domingo, 4 de outubro de 2015

OH CARNAVAL

CADERN O 3
Dia desses encontrei o Maninho, irmão da Maninha, ou Velho, como era conhecido na Economia
Hoje acordei lembrando algumas passagens ocorridas em carnavais. Pensei que já fizera tudo, em termos de escola de samba, então me lembrei que nunca saí na bateria, por muitas vezes, estar acompanhado. Nem de destaque, justamente por não trabalhar tanto o meu ego. Vejo tanta gente falando em Deus, em humildade, mas o ego enorme, faz de tudo para aparecer, atuar, tocar, ser chefe, tudo, sem capacidade alguma, mas muito trabalho em relação ao ego.
Tem gente que desde criancinha tanto trabalha o egocentrismo, quanto o discurso religioso que serve para abrir mais portas na sociedade, mais do que a pessoa ser preparada e inteligente.
Mas esse ano, decidimos participar na Harmonia da escola. O pessoal responsável em organizar a escola, desde antes do dia do desfile. Grêmio Recreativo Escola de Samba Sem Compromisso, indicados pelo Nanal, Velho, Maninha, os Juniores, a turma da Rua Tarumã, onde todos na mesma faixa etária se chamam Junior.
Fomos em grupo. A Aline, minha namorada à época que não se davam bem e já acordava com ódio do mundo, minha Priminhazona Naísa e a Simone, colega de pós-graduação e do trabalho. E eu.
A Naísa, desde novinha, acompanhava-nos, quando ainda namorava outra figura, ia com outras duas colegas, pedíamos para ficarmos próximos, devido serem adolescentes ainda, elas desapareciam, só voltavam no fim do desfile. Três “aborrecentes” cheias de vontades.
Quem é da Harmonia tem de vender talões, ou pagar do próprio bolso, os encontros e feijoadas em prol da escola de samba. Íamos a Aline e eu, as outras três, nem aí para os compromissos.
A Sem Compromisso já estava na Vila da Prata, próximo da casa de uma menina que dei carona, ela me falou para falar sempre com o dono de ma lanchonete, pois o pai dela era feroz. Não que eu não a tenha procurado, gostei do que fizemos, mas, sinceramente, fui deixá-la em casa, quase de madrugada, até hoje, só sei que fica perto do CIGS, mas qual lanchonete, qual rua, onde, sinceramente, até hoje não sei. Gostei dela de verdade, pelo menos do que ela fazia bem. Mas a memória falhou feio. Vai ver que ela pensa que nunca mais a procurei. Tentei ver se a via, quando ia à escola de samba. Mas foi há tanto tempo, ela já não deve ser nem loura, nem magrinha, nem nada mais. Deve ter casado, tem filhos, virou baranga, o marido deve tratá-la como outra amiga que foi Miss, depois engordou, o marido a tratava como vira-lata, mas a loura já nem me reconheceria.  
Então chegou o carnaval, fomos pegar as camisas, só isso e um crachá com a foto do integrante da Harmonia.
Levamos até a casa da Naísa, com a informação.
- Calças pretas jeans, tênis, ou sapato preto, crachá no pescoço e muita disposição para trabalhar.
No dia marcado, horas antes, muitas horas antes, lá fomos minha namorada, e eu, pegar a Naísa em casa. No portão, quando a vi vestida, já disse que não daria certo, pedi para trocar pelo menos as calças.
- Tudo bem, deixa pra lá! Vamos.
Chegamos ao Sambódromo, entre 19:00h e 20:00h. Era muito trabalho. Minha namorada e a Naísa foram para um lado, carregando engradados de água mineral, eu carreguei grades de refrigerante, garrafas, empurrei carros alegóricos, ajudei os destaques a subirem no guindaste, estava mais suado do que se estivesse desfilando. Muito mais suado do que se estivesse fazendo ginástica desde a manhã. De repente o clima ficou esquisito, tenso e o Junior que hoje mora na entrada da Base 24 do Exército, conhecida como Morro do Palavrão, sem eu saber de nada, veio me pedir desculpas. Eu estava completamente alheio à confusão. De repente olhei para minha Priminhazona, estava com cara de quem havia chorado, minha namorada com cara de poucos amigos, então o Junior explicou.
- Desculpa por favor, mas foi bem batido, inclusive estava escrito no papel que entregamos junto com cada camisa. Calças pretas jeans, esta garota está com uma calça (leg) cheia de cores e não é jeans. O calçado foi dito, tênis, ou sapato preto, a garota veio com uma sandália prateada, não dá. Assim ela não desfila.
Estava próximo de entrarmos na Concentração, mas perguntei se ela queria ir em casa, eu a levaria, para colocar um traje correspondente ao pedido. Não. Então falei que a levaria para casa, era noite, uma garota sozinha, eu fico preocupado, apesar de achar que muitas vezes, é machismo da minha parte. Não.
- Minha amiga mora aqui perto, vou pra casa dela.
Fiquei preocupado, ainda mais que eu me responsabilizei por ela. O que fazer com a camisa e o crachá que ela nem usou?
Entrou em acordo com a minha namorada, de vender, depois entregar o dinheiro.
Lembrei-me da vizinha da Aline, que também minha namorada não se dava bem, tinham um entrevero entre elas, nem sei por que, nem quero saber. Estava com o celular da Dona Therezinha em mãos. Miúdo, dava para guardar no bolso. Liguei e perguntei se ela estava interessada em desfilar conosco.
- Você me dá um tempo? Posso pensar?
Como disse, devia ser entre 19:00h e 20:00h. Não dava para pensar em muita coisa, com tanto trabalho a fazer. Eu para um lado, de vez em quando, via minha namorada correndo daqui para lá, carregando coisas, suando, literalmente a camisa, o jeans, a calcinha, o sapato e o rosto. Hora de organizar para entrar na Concentração. Organiza as alas, empurra os carros alegóricos, agora, muito pior, pois é subida e os carros são mais duros do que joelho de velho. A escola anterior já estava evoluindo, a próxima era a nossa, tinha de estar preparada para quando a chamassem. De repente só ouvia falarem meu nome, alguém estava me procurando.
- Tá aqui!
O som da escola na passarela findou, começou o discurso do Presidente, fogos de artifício, na linha do pênalti, os portões iam ser abertos, uma algazarra enorme, quando não se escuta bulhufas, já se sabe o discurso.
- Chegou a hora meu povo...
O resto também já é conhecido. Criatividade não é muito o forte do brasileiro, apesar de nos acharmos muito espertos.
- Obrigado por estarem abrilhantando nossa escola, mas isto é apenas o começo, vamos à vitoria. Vamos dar toda a garra para levar nosso pavilhão à vitória.
E toca caixa, tantã, surdos, todos os instrumentos juntos, o puxador de samba fala um monte de bobagem, gritam as desesperadas, dá um arrepio e uma vontade de lacrimejar, só falta um pessoal desmaiando. È a hora mais emocionante numa escola de samba, apesar de ser um discurso tão piegas e rasteiro.
A vizinha da Aline finalmente pensou. Eram 22:00h, ou mais.
- Cadê a minha fantasia?
Já chegou se achando a dona da fantasia e do pedaço. A minha namorada, até então, estava ao meu lado, de repente sumiu. E começaram a chegar os outros da Harmonia que não ajudaram nada e só estão ali para se divertirem. Tem de organizar esse pessoal também, em alas, apesar de muitos acharem que não estão ali para trabalhar. E avizinha da Aline, segura no meu braço.
- Cadê a minha fantasia?
Foram pelo menos duas horas de meditação, ela é muito ruim para tomar uma decisão, mas eu estava ali para me divertir, não podia ficar puto. Respira fundo, dá uma segurada na onda, finalmente minha namorada reapareceu.
- Eu pensei e estou pronta pra desfilar. Cadê a minha fantasia?
- Cadê a fantasia da Naísa?
Minha namorada deu uma olhada como quem tem nojo do outro, ou da outra, cravou os olhos com desprezo e disparou.
- Ah, já vendi! Chegou tarde!
Aí a coisa ficou feia para o meu lado como se a culpa fosse minha. O acordo foi entre as duas, minha prima e minha namorada, nem vi a camisa, desde então. Ela podia ter decido, há muito tempo, eu querendo fazer as coisas e aquela pessoa grudada no meu braço.
- Como você pode fazer isso comigo? A fantasia era minha.
E chora, e segura, eu estava no limite para estourar, mas estava respirando fundo.  Não era dela, eu perguntei, ela falou que iria decidir. Decidiu tarde.
- Me explica como você pode fazer uma coisa dessas comigo? Eu vou desfilar com vocês.
- Não pode! Sai que tu não vais assim. Por favor, sai.
A escola já estava se movendo, ainda havia muito o que fazer e a vizinha da Aline no meio da escola, gritando, chorando, segurando meu braço, esperneando. Aí não deu.
- Chega! Eu te liguei às 7 da noite, são mais de 10 horas. Entendeu?
- Eu estava pensando! Você sabia que eu iria com vocês.
É pensar muito. Vai ser lenta pensando assim, lá na casa do cacete. Nem Buda era tão lento, meditando. Graças a Deus não era General, nem estávamos em uma guerra. Como diz o A DITADURA ENVERGONHADA, o General Castelo Branco, para tomar uma decisão, era lento assim. Levava um tempão, depois, quando já não adiantava mais, ele decidia.
(...)
Num dos anos, decidi sair com a Amélia que só sai na Vitória Régia, escola de samba do bairro dela. Desde que divorciou, não vai aqui, ali, para não encontrar o ex-marido.
Nesse ano, estávamos na nossa ala e ela falou para irmos até outra ala, onde um conhecido e a esposa estavam. Fomos. De longe, dava para ver a cara de constrangimento do cara, mas podia ser outra coisa. Quando chegamos perto, o ex-marido da Amélia, com a nova esposa. A garota pulou no pescoço do Touro que parecia golpe de Jiu-Jitsu quando viu a Amélia. A própria, ficou tão sem jeito e completamente pálida, eu conheço todo mundo, falei com todos, mas ela voltou me puxando, numa rapidez insólita. Três pessoas imaturas ao mesmo tempo.
Ex a gente cumprimenta, fala, quando ainda tem alguma amizade, ou faz que não existe. Mas deixar de ir aqui, ou ali, por causa do outro, é atestar que ainda tem algo que ficou sem ser resolvido.
Mas, em outro ano, decidimos sair. Aline e eu, planejamos, convidamos a vizinha dela, pediu um tempo para pensar. Imagina! Eu já estava sem namorada. Enquanto ela pensava, visitamos as escolas de samba, decidimos por quais iríamos desfilar.
No dia do desfile, dividimo-nos, ainda de manhã cedo. A Aline pegava as fantasias numas escolas, eu noutras e nos encontramos no apartamento dela. Quando nos viu com as fantasias, a Furustreca da vizinha da Aline decidiu ir também. Dava tempo ainda de ir à escola, pelo menos pegar uma fantasia qualquer. Ainda era manhã. De novo.
- Você pode esperar? Vou pensar. Posso? Você me dá esse direito?
Devia ter formado em Filosofia. Nunca vi uma pessoa pensar tanto. Tomar decisão é um exercício que quanto menos se toma, por fica. É como tocar, como Matemática, quanto mais se exercita, mais fácil fica, quanto menos, leva-se um tempo para pensar e se adaptar à demanda.
Finalmente, às 17:30h, decidiu. Uma decisão cheia de mágoa, deu pití.
- Vocês se unem para me excluir. Vocês não gostam de mim!
Quem tinha de gostar dela, era o marido. Eu hein! Mas decidi, ainda tinha chance de pegar até na mesma ala, da primeira escola, pois era como ela queira, cedo.
- Vamos agora, vamos procurar uma fantasia.
- Espera!
Como se perde tempo, quando se tem medo de decidir as coisas. Finalmente decidiu.
Então foi dirigindo a menos de 50km/h. Eu começo a ficar com gastura, pessoa dirigindo muito lento, começa a me incomodar. Já estava ficando tarde, daqui a pouco, já era hora de ir ao Sambódromo. De repente o celular tocou.
- Mãããe!
Ligação interurbana de celular e não era coisa pouca. Encostou o carro num lugar perigoso.
- Calma, minha mãããe! Fique quieto.
Sabe a vontade de sair caminhando, até encontrar um táxi e se mandar? De vez em quando pegava o celular do console do carro e falava.
- É mãããe!
Um sotaque de quem fala mascando chiclete.
-Vamos! Vamos!
- Espera!
Eu estava nervoso pela hora, pelo lugar onde estacionou, ermo, escuro e perigoso, por não estarmos fazendo nada do que nos propomos. Depois de um bom tempo, despediram-se, desligaram os telefones e o carro andou. Chegamos ao barracão da escola, a primeira na qual desfilaríamos. Ainda eram na própria comunidade. Já escuro, entramos, tudo vazio.
-Puxa, se vocês tivessem chegado um minuto antes, distribuímos fantasias de todas as alas para a comunidade. Mas agora, não sobrou uma.
Só deu tempo de tomar um banho, aprontar e fomos os três para o Sambódromo. Sempre tem um caminhão que distribui fantasia de última hora. De novo, chegou tarde, porque parece que pensa que o mundo a vai esperar.
Quando iríamos para a Concentração, outro chororô, muita acusação de que a culpa era nossa, principalmente minha que não havia insistido para ela ir, ninguém me ama, ninguém me quer, eu sou coitadinha. Decidi. Estava quase na hora de ir para a Concentração.
- Pronto, pega a minha fantasia e desfila. Eu vou ficar aqui de cima, assistindo a escola passar.
De certa maneira, não queria ir, tanto. Era homenagem ao Gilberto Mestrinho. Imagina, é como render loas ao Hitler. Deus me livre. Eu, lá fora, no estacionamento do Estádio, vendo aquela escola, Grande Família passando, com um galo enorme, nunca havia assistido a um desfile do lado de fora. Até que fica bonito, a união de cores, de fantasias. Não deu para ver muita coisa, porque eram vendedores de comida, de cervejas, gente passando, gente fechando a frente para comer. Quando vi, lá vinham as duas juntas. Nem percebi que havia acabado. Finalmente Dona Menina veio feliz e satisfeita, sorrindo, então foi para casa, havia finalmente desfilado. A Aline e eu ainda estávamos começando a maratona de escolas. Nesse ano, a dita cuja foi campeã.
E no fim da última escola, a Aline caiu como pata, num papo aranha. De repente, quando saíamos ao lado das arquibancadas, um desconhecido a chamou. Até hoje, eu acho que alguém deu as dicas para ele se dar bem.
- Com licença. Vocês têm alguma coisa?
Apontou para mim. Ele devia saber, pois ninguém que não sabe se um homem e uma mulher têm alguma coisa, não chega junto assim.
- Quando a escola passou, eu vi você passando, não consegui tirar mais os olhos de você...
Rapaz, eu nunca cairia num papo assim. No mínimo iria achar que era golpe. Mas eu desconfio de tudo, dizem que eu não sou nem um pouco romântico.
O desfile da escola, cheio de gente, o cara só teve olhos... Se eu fosse mulher, acho que só me satisfaria com vibrador, porque um cara com um papo desses mandaria pastar. Caçar coquinho. Mas a Aline é uma mulher romântica, acabou sendo o pai da filha dela, acho que ano depois, ou dois. Deus me livre!
Vai ver que é por isso que eu ainda estou no caritó. Como diz Dona Therezinha.
- Mas tu és homem! Mulher pensa diferente.
Nem se eu fosse mulher. Um discurso muito treinado... Tão falso! Mas eu não tenho nada a ver com isso, fiquei na minha. Foi um amor de novelas, mas compromisso que é bom, necas.
Isso também não sou. Religioso prima pela fidelidade, eu sempre prefiro a lealdade, acho que trás um compromisso mais sólido.
No dia do parto, o “apaixonado” estava em uma banda de carnaval, quebrou o carro novinho da “bobinha romântica”, os pais pagaram para deixar um carro novinho, importado até aquele tempo, para ela não saber o que ele havia feito, enquanto ela estava parindo, com mulheres, trincaram o parabrisa, quebrou o carro por baixo, quando passou por cima de buracos, fez pega, colocou muita mulher para dentro, várias pessoas que viram o carro, era único naquela época, disseram o que ele fazia, em suma, para mostrar paixão sem fim, era ótimo, agora, ser companheiro, ter compromisso, ficar ao lado da mulher nos momentos mais decisivos, nem que fosse na hora do parto, era outra pessoa.
E no hospital, estávamos o pai dela, a vizinha que coincidentemente, foi na mesma hora que eu. Para não deixar dúvidas, pura coincidência, fomos em carros diferentes, nada de maledicências. Encontramo-nos na entrada. Nem sabia mais o número do telefone dela, nada. O pessoal tem mania de fazer novela, de elucubrar o que não existe. Já disse, é uma mulher casada, mãe e eu sou respeitador.
Ainda fiquei mais puto ainda no quarto onde a Aline foi chegando junto com nós. Uma mulher adulta, casada, mãe, não sabia pegar uma criança recém-nascida.
- Tu és louca? Sentar uma criança recém-nascida?
- O que tem demais?
- Não é possível que tu não saibas que não se pode fazer isso! Nem eu que não tenho filhos. Já ‘tás exagerando em ser tola!
Ela colocou a criança sentada em 90°. Ainda não havia uma hora de nascida.
Depois a Aline deu a primeira mamada e ainda pediu para ela fazer a Thaïs arrotar. A figura coloca o bebê no peito.
- ‘Tás de sacanagem.
- Mas a garota não arrota.
- É lógico. Tu a colocas no peito. Não vai arrotar nunca. Me dá essa menina aqui.
A Aline começou a gritar, tanto de dor, quanto para mandar todo mundo embora.
- Não é possível que vocês vieram brigar aqui dentro. Eu estou operada, sentindo a maior dor, vocês discutindo o tempo todo?
- Porra, uma mulher metida a criancinha, eu não aguento.
De repente chegou a enfermeira, pegou a criança, colocou no ombro, deu um tapinha leve, a garota arrotou o quanto podia.
-Agora me faz um favor, expulsa este pessoal daqui. Coloca todo mundo pra fora. Eu não aguento!
Muito educada!
Já estava puto, porque antes de entrarmos, fiquei em uma cadeira de rodas e a figura dando palpites que eu não pedi. Eu estava “cadeirando” sozinho, não estava atrapalhando ninguém e a figura ficou buzinando na minha orelha, bem ao lado.
- Você parece criança. Deixe a cadeira aí. Sente na cadeira de verdade...
Talvez por isso eu não case. Umas mulheres que querem ser tolinhas, até quando estão no mercado de trabalho, ou eu caso com sapatão, ou com travesti que não têm essa frescura em quererem ser “femininas” assim.
E um, ou dois dias depois que separou da Aline a quem fazia juras de amor eterno, eu não acredito de maneira alguma, depois que o cara “come” a mulher, não tem tanta demagogia assim, mas tem quem acredite até em Papai Noel, a Amélia e eu, íamos ao Shopping e cutuquei a Amélia, para olhar o carro à nossa direita.
- Vou já ligar pra Aline.
-Pra quê? Fica quieta!
Outra gordinha, ele dirigindo o carro dela, quem sabe, todo dia mandando flores e poesias. E eu incrédulo quanto a veracidade dos fatos. Por que eu não acredito nessas coisas?
Mas é todo mundo adulto, cada um sabe o que é melhor, ou um dia aprende, na porrada.
(...)
Mas voltando ao carnaval da Harmonia da Sem Compromisso. O problema da Naísa estava esquecido, a vizinha da Aline entrou portão a dentro, mas finalmente foi colocada para fora e finalmente meu ouvido teve tranquilidade e estava preparado para coordenar uma ala, com a minha namorada ao lado. Finalmente, depois de um bom tempo, pudemos ficar juntos.
O material tinha sido vendido, se foi, ou não, não era problema meu, levei esporro por um bom tempo, pelo que não tive culpa. Quis ser bonzinho, acabei mal.
Minha namorada falou finalmente.
- Eu não ia ficar esperando a boa vontade dessa mulher. Eu vendi a fantasia, há muito tempo.
Foi logo depois que telefonei à vizinha da Aline. Finalmente os portões foram abertos, estávamos chegando à frente da linha onde começa a contagem de tempo. A Harmonia à frente, formando um cordão de isolamento. Quando os portões da Concentração fecham, abrem-se os portões da passarela.
Nem me lembrava mais da Simone. Telefonei desde às 19:00h, era sempre a mesma resposta.
- Estou chegando! Só falta me arrumar.
De repente um mata-leão, não entendi nada. Era a Simone. Mais problema. Não sei como ela conseguiu entrar, com os portões fechados.
Ela havia perdido o noivo, quando estávamos na pós-graduação. Fomos juntos ao estacionamento, o noivo estava lá, ela veio me dizer que não tinha entendido nada. E eu que nem conhecia o cara é que tinha de entender?
- Ele me disse: eu te amo muito, por isso não posso ficar com você! O que tu achas?
- Eu não acho nada!
O cara não tinha discurso melhor, deu esse furado, para terminar o noivado. É simples. Pelo menos terminou ao vivo, pois tem gente que termina relacionamento por telefone, por telegrama, por rede social. É muita covardia.
O cara foi ao estacionamento do Campus, ligou para o celular dela, acompanhei-a até lá. Pelo menos estava trabalhando, estudando, tinha a cabeça cheia de outras coisas, pois o pior fim de namoro, é quando o cara está desempregado, só ligado na relação e o outro vem dizer que está fora. Logo, logo começou a namorar um músico, gente finíssima que me falava do ciúme dela.
- Eu estou tocando no palco, quando vejo, começa a confusão. Já sei que a Simone chegou. Ela começa a dar chute na canela das meninas que ficam à frente do palco, começa a empurrar para trás...
Uma vez no Boi, ele a deixou comigo, para ir ao banheiro. Como é popular e artista, cumprimentava todo mundo. Ainda bem que era conhecido.
- Ele não disse que iria ao banheiro?
- Calma, fica tranquila que ele tem de ser educado. Não é ele quem para os outros, é parado, por ser querido. É artista, queres que ele seja desconhecido?
- Vou já lá acabar aquela papagaiada.
- Fica quieta!
Por isso que apareceu no Programa do Gugu, aquelas pegadinhas estúpidas. Jogou água na artista, puxou o cabelo, foi uma confusão danada para separá-la. E ainda chamou todos os palavrões possíveis e imagináveis, tudo sendo gravado. Depois ficou com cara de tacho.
Mas no carnaval, chegando à linha, onde já existe o julgamento de um item, minha namorada de um lado, minha amiga do outro, pendurada no meu pescoço. Eu estava esperando começar a porrada, tentando desatar aquele nó, mas estava difícil. Ainda bem que minha namorada nem ligou, ficou na dela.
Segundo o Beto que foi da Exatas e malhou comigo.
- A mulher da gente tem sexto-sentido. Quando ela começa com ciúme pra cima de outra mulher, pode ir junto que “come”.  A gente nem está pensando em nada, mas a mulher já começa a sentir alguma coisa, começa a sentir, antes de nós pensarmos em fazer alguma coisa, vai que ali tem jogo.
Talvez fosse isso, o sexto-sentido da minha namorada só detectou amizade ali. Não tinha outra intenção e a colega estava com níveis alcoólicos acima do recomendável. Já nem sabia o que estava fazendo.
Mas o Beto mesmo, em uma festa junina, quando minha outra namorada se enfiou atrás do balcão e eu fui dançar com Arlene, uma senhora mais velha, com filhos, a única mulher de quem ela não tinha ciúmes na academia, passou por nós e disparou.
- È bom vocês pararem de dançar. Dona Marocas está com uma cara trombuda, olhando pra vocês. Não tira o olho. Parem senão começa um barraco!
Primeira vez que ela ficou com ciúmes da Arlene. O professor a escolheu como o bumbm mais duro, apesar de ser a mais velha na academia. Velha, uns dois anos mais do que nós. Minha namorada não dançava, mesmo porque não tinha ritmo, não se integrava, senão com os fofoqueiros da academia, e a Arlene para mim, era só amizade mesmo. Nunca tive intenção de mais nada.   
O Beto entendia um pouco de mulher, casou, pelo menos 4 vezes e antes do primeiro mês de gravidez, já sabia quem estava grávida. Dizia que a mulher mudava o olhar. E dava certo.
As meninas da academia diziam que não queriam nada com ele.
- Um homem que casa tantas vezes assim, não é pra mim.
-É muito volúvel!
- Não se pode confiar.
- É galinha!
Agora, homem é galinha também. As meninas ficavam falando dos galinhas. Galinha era só mulher porra!
Nós combinávamos de eu espalhar que ele havia separado. Mulher nunca age conforme o que diz. O que sai da boca, não é o que sente de verdade.
Na vez em que fomos visitar a fábrica no PIM, onde ele era diretor, a secretária dele, loura, bonita, mas muito tonta, até demais para o meu gosto, não saiu do meu lado. Perguntei o que estava havendo, aquela mulher grudou que nem imã. E falava uma coisa que eu não estava entendendo.
- A garrafa pet. A garrafa pet!
Não era fábrica de pet, será que fumou maconha vencida? Ele me confidenciou.
- Ah, todo mundo já “comeu” aqui na fábrica. É a tua vez! Ela gostou de ti.
Mas eu? Moço de família, namorada me esperando com a chibata na mão? Realmente não gosto desse estilo de mulher muito aparvalhada. Não era de se jogar fora, mas depois? É o tipo de mulher que o cara tem vontade de mandar pegar o vale-transporte e se mandar depois do clímax sexual.
Parece que no Sambódromo, de repente a vida começou a andar em câmera lenta. Passamos diante do carro de som, o namorado dela podia estar tocando lá, iria ficar uma situação vexatória, ela pendurada quase a carregava no pescoço. Faltando pouco para pisarmos a linha onde dispara o cronômetro, minha colega grudada no meu pescoço, uma lata de cerveja na mão. Tudo o que não pode.
- Por favor, joga a cerveja fora. Se ultrapassarmos a linha e tu estiveres com a lata na mão, já começamos a perder ponto.
- Ainda está cheia.
- Bebe logo por favor e joga fora, antes da linha.
Incrível minha namorada nem ligar. A Simone era uma mulher bonita, mas minha namorada, pelo menos nesse momento, ficou como se não tivesse ninguém perto.
Quando pisamos na linha, minha colega jogou a lata para o lado. Parecia que não ia acabar nunca aquela tortura. Não fez nada como Harmonia, só foi para se divertir. Como muita gente que só pega a fantasia que é a mais leve e prática, para se divertir.
Como chegou, desapareceu.
Depois outro problema. Fazer o pessoal da Harmonia, trabalhar, largar-se, em se tratando de casais, é o pessoal que sempre espera que tenha alguém para fazer a sua parte, depois diz que tudo está ruim. Muita gente da Harmonia bêbada, agarrada, até com quem era brincante das alas, se fosse reclamar daquelas atitudes, ainda tinha gente que ficava zangada.
Quando acabou esse desfile eu jurei para mim:
- Harmonia, nunca mais!
Se todos trabalhassem, ao menos um pouco, seria perfeito. Agora carregar o peso que deveria ser dividido com muitos, não é brincadeira, nem no carnaval.
Minha namorada não falou nada, nem na hora, nem depois. Passou batido aquela cena da minha colega no meu pescoço.
Mas até no carnaval, aparece o “jeitinho” Brasil de ninguém querer se comprometer, todo mundo esperar que o outro, mesmo sem saber se existe esse outro faça, resolva as questões, para ele apenas aproveitar. Regra, leis, é para pobres. Quem se acha acima dos outros, nem que seja um degrau, já acha que tem de ser servido, mesmo que esteja todo mundo no mesmo nível.
Não que seja coisa de gente evoluída, muito pelo contrário. Quanto mais atrasado, mais exige que os outros façam, que os outros deixem tudo bancaninha, para ele desfrutar, sem contribuir em nada, mas sempre achar que nada funciona, o “povo” não presta, o país é uma merda, mas ele sempre espera que tudo seja feito longe dele.

- Harmonia, quando muitos só aparecem quando está tudo pronto, para esculhambar, nunca mais!

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