Hoje acordei e como sempre o faço, já desperto cheio de pensamentos. Dentre tantos, veio-me à mente, aquela história da mulher que se utiliza do material da UFAm, naquela rua ao lado do Cheik Club. Porra, como é mesmo o nome da rua? Então fiz um tour mental.
É
engraçado como vêm à mente, coisas que nem se tem reparado, normalmente. Foi
como andar na cidade, à pé. Caminhava com a Simone Bundinha, depois da
academia, mas nem dava para reparar muito, porque, primeiro era muito mal
iluminada a cidade e segundo, porque e Simone queria conversar o tempo todo e
caminhava mais rápido do que eu. Subíamos ladeira, descíamos ladeiras,
atravessávamos as ruas correndo, por causa do trânsito e ela falando, quase
Manaus inteira, até o fim da noite, falando, falando, quando me perguntava
alguma coisa, eu só fazia: “hum!hum!”
Ela ficava muito chateada: “não vou mais caminhar contigo. tu só sabes
dizer hum! hum!?” É que o fôlego só dava para isso.
Justamente
porque caminhava diariamente, quero dizer, noturnamente com a Simone Bundinha
que a minha namorada à época deu o maior pití, depois quis caminhar comigo para
comprovar se caminhávamos de verdade e escolheu um domingo para fazer
exatamente o que fazíamos nos dias inúteis. Tudo bem, vamos. Lá fomos nós,
quando olhei para trás, nossa coleguinha estava parada, segurando no muro de
uma casa, parecia que ia estourar o rosto de tão vermelho. “Uma pedrinha que
entrou no sapato.” Tudo bem. Depois, que ela tirou a ‘pedrinha” e disse que estava bem, começamos a caminhar de
novo. “Areia. Meu pé está cheio de areia! Não sei como entrou no sapato e na
meia.” “Olha, vamos voltar! Chega!” Paramos no antigo Brasileirinho, ela
desabou. Estava realmente muito exausta. Não sabia nem o que queria, pedi e ela
tomou uma água de coco geladíssima, o melhor Gatorade do mundo e natural, depois
a água potável e só então é que vêm os isotônicos, mas ninguém tem coragem de
dizer a verdade; e quase que eu pego um táxi para voltarmos, mas ela se fez de
durona. Da outra vez, insistiu de novo, mas dessa vez, levou um dos cachorros
da casa, o menor de todos, o único que não tinha pedigree, vira-lata de pai e de mãe, e como sempre, o mais metido a
valente. Não é por nada não, não que eu não goste de cachorro, mas na verdade, é
que eu tenho pavor dos caninos e engraçado que me lembre, fui arranhado por
gato, na casa da Dona Nilze que era nossa e vizinha do Pimpa, quando éramos
crianças e ela tinha um gato e uma dessas noites que me levaram lá, fui brincar
com ele que estava embaixo da máquina de costura e a porra do bichano me
arranhou, ou melhor, azunhou-me todo. Nem por isso tenho medo de gato, mas esse
medo de cachorro,deve ter explicação na outra. Outra encarnação passada. Um dia
ainda faço regressão e viro rei, como todo otário que acredita nessas leseiras,
paga caro todo homem era no mínimo príncipe e toda mulher, no mínimo princesa
como se a quantidade de nobres antigamente, quando a população era infinitamente
menor, era grande.
Por
onde passávamos, os outros cachorros avançavam e em mim que não tinha nada a
ver com a tolice. Ela decidiu colocar o cachorro no colo, não adiantou. Quando os
outros nem estava nem aí, o cachorrinho atiçava. Antes que eu virasse picadinho
de pet-shop, resolvi voltar.
Égua!
De
todas as caminhadas, a que mais marcou, foi quando, caminhando com a Karlinha, perto
de onde hoje é o Viado Adulto Gilberto Mestrinho, íamos passando pela frente do
INPA, o campi da Efigênio Salles,
onde havia as festas da ASSINPA, e descendo, vinha um doido. Falei para a
Karlinha não olhar para o doido, fazer de conta que ele não existia, deixar ele
ir. Seria melhor dizer: “olha!” Ele passou, ela encarou, ele foi embora, ela
continuou olhando para trás, de repente ela gritou apavorada, aqueles gritos
pavorosos e disse que ele vinha vindo. Quando olhei, só vi uma coisa de metal reluzindo
no escuro. Pensei logo que fosse uma faca, mas acho agora, que era uma colher e
nos metemos no meio do trânsito louco, passando pelo meio dos carros que não
paravam, até alcançarmos o outro lado da pista, a outra mão, o sentido
contrário. Sei lá se o maluco ainda estava correndo atrás de nós ainda, só sei
que joguei a Karlinha na frente do ônibus, pela porta do motorista e pulei os
degraus todos, como se estivesse praticando salto em altura e caí sentado ao
lado do motorista. Todo mundo ficou assustado e ele fechou a porta e seguiu
adiante. Só deu para pedir para ele nos deixar na frente da academia, pois nem
dinheiro tínhamos, justamente porque estávamos fazendo uma caminhada que acabou
em corrido de 100 metros rasos. Ele até que foi bacana e parou em frente,
exatamente.
Só me
lembro de quando o Diretório e o Partido estavam cercados e resolvemos reunir
no Manicômio Eduardo Ribeiro, no fim da noite. As presas que me foi avisado,
são as mais violentas, invocaram comigo e uma delas queria cigarro. Não
adiantou dizer que eu não fumo que ela me chamou de tudo o que é palavrão
conhecido e até desconhecido. Entrou na sala do nosso companheiro que estava de
plantão, um maluco que queria remédio. Ele o colocou para sentar em um
banquinho sem laterais, nem encosto e outro companheiro, sem saber, o segurava,
quando ele ia caindo. O companheiro psiquiatra mandou todo mundo ficar longe,
não interessava se ele iria cair no chão. Então o paciente fez que foi, fez que
foi, acabou “fondo”. Quando viu que iria cair no chão de verdade, levantou
muito puto e voltou para sua cela. “Viu? Ele é viciado em drogas e faz essa
encenação toda, para conseguir remédio forte.” Enquanto esperávamo-no se
desocupar para começarmos a reunião, fui assistir TV, com os pacientes mais
calmos do pedaço. O Fantástico estava passando uma prova de X-Games, alguma
coisa assim. Conversando com eles, falei que o motoqueiro que fez um
malabarismo daqueles, era doido. Bem, tive de deixar a sala de televisão. Pelo
visto eles não gostaram a citação. Então fiquei em um dos quartos, reparando a
mania de um dos caras que ficava agachado ao lado da cama de outro paciente e
esse, queria dormir, mas quando o fazia, deixava o cigarro cair dos dedos. O
outros que estava bem desperto, pegava a bagana, cutucava o outro e o acordava
para fumar. Ainda bem que o cigarro acabou, senão seria um moto perpetuo. Finalmente, fomos levados para os fundos do
hospício e o que dava medo, era a zoada das grades se fechando, a cada passo
que dávamos.
Mas,
depois que comecei a caminhar sozinho, quando deixei de ir da Rua Paraíba até a
Rodoviária e voltar, quando já estava muito visado, todo mundo já tinha me
visto nesse percurso, mudei para caminhar à noite, de lá de casa, para a Djalma
Batista etc. Foi quando aquela prostituta que ficava de saia de chrochet e sem calcinha, aliás se fosse
bem cuidada, seria uma mulher muito interessante, mas viciada em cocaína, deve
estar caidinha, encheu a mão para pegar nas minhas gônadas sexuais masculinas e
eu, cansado, suado, já há horas caminhando, até assustei com aquele ato impetuoso,
uma mulher que eu nem a conhecia, nem falei com ela, vir como uma tarada para
cima de mim, eu, moço de família, não estava acostumado, depois discuti com ela
e um carro cheio de meninas, parado na nossa frente e elas rindo, como se fosse
brincadeira. Aí comecei a ver a cidade de uma outra maneira. Engraçado como de
carro, muita coisa passa batida. À pé, comecei a ver os contornos das casas, a
arquitetura, até construções que nunca havia visto, estátuas começaram a
surgir, no mesmo caminho que antes parecia invisível nas laterais.
VIAGEM RAPIDINHA
Mas na
cama ainda, fiz o tour virtual, ou
mental, até descobrir o nome daquela rua.
Bem,
comecei do sinal que fica no Rei do Churrasco, Rei de alguma coisa. Não sei se
a mesma rua, no Bairro da Cachoeirinha, tem o mesmo nome. Então vamos pela
Cachoeirinha. Passa em frente do necrotério do Hospital Geral de Manaus, ou
Hospital Militar do Exército, mais um pouco, pela agência de Correios, onde
Bustela deu o maior piti, quando falei que o Willys havia enviado uma encomenda
da Espanha e já estava há dias no depósito, ele teria de resgatar logo, antes
que voltasse, ele rodou Manaus inteira atrás da encomenda e na agência da André
Araújo disseram que nesses casos, do estrangeiro, vem direto para a agência da
Cachoeirinha, ao lado do EFEXEX, alguma coisa assim, do Exército. Ele foi lá,
pediram o número, a identificação, tudo, para poderem procurar. Como dei um
número de cabeça e umas letras malucas, o rapaz disse que não podia ser, não
existiam encomenda com aqueles números, nem letras e ele começou a chutar o
guichê, a fazer escândalo, como sempre. O Sérvulo, amigo nosso, disse que se
escondeu atrás da fila que estava enorme, para nem saberem que ele o conhecia e
contou tudo o que aconteceu direitinho, depois. Bem, depois de tudo, quando viu
que não tinha jeito mesmo, ele finalmente me ligou de volta, muito puto, então
revelei que era Primeiro de Abril. Com a Aline foi pior. Ela deve ter
telefonado para todo mundo no mundo inteiro, para dizer que haviam assassinado
o Presidente do Boi Vermelho e depois de horas, ligou de volta, com muita
raiva. “Eu aceito qualquer brincadeira, desde que não se coloque morte no meio.”
Na verdade, ela queria dizer: “Eu aceito qualquer brincadeira, desde que eu não
caia como pato”. Nem adianta querer me pegar na segunda-feira, porque já estou
de mutuca. A conta de telefone dela, deve ter sido enorme, para ela aparecer
como a primeira a dar a notícia. Quando ainda estava conversando e ela pediu
para esperar, era para avisar Deus e o mundo que estava caindo no Primeiro de
Abril. “Aceito” porra nenhuma, graças a Deus ela não me pegou naquele momento,
senão seria um homem morto e nem de Boi eu gosto. “Brincar com morte, quero
dizer, é uma brincadeira muito sem graça! Só liguei para te dizer isso!”
Então, na
Cachoeirinha ainda, passa em frente de onde era a casa do Cabeção, do
Cabecinha, do Cabeça, da Cabecinha, da Família Cabeça. Em frente a uma loja de
pneus. Tem o sinal, começa de verdade o que eu acho que é a rua em questão. Do
Rei do Churrasco em diante. Logo na descida, tem a casa onde morava o Heitouro,
ex-marido da Amélia. Mas vamos chamá-lo pelo nome, mesmo que o apelido tenha
sido anterior ao casamento, para não gerar inimizades, como o Zé Touro que na
Exatas/Tecnológicas, veio me pedir para não o chamar mais de Zé Touro, porque
estava casado, blá, blá, blá. O que tem a ver o cós com as calças? Também não o
chamei mais, nem de psiu, pois desde criança sempre me acostumei a chamá-lo de
Zé Touro, mesmo que o nome dele nem seja José, não sei realmente o nome dele. É
como o Paraná que quando estava todo troncho, liguei para ele num domingo,
ortopedista e ele me mandou procurá-lo no Hospital Universitário Getúlio
Vargas. Estavam comemorando o aniversário da minha irmã mais nova numa
churrascaria, passei por lá só para dar um alô e me dirigi ao HUGV. Além de
torto, uma dor danada no corpo inteiro. Cheguei à portaria, um daqueles guardas
“muito educados”, “muito simpáticos” que colocam para tratar com gente e pior,
com gente doente. A incoerência do Setor de Pessoas, quando se trata de gente de
mais baixa renda da população como se fosse bicho do mato. Desses atendentes educados
na Sorbonne, mas na Estrebaria da Sorbonne. Identifica, o que tu queres, eu
torto e com dor, tive de baixar para falar por uma janelinha. E olha que a UFAm
onde se ensina a cuidar a da saúde das pessoas, a tratar as pessoas como gente,
mas na prática a teoria é outra, pois parece que muita gente só está ali para
receber o seu no fim do mês e chegar até a aposentadoria, nada mais. O resto
que se foda, não são eles que vão dar murro em ponta de faca. Falei que tinha
marcado com o Paraná. Doutor Paraná. E o nome do cidadão? Um ex-jogador de
volley que foi convocado para até a Seleção Brasileira de Volley. Porra, pensar
nessas horas, é a coisa mais difícil do mundo, torto e tendo de me entortar
ainda mais, para falar com o “recepcionista”. “O nome dele?” Paraná. Alto,
ortopedista. Não adiantou nada. “Olhe, entre e veja se você o encontra por aí”.
O por aí é que foi difícil. Entrei em tudo o que era sala de gente morrendo,
com as tripas para fora, gemendo, mas ortopedia mesmo, nem morto. Ninguém do
quadro de serviço sabia informar onde ficava o setor. Imagina o treinamento
dessa gente que deveria cuidar de gente. Voltei para casa e fui procurar o Dr.
Chang que me ensinou tudo sobre Medicina Ortopédica e me receitou umas injeções
pesadas e ao mesmo tempo, fui me tratar com fisioterapia intensiva, na clínica
ortopédica na Avenida Ayrão que mudou de nome, mas não faço a menor questão de
lembrar e os médicos de lá, prefeririam que eu fizesse aqueles exercícios de
puxar o pescoço com pesos, tração, lembrei-me, forno, parafina e uma caralhada
de coisas. Nunca mais, mas também até hoje ninguém descobriu se era do osso, da
coluna, da musculatura, do físico, da mente, ou do “ispríuto”. Foi melhor
apelar para os outros médicos, do que tentar lembrar do nome do Paraná. É como
um dos sócios da firma que aluga a Casa da Paraíba. Lembrar o nome dele, é uma
dificuldade. Fui ao aniversário de 15 anos da filha dele, quando falo com a
digníssima esposa, nem pergunto por ele, para não ter de chamar pelo apelido,
mas ele só chamava todo mundo na Faculdade de Estudos Sociais, de Queijo. Ficou
o apelido de Queijo. Antes do aniversario da filha, queria saber se eu tinha
contato com o Sujeira. O pai do Sujeira, estava até lançando um livro, sobre o
Polo Incentivado de Manaus, ele que foi até Superintendente. Mas nãos sabia,
como nunca sei de chofre, o nome do Queijo. Depois é que me disseram que na
gíria, Queijo, é corno.
Bem,
mas descendo a ladeira, vem a casa da “Vovó”, na verdade era a casa da avó da
Acácia que quando a ia buscar na casa da vovozinha, ela pedia para eu não
correr. O problema é que o meu pé, dizem os entendidos, é pesado e o carro já
sai queimando o asfalto. Logo em frente, vem o Braga Veículos.
Subindo
a ladeira, tem a Igreja de São José Operário, onde Bustela se casou e onde,
acompanhei uma pessoa que me pediu para acompanhá-la umas duas, três, sei lá
quantas vezes, naquela missa do dia 19 de todos os meses, a dos milagres que o
único milagre que acontecei de verdade, era o padre famoso de lá, tirar o
dinheiro da sacristia para pagar os bofes e foi defenestrado de Manaus; onde os
lesos lotam a igreja de São José, desde a manhã, até a noite e onde, a gente
chega na porta de entrada, já sua, mesmo que esteja chovendo, de tanta gente. Nunca
suei tanto, quanto suei nessas missas. Nem na sauna. Mas convenhamos, só
entrava na sauna vestido, para assistir a novela onde a Malu Mader surgiu e era
uma motoqueira que queria vingar a família essas coisas todas, mas, até a sala
de TV. A Malu Mader substituiu a Lidia Brondi que me fazia assistir a um
seriado, quando éramos adolescentes, OS PROBLEMAS DE MÁRCIA, na TV Educativa, só
porque ela era bonitinha. Para o meu
gosto da época.
Mais acima,
tem a casa antiga dos sogros de Bustela e logo em frente uma casa de carnes que
quando comia carne vermelha, ia muito, com umas palmeiras, como símbolo. Lembrei.
Coqueiro Verde. Numa daquelas esquinas, havia um bar fuleiro que a Acácia,
quando passamos no vestibular de Administração, chamou-me para comemorarmos por
ela ter conseguido alguma coisa, acho que era o minhocário, a criação de
minhocas em sociedade com outras duas que deu a maior confusão, deduraram todo
mundo para a família dela e a dedo-duro que nunca foi com a minha cara, falou
textualmente para os pais dela que o único que não participava das “barcas”,
era o Thevis. Até que enfim falaram bem de mim. Pelo que soube, meu conceito
subiu com a Família Neves, depois dessa caguetagem generalizada. Fomos ao dito
bar, no intervalo das aulas, ela tomou umas cervejas, eu só a acompanhei. Nem
sabia o que viria depois. Ela deixou o curso no início, eu tive umas pendengas
para resolver, até que deferissem meu pedido de aproveitar os créditos tanto de
Física, quanto de Economia. Levou um período inteiro, com aquela mulher chata
que quando me formei em turma especial ela queria saber porque eu tinha de
formar antes dos outros, porque me disseram que se eu levasse o processo em
mãos, sairia logo e como conhecia o Reitor Marcus Barros, apesar de ter feito campanha
para outro candidato, o Diretor da Unidade, que também fiz campanha contra a
candidatura dele e o Diretor do Curso, formei antes de todo mundo. “No meu
tempo não era assim.” Acho que ela queria aparecer para o marido que a estava
esperando. “Não mandei a senhora nascer no tempo dos dinossauros!” Pronto, ela
marcou a data, logo e me formei, como sempre o fiz. Aluno especial, Da APAE.
Uma, ou
duas esquinas depois, vem a lateral do antigo Seminário Católico, do antigo
ICHL, da antiga Faculdade de Economia, que depois de uma reunião onde eu
defendi a divisão do prédio com o Conservatório de Música, o Curso como um todo
até ganhou um auditório, melhorias estruturais, na parte de cima que era
deixada ao léu. Por fim, virou a Faculdade de Estudos Sociais, Economia de um
lado, Administração do outro e Contabilidade no meio, e hoje abriga o prédio da
UniNorte. Logo em frente da Faculdade, ficava o Toc Toc, uma lanchonete que de
vez em quando, levava minhas musas, para conversarmos, cada uma em seu turno. E
foi lá que a minha amiga que era noiva e a minha namorada da época tinha a
maior raiva dela, perguntou se eu era sempre assim, com a minha namorada.
“Assim como?” “Toda mulher que passa, tu viras o pescoço!” “Ledo engano seu. Eu
viro o pescoço para mulher, para homem, para gato, para carro, mexeu, é
curiosidade apenas.” Mas desde ali, aprendi a me controlar, principalmente ao
lado de uma senhorita, de uma mulher de respeito e até sem respeito, mas é uma
forma de consideração à pessoa com quem se está na sua frente. Eu sempre digo
que as maiores lições que eu tenho na vida, vêm das mulheres.
Aí
começa outra descida e passa na frente do Posto do Janjão, Beer Dance,
antigamente, havia uma livraria pequenininha, mas muito boa, do outro lado, da
rua, em frente ao Teatro Bonates. Alguma coisa Bonates, deve ser parente do
Mestre Kaká, ex-cunhado da Margá. E também, ex-Presidente da ASSINPA, quando a
coisa funcionava de verdade. Mestre em Capoeira e Doutor em Biologia, para ser
claro, meu primeiro colega quando entrei na Física, depois de sair do Exército
que me convidava para estudarmos na casa dele, Química Orgânica, que fazíamos
juntos na mesma sala, com a mesma professora, uma idiota, péssima de didática,
mas diziam ser amante de um “picão”, então já viu, tem muito disso na
Universidade. Ou tinha.
Aí, no
vale que se forma, vem o Buraco do Pinto, depois começa a subir de novo, a
antiga casa, onde morou a Vovó, a minha avó, aquela que se fosse avó da
Chapeuzinho Vermelho, os caçadores teriam pena era do Lobo-Mau. E ao lado, a
antiga casa da Dona Iolanda, sogra de Bustela que era vizinha de Seu Clovis e
até hoje lembra dele. Vem o sinal, ao lado de uma floricultura que só tem flor
para defunto, que fica em frente à Funerária Almir Neves e o do Biri Nignt, um
barzinho de quinta categoria de fica na esquina. O sinal está aberto, passa-se
o cruzamento, ao lado do laboratório do Doutor Bastos Lira.
Mais um
sinal de trânsito, ou como os paulistas chamavam, semáforo que hoje se espalhou
Brasil afora, ou sinaleira, ou o cacete a quatro. Atravessou, a lateral do
Cheik Club, clube que frequentei e hoje, mais velho, não iria nem por decreto,
havia briga de todo jeito e para sair, ou entrar, é uma ilha que fica suspensa
num vão sem fim. Do outro lado, a Livraria Valer, ao lado, um antigo cinema que
só passava filme de putaria. Começa outra subida. Um laboratório, o antigo Conservatório
de Música da UFAm, na outra esquina o Colégio Adalberto Vale, ou Valle, sei lá,
o Colégio Benjamin Constant que quando pertencia às freiras, tinha uma das
melhores bandas de música nas paradas de 5 e de 7 de Setembro, era muito bem
cuidado e formava gente que sabia discernir sobre a realidade, depois que
passou para as mãos do Estado, virou puteiro, de todas as formas. Em frente,
uma tatacazeira famosa que vende o melhor acarajé de Manaus, os fundos do Clube
Luso, não sei bem se é a Academia Amazonense de Letras, ou o Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas, que sempre confundo, porque o Tio Rodolpho
pertencia aos dois, nunca sei quem é quem. Depois, o Instituto Estadual do
Amazonas, logo embaixo, o Grupo Escolar Princesa Izabel, onde comecei meus
estudos para os devidos fins, bem que antes, passamos por várias professoras
particulares, que nos alfabetizaram, na esquina, o Grupo Sucesso de um cara que
estudou Física comigo mas está boçal e faz da Educação, um investimento, como
se aplicasse na Bolsa. Outro sinal, descendo a rua transversal, a antiga casa
do Mini Maciste, atravessando o cruzamento, na rua em questão, a Praça da
Saudade, a antiga casa da Dedeia, a sede da Caixa Econômica Federal, uma esquina,
onde no outro quarteirão ficava a antiga sede da Faculdade de Engenharia da
UFAm, depois as Faculdades de Contabilidade e de Administração, e quase em
frente, uma das sedes do Diretório Universitário dos estudantes, que uma vez em
que os motoristas de ônibus estavam descontentes, o Presidente Pelego do Sindicato,
fechou-lhes as portas e eles não sabiam para onde ir, foram levados à sede do
Diretório, não sabiam nem como fazer uma assembleia, foi preciso que colocássemos
ordem no puteiro ,pois todo mundo queria falar ao mesmo tempo, de lá, partimos
em passeata pacífica, até a Sede da Prefeitura de Manaus, quando passamos em
frente do Colégio Militar, ainda era Ditadura braba, uns babacas se infiltraram
no movimento e distribuíram cartazes da CUT. Não que não fosse legítimo, mas
naquele instante, a CUT nem existia ainda e os trabalhadores, condutores e
trocadores de ônibus estavam se organizando, não dava para começar a dividir,
antes de juntar todo mundo. E de outra
maneira, diziam que as tropas do Exército estavam de prontidão na frente do
Colégio Militar, com cartazes de entidades ainda clandestinas, era um pezinho
para dizerem que foram incitados, foram agredidos. Jogaram fora, antes que
passássemos em frente do CMM. Mas tudo bem, tudo legal, conseguimos chegar à
Praça Dom Pedro II se não me engano, em frente à antiga Sede da Prefeitura de
Manaus, quando um bêbado que deve ter saído daqueles puteiros ao redor, além de
trôpego e sujo, nem vestia alguma farda das empresas, jogou uma pedra, na
verdade, uma montanha no vidro dianteiro de um ônibus que se pensava estar
vazio e saiu a tropa de choque da Polícia Militar do Amazonas que estava
sentada no chão do veículo. Foi um para para se acertar e quase tiram a cabeça
do pescoço do Eronildo, hoje Secretário de Produção Rural Eron. Ele que já nem
tem pescoço, por pouco fica sem a cabeça, com o golpe de escudo que o soldado do
choque quis desferir-lhe.
Pronto,
do outro lado da rua, já é o Bairro de Aparecida e acho que a rua tem outro
nome. Na esquina o Atlético Rio Negro Clube, um restaurante self-service do Zito que era da Brahma,
quando íamos negociar bebidas em consignação e da Lilian, contemporânea da
Matemática, do outro lado da rua, o prédio para onde se mudaram os pais da
Dedeia, atravessando, a Escola de Samba de Aparecida e bem no final, havia um
clube só de gays e de lésbicas que nunca entrei, diziam que cheirava à gala
seca, mas pode ser fofoca da oposição. Lembro de ter ido à uma das bandas de
carnaval que eles promoveram e encontrei um grupo de amigas e ficamos juntos,
eu e minha namorada à época. Tudo bem, tudo legal, minha namorada começou a se
sentir mal, a querer ir embora, perguntei por que, o que estava acontecendo, porque
as meninas começaram a se agarrar, a se beijar, a demonstrar carinho com as
outras meninas, normal entre pessoas que se gostam. “É contigo? Não! Tu não estás
acompanhada? Sim. Elas estão mexendo contigo? Não. O que tem a haver, elas se
agarrarem, que possa te atingir?” Égua, uma gente tão preconceituosa que acaba
afetando o corpo físico, por uma doença da alma.
Lembro-me
das vezes que ia com a Acácia, a um dessas boites
gays, na Avenida Joaquim Nabuco e não
era o Consciente. Entrávamos de mãos dadas, o pessoal do outro lado, parecia
ficar pinicando, de raiva. O preconceito é de todos os lados. Todos somos
educados, desde criancinha, com a mania de se querer aniquilar o diferente, ao
invés de se integrar. Uma das vezes em que fui ao Consciente, na subida da
escada, um negão forte como eu que praticava Fisiculturismo também, deu uma
piscada dos Diabos. Meu Deus do Céu. Imagina subir nos costados daquele cara, mas
pior do que isso era ainda chamá-lo de meu amor, justamente quando ele decidisse
que agora seria a vez dele de entupir o meu buraco. Todo malhado, forte, com um
corte de cabelo todo diferente. Depois me dizem que não é coisa de viado. Mas
aquilo não me intimidou de maneira alguma. Fui sentar à mesa, com a turma e
ficou por isso mesmo. Diferente de quando fomos a um bar, ao lado da Faculdade
de Direito, na Praça dos Remédios que a Dedeia pediu para esperá-la do lado de
fora do toilet, pois estava “apertada”
para fazer o número 1, entrou e saiu no mesmo pé. Nem por milagre, nem homem
consegue urinar tão rápido. “O que houve?” “Ah, eu entrei, uma mulher pediu o
meu telefone!” “Ora porra! Volta e quando ela vier com gracinha, fala grosso, olha
na cara dela e pergunta: ‘não a estás me reconhecendo filha de puta!’” Simples.
A gente se faz de mais macho do que essas pessoas. Elas ficam na sua. Se
atacarem, grita que aí é porrada! E quando frequentava o bar das lésbicas na
Darcy Vargas, próximo do Amazonas
Shopping. Cada mulher que dava um rock,
cada peitinho maravilhoso, eu mexia de vez em quando, diziam que eu ia acabar
levando porrada de sapatão. Quem sabe, podia sobrar uma bissexual, nos dias de
mulher e pelo menos, a noite estaria salva para mim.
Em
poucos segundo, percorri todo esse percurso que se fosse à pé, acho que seria
um dia inteiro caminhando.
Ia
lavar minhas cuecas, mas estava chovendo, então fui fazer as tapioquinhas. O
pessoal ainda estava dormindo, fui bater nos quartos, para saber se não haviam
ido visitar o Pai Eterno, sem comer o Ovo da Páscoa. “Não, eu estava dormindo.
Dormi muito hoje!” Porra que susto! Sou
como a Aline. Eu aceito tudo, menos brincadeira com morte,uma gracinha sem
graça!
Lá no
fim da linha, quando estava fazendo todo o percurso mentalmente, é que me
lembrei do nome da rua. Rua Ramos Ferreira.
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