedo, ficamos no gargarejo, de repente a Acácia começou a passar mal.
- Vamos sair daqui. Eu tenho problema no meio da multidão, estou me sentindo mal. Eu não consigo respirar.
O show começou estávamos quase na porta de saída. Encontramos uma pessoal, eu fiquei de costas para o palco, conversando com a Marcinha.
- Olha a Regina Duarte no palco.
- Vai pra puta que os pariu!
Estava muito puto. Nós lá na frente, saímos, por causa das fobias da Acácia que não procura um psiquiatra. De onde estávamos, a imagem era menor do que televisor de carro.  
Outro show em que fomos juntos, foi do Luiz Caldas. Eu estava mantendo um diálogo com a Silvia, back-vocal da bandam queria saber como fazer para dar pelo menos umazinha, depois dali, antes deles irem embora. Apareceu um tal de Afonsinho, com uma pistola nas mãos, do nosso lado. O noivo da Norminha pensava que eu era namorado da Acácia. Desapareceram no meio da confusão. Acabou o show. Nem Silvia, nem Acácia. Depois de algum bom tempo, lá vêm os dois. Eu fiquei no meu lugar o cara só gostava de correr atrás de quem corria. Acho que o bom moço dos movimentos cristãos o Leocádio, Leo para os íntimos, pesquisador do INPA, quis me dar um troco, por alguma coisa. Nunca, nem fui noivo. Ele é que havia noivado com a Norminha.
-...-
Lá no sítio, os discos não funcionavam, o rock era muito chato e a Acácia teve outra brilhante ideia.
- Quem vai puxar a quadrilha, é o (hippie do meu saco de dormir) porque ele é pernambucano!
É com se todo argentino soubesse dançar tango, todo brasileiro soubesse sambar, todo estadunidense branco, racista e reacionário, soubesse dançar folk.
O cara não sabia bulhufas. Errava todos os comandos, uma bosta.
Uma noite problemática. Resolvi puxar o carro.
-...-
Resolvi sair à francesa, sem ninguém notar. Na segunda-feira, tanto no Campus, quanto na Economia, o pessoal comentava.
- A Claudinha ‘tá muito puta contigo.
- O que eu fiz?
- Tu foste embora, nem avisaste, p’ ra ela arranjar uma carona de volta, foi uma dificuldade, quem passava pela casa dela, estava lotado, os outros iam por caminhos diferentes, quase ela fica no sítio. Alguém a colocou no carro, lotado, parecia lata de sardinha.
Puxa, mas a volta foi mais divertida do que a festa. Não saiu nada certo. Pelo menos eu consegui sair dali, sem nenhum problema. Sozinho!
-...-
O pessoal estava fazendo tempestade em copo d’ água.
Nunca, em momento algum, depois da festa, a Claudia falou alguma coisa sobre. Éramos amigos.
A última vez que nos encontramos, antes dela ter problema de coluna, ser hospitalizada e morrer por causa de infecção hospitalar e uma confusão generalizada no corpo, foi, na BICA. Eu, como sempre, um homem solitário, ela surgiu, queria comprar cigarro. Procuramos tanto onde teria cigarro que deu vontade de urinar. O jeito foi entrar na Rua Dona Libânia’s Toillet. Todo mundo estava mijando lá. As mulheres baixavam atrás dos carros e os homens, na rua. Ou seja, a Claudia ficou entre os carros e eu lavei a alma na rua mesmo.
Depois é que vim saber que ela havia brigado com o namorado. E eu fico pensando, eu conheço meio mundo? O namorado dela era o Marquinho que foi apresentado pelo Gener, a outra que se colocou no meio, ou o Tripé colocou de jeito, a Aline. A Claudia, irmã da Márcia e a Aline, irmã da Acácia, aquela garotinha cheia de pensamentos pueris, que era toda pura. Só porque, uma vez, estávamos no quarto delas, uma turma enorme, ninguém percebeu nada, a Márcia estava de bruços, entre a Sonia e a Patrícia, acho eu, as duas que na última vez que nos encontramos, perguntaram como que assustadas.
- Aquele é o Thevis?
- O Thevis?
Eu estava dançando com a Karine Araújo, mas ouvi. Só por que eu estou gordo, eu mudei de nome? Sim sou eu, uns 60 quilos a mais, só.
Mas no quarto da Acácia, eu estava brincando com as coxas da Márcia, ela, deitada de bruços, nada demais, a Aline chegou e deu o maior pití. Só ela viu alguma coisa ali.
- Se o papai vir uma coisa dessas...
Não era nada, carinho quase de irmãos. Tão carola. Era uma menininha muito chata!
-...-
Eu me lembrei de tudo isso, porque acabei de ver no televisor, uma cantora local, que diz que vai fazer um “shô”, como diria o Vicente, inclusive cantar música junina. Ela diz que resolveu cantar, porque a avó achava que tinha a voz muito linda. Pergunta-se, vovozinha entendia alguma coisa de canto, ou de música em geral? Não. Se a minha dissesse para eu competir no Mister Universo, porque me achava muito bonitinho, não passaria uma vergonha dessas. A dita cuja foi cantar uma música da estação, pegou o violão e tocou o Cossaco. Sabe aquele papo de “eu vou interpretar de um jeito só meu?” O baião virou uma balada, alguma coisa no estilo. Que porra! A cantora é bonita, pode ganhar dinheiro, como modelo, como stripper, mas por favor, vamos levar a música mais a sério. Já ouve o tempo em que música era correspondente ao INSS, ou às Secretarias Estaduais de Ação Social. O Chiquinho e o Choquito eram empacotadores de supermercado, pronto, eram apresentados, coitadinhos, para ganhar dinheiro, com umas músicas fuleiras.
Só Love
Só Love
Só Love
Só Love
Um cantava mal pacas e o outro com cara de mais leso, ficava fazendo mungangos no palco.  Que o Deus o tenha. Mas não deixe reencarnar, senão vamos ter de aguentar mais um néscio metido a engraçado.
Aí veio a Sapatinho e a Sapatão. Coitadinhas, eram pobrezinhas, queriam pegar mulher e a gente tendo de escutar porcaria.
Apareceu aquela banda que cantava música de torcida, fantasiada, que virou referência, só porque o avião bateu em São Paulo. Mas convenhamos, era outra porcaria. Do segundo disco não passariam. Mas viraram Cult.
Veio o pessoal do Sertanejo. Um plantava banana e o outro, macaxeira nos fundos. Coitadinho, comprem os discos deles, porque são pobrezinhos. Não porque fazem música e sejam competentes no seu ofício.
E o pessoal do pagode...
Resolveu a questão da pobreza? Não. Mas fez do ouvido da gente, penico. Joga tudo isso num biocombustor, num biodigestor que vai gerar energia por séculos. É muita merda. Pensa que é pouca coisa? É um balde cheio, outro transbordando e dois pela boca. E um fedor insuportável. É a nova música tocada a exaustão, na media nacional.
Aí veio a Maria Gadú, que o Caê apresentou m como grandes coisas. Ninguém sabe se era pobre, mas tem um baque enorme, de batráquio. Só gosta de perereca. Imagina que só por ser sapatão, todo mundo seja bom compositor e melhor cantor. O que a sexualidade afeta? Só os castratti que como parece, eram castrados, para a voz ficar fina. Eram obrigados, mesmo sem querer, para terem uma voz feminina nas igrejas, sem que as mulheres pudessem representar esse papel.
-...-
A última vez que vi a colega da Economia, depois disso, foi no fim do período.
Faltam críticos, como Seu Neves, o pai da Acácia que num aniversário dela, uma amiga tirou o violão e anunciou.
- Acácia, eu vou tocar esta música em primeira mão. Para você!
Aquela música que o cara conta meia hora, por cada compasso, feito só de silêncios.
Você me parece
Conta trinta minutos.
A flor do precipício.
Já vai uma hora.
Nunca fenece
E o público já começa a buscar o travesseiro
No fim, como no início
Seu Neves veio lá de dentro da casa, perguntando de quem era aquela música. Todo mundo falando que era da moça.
- Cuidado Seu Neves.
- Não quero nem saber. Que música chata, minha filha!
A colega pegou o violão, saiu sem nem acabar a vernisssage.
Quem a viu pela última vez foi Dona Therezinha que foi ao médico, enquanto esperava, foi à janela e viu um corpo passando por ela. Chegou em casa, em choque. De repente chegou ambulância, Bombeiros, mas já era tarde.
Fiquei triste com minha maninha de aniversário, a Ceiça que era irmã dela.
Dona Therezinha diz que não entendeu, quando ela passou por ela, disse.
- Diga pro Neves que eu volto! Quando ele sentir alguém segurando no dedão, na hora de dormir sou eu. E ainda vou cantar a minha música, até tocar o despertador para ele ir ao trabalho.
-...-
Eu quis retratar a Manaus lúdica, sem tanta violência, onde hoje eu penso, a Acácia e eu, na Miltoneta da Laninha, às 3:00h da madrugada, eu na garupa, íamos da Major Gabriel, pegávamos a Joaquim Nabuco, até o fim da Getúlio Vargas, voltávamos pela Tarumã, até o Galvez, nunca fomos ao menos parados, ainda mais assaltados.  Nada. Manaus dormia. Ninguém nas ruas, só uma turma que todo dia saía e ficava até madrugada a dentro, sem ter o que fazer.
Eu chegava na Praça da Saudade para deixar a Dedéia, depois de alguma horas passadas depois da meia-noite, nem os drogados da rua, vinham querer fazer qualquer coisa conosco. Havia respeito, até de parte dos adictos e mendicantes.  
Acabávamos de ir a um show, ainda íamos comer um Hawaii que nem os dois conseguiam derrubar todo, um sanduíche enorme, com bandeiras do mundo todo, com a Margá, como uma vez em que entramos na lanchonete, a Dedeia decidiu beijar o professor de Medicina dela, uma bichona que agravou a saúde da minha prima que morreu, casado cm a irmã de um colega meu, na hora em que  eu entrei e a Margá perguntou se eu não conhecia mais a Dedéia.
- Lógico.
- E por que tu não a cumprimentaste?
- Porque ela estava pendurada no beiço do professor, quando eu passei, não iria atrapalhar, só pra ela falar comigo.
- Ela falou comigo!
- Problema de vocês.   
E a Margá decidiu sentar à mesa ao lado. E o boiola, bêbado, alcoólatra, falando bobagem para os alunos.
- Esses comunistas...
Aí o cara quebra os dentes de um viado desses, vão dizer que o cara estava que não se aguentava. Não tinha feito nada. E a Dedeia era comuna, junto comigo. Nós fazíamos curso no Partido, juntos.
Eu pegava a Norminha à noite, na Eduardo Ribeiro e tinha de parar longe, ela ia caminhando sozinha ao prédio dela e nada acontecia para ninguém.
Hoje, em casa, o cara está sendo violado, violentado, seviciado e morto.
Ou senão, de outra feita, era um tempo que havia violência sim, tanto que o tal de Afonsinho e o Diouro, foram mortos com tiros, até hoje não identificados. O Mistral, morreu com uma garrafa de Coca-Cola quebrada, no coração. Existia corrupção, existia estupro, como da garota Araceli, mas como foi morta por filhos de milicos, ninguém sabe quem a matou, havia roubo, havia de tudo, inclusive homossexual, só que se fingia que nada acontecia, como se finge hoje, com suicídio que não pode aparecer na media. Eram tempos mais carolas, mais cristãos, onde imperava a falsidade. Hoje, com o aumento da população e das notícias do mundo inteiro, onde parece que estamos num circo do horror, quanto mais as notícias mostram violência, mais vendem, as redes de comunicação mostram execuções, perseguições, tudo que acabe em morte, ao vivo, o foco das notícias, é outro, fofoca, celebridade e violência, é claro que parece que a violência está na porta, quando estudo mostra que com o aumento da escolarização no mundo inteiro, o índice de violência tem diminuído, mas a sensação aumentou, porque antes se sabia o que acontecei em casa. Depois, na casa do vizinho também, muito restrito. Hoje se sabe de casa, da rua, do bairro, do estado, do país, do mundo, in real time, sem nenhum filtro, todo mundo acha que tem de dar o furo, o furo de reportagem, sem nem saber o que está havendo de verdade, já tira fotos com celulares, já posta nas redes sociais e diz o que acha que é aquilo, sem base em nada.
Não podemos esquecer que ainda somos cristãos, por causa da espada de Constantino e o Cristianismo adora o maniqueísmo, o bem e o mal, o bom e o mau, Deus e o Diabo, Céu e Inferno, dentro de parâmetros assim, uma mesma notícia, parecem várias. O Miguelzin, diz que o fato é mal, a Joaquina, diz que foi muito bom, o Heraclides, diz que não tem muita certeza, a Zefa diz que paira uma certa certeza. E parecem as notícias requentadas contra o PT, do Mensalão, que se coloca quinhentas vezes, em páginas diferentes e nos telejornais, até no sábado, quando o Judiciário não funciona, falando que Fulano e Beltrano, “acabaram de delatar” Cicrano, Xongas e Shunda.
Até na questão de gênero, quando se manipula através do maniqueísmo, é mais fácil identificar. Para Deus, só há o homem e a mulher. Jesus era o Homem. Então o Clóvis Bornay era macho para caralho. Para o mundo real, há o homem, o homem, o homem, o homem, a mulher, a mulher, a mulher, a mulher que é mulher, mas se porta como homem, o homem que é homem, mas se sente mulher, a mulher que foi homem, o homem que foi mulher, até o assexuado. Mas no mundo religioso, todo o resto que não for “normal”, é pecado, é querer chatear o Todo Poderoso. E o “normal” nunca tem ligação com fatos científicos, com a percepção da realidade.
-...-
Talvez as quadrilhas tenham acabado, principalmente nos sítios, nas festas particulares, porque, imagina, em um mundo tão carola, tão politicamente correto se gritam.
- Olha a cobra!
Vai dar confusão. Umas vão pegar o terço, outras vão reclamar ao Bispo, já interpretam como imoralidade; uns vão cair de boca, outras, sentadas...
E se o cara disser.
- É mentira!
É capaz de ser morto por todos os outros, fazendo justiça com as próprias mãos. Já tinha gente babando, o cara vai dizer que é brincadeira? Tem de mostrar a cobra e baixa o pau.
E em São Paulo, o cara diz.
- Olha a chuva!
Sai uma multidão na Avenida São João, até os Jardins, com baldes e mais baldes nas mãos, debalde confirmarem a credibilidade da notícia. Vai dizer que é mentira.
Fomos felizes e nem sabíamos. Como o Zani que serviu comigo e voltávamos juntos do quartel, ele, o Monte, o Brito, o pessoal da Segunda que morávamos próximos.
A maior briga dele, era na hora de marchar que os superiores diziam que não era para requebrar . Ele respondia e saía com a cabeça erguida.
- Eu não estou requebrando. Eu tenho uma perna mais curta do que a outra.
Depois de anos, numa festa no INPA, o Menudo e eu, estávamos perscrutando o local e no escuro, duas índias, com cocares enormes, requebrando tanto. Cutuquei o Menudo e ele, naquela educação que lhe é peculiar, falou bem alto.
- Não conheces mais viado?
E o índio ia passando, com o outro parou ao nosso lado.
- - Bayma, não me conheces mais?
- És tu Zani?
O Zani de tanquinha, com um cocar enorme, podia requebrar sem frescura de macho enrustido fardado de homem.
Era da Tribo dos Andirás, guerreiros destemidos que aguentam o que vier, principalmente por trás, não fogem da luta. Era como se sentia feliz? Ótimo, temos de respeitar a singularidade de cada um, desde que não afete o direito de todos. De novo, uma frase que era colocada nas paredes do Colégio: “O teu direito acaba, quando começa o de todo mundo!” Poucos sabem, mas o Profesor Orígenes trabalhou nos melhores veículos de comunicação do Brasil, foi perseguido pela Ditadura, por isso o a proposta didática, diferia de todas as outras, onde o bedel ficava correndo atrás do aluno. No Colégio, as pessoas tinham de aprender a ser responsáveis por seus atos. Muitos não aprenderam, mas também tem a questão da família, do próprio caráter. Mas, para mim, era excepcional. Pena que pouco compreendida e com famílias radicalmente contrárias à liberdade de pensamento, de expressão e de cidadania.  
Acho que nem a Tribo dos Andirás que tradicionalmente, só tinha índio gay, existe mais. E o Boi de Parintins, está à míngua, a cada ano que passa, com menos público, é preciso chamar o pessoal da Record, para ver se atrai caboca deslumbrada.
E mais uma manifestação popular que se vai e se esvai, porque os políticos só pensam em como conquistar votos, ao invés de como desenvolver a região, mantendo sua cultura e seu folclore. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário