quarta-feira, 27 de março de 2013

THÉO O INTELECTUAL GOZADOR


Juro que pensei que aqueles meninos e meninas que na minha adolescência viviam de fazer pose, fossem acabar num futuro próximo. Aqueles caras que antes de estudarem música, a primeira coisa que fazem, é deixar o cabelo crescer, o outro que posa de intelectual, só porque fuma maconha, a outra que uma hora é feminista, a outra é homofóbica, mas com um discurso enganador. Mas que nada, ainda hoje, depois do Neoliberalismo, que nada mais foi do que o Nazismo disfarçado, tanto que têm em comum, Hayek, ficou pior. Madona, Lady Di, Xuxa, esse pessoal que o único conteúdo, é fazer escândalo, é posar de coitadinho, vive de pose, nada que se sustente além disso. Piorou e muito. Hoje, até intelectual, antes de pensar, faz tipo. E às vezes, nem precisa pensar.
Pois Théo, ou melhor, Theofilus, era um desses muitos tipos. Muita pose, era visto como o cara, o intelectual, mas não se sustentava à primeira confrontação de ideias.
 Na escola, Dona Cremilda tinha muita dificuldade em analisar suas redações, a partir dos livros que lia. É sempre de bom tom, que todos comecemos com os clássicos, para depois, nos aprofundarmos nos pensadores mais recentes, não é mesmo? Que nada. Théo, quando lia um livro, era sempre de autores quase secretos. Típico de gente assim que gosta de ser exclusivista, ou coisa assim.
- Bem turma, hoje vamos discutir o teor do livro que cada um de vocês, leu. Vamos começar pelo Théo. Por favor!
- Bem professora, bem turma, eu li ONDE O HOMEM ENCONTRA A MULHER NO PARALELO 69 QUE ACABA NUMA SOCIEDADE SEM IDENTIDADE.
- Muito bom. E o autor?
- Ah, o autor é Cagoaneira di Bosteles. Turco que é contra a ideologia mulçumana, mas não é ateu, nem gosta do Cristianismo, muito menos o Judaísmo, é contra as religiões pagãs, enfim, um pensador do nosso tempo.
- Mas menino, que pensador é esse que só sabe ser contra, mas nunca diz a sua posição de verdade?
- Ora professora, um pensador em busca do novo. Procurando novas soluções. Ele sabe o que não quer, um dia encontra essa proposta que ainda está maturando em seu ser.
- Mas que novas soluções se as que existem, nem foram exploradas?
- Ah, não sei. Não vou mais falar mais nada. É uma coisa muito atual, que até fica sem ser entendida, por quem só busca o velho.
- E o conteúdo?
- Ah, fala sobre onde o homem encontra a mulher no paralelo 69 que acaba em uma sociedade sem identidade.
- Tudo bem, isso nós já entendemos, mas o que quer dizer em si! A tua conclusão, o que tu inferes com tudo isso?
- Não sou eu que vou criticar um autor tão famoso assim. Ele se basta! Se não se entende o que diz o título, não adianta discutir mais nada. Não deu para compreender? Puxa!
As meninas ficavam com os esfíncteres batendo palmas para um cara como aquele. Uma inteligência acima do que elas conheciam.
Na aula de Artes, ainda estavam aprendendo a fazer uma reta com as mãos livres, quando Théo já veio com uns rabiscos.
- O que é isso menino?
- É o impressionismo da minha arte abstrata na relação com a sociedade realista, feita em cubos.
- Então tu já és artista, antes mesmo que nós nem tenhamos aprendido a desenhar?
- Sim. Me inspiro sempre nos grandes nomes, daí para adiante, expresso meu pensamento nas telas.
- Mas a que escola tu pertences?
- Professor, não preciso seguir ninguém. Eu sou a minha própria escola. A partir de mim, aparecerão outros.
Ele se achava mesmo.
Os estudantes do grêmio estudantil armaram uma discussão para debater as ideologias que se conhece. Lá estava o gênio gozador. Théo!
- Olha, antes de começarem a falar tolice, vou colocar minha posição. O Feudalismo não existe, o Capitalismo é isso e o Comunismo, é uma coisa fora de moda.
- Mas espera aí, nem começamos e tu já chegaste a essas conclusões?
- Sim. Stalin se aliou a Hitler...
- Peraí meu companheiro. Esse discurso é típico de idiota que nunca leu história, só repete o que ouviu falar. É típico! Quer começar por aí?
- Não me venham com suas ideologias fechadas. Eu sei como vocês agem.
- Mas quem age sem dar a vez que se tenha defesa, neste momento, és tu.
- Tu és um comunista atrasado!
- Tudo bem. E tu, o que és?
- Eu sou gente. Basta! Não sou capitalista, nem comunista, nem negro, nem branco. Eu sou da raça humana.
- Discurso típico de quem vive de fazer pose. Quando os racistas fazem escravos pela cor, quando discriminam as pessoas, sem motivo, só pela raça, ninguém diz nada, mas quando os discriminados começam a se manifestar, aparecem esses discursos de idiota. O discurso que sempre chama os outros de reprimirem a discussão, mas que antes que os outros se manifestem, já começa a denegrir a imagem, com gracinhas. É típico de ditador enrustido.
- Eu já falei que ser humano basta!
- Mas como basta? Estamos no limiar de mudanças, as pessoas têm de se definir, senão serão sempre escravos das ideias alheias, ou alheios ao que se passa em seu redor.
- Eu sou gente, basta. Já disse.
- És aristocrata?
- Não. Eu sou pós-moderno.
- És burguês?
- Não. Eu suo para ter o pão de cada dia.
- És socialista?
- Bem, um pouco, ma non troppo!
- És comunista?
- Ixe. Imagina. Ser igual a todo mundo, ter de dividir tudo com os outros...
- Companheiro, vê-se que tu és um idiota que nem te deste ao desplante de ler, para entender o que tu dizes. Esse teu discurso é bem antigo, é ultrapassado, é arcaico, é fora de moda, das ditaduras militares e cristãs. Isso sim está fora de moda, é esse discurso reacionário de quem se mantém ignorante, fazendo pose que não deixa que se conheçam outras realidades, por se fazer o terrorismo psicológico, toda a vida, na cabeça dos outros.
- Eu não sou ultrapassado. Leio Cricko Tombovsk, Angela Urnauld, Diogenes Carpacho, Amelika Stonkos... Conheces?
- Nunca ouvi falar! Mas eu te pergunto, já leste Marx? Já leste Schumpeter? Já leste Robespiere? Já leste Proudhon? Já leste Sócrates? Já leste John Locke? Já leste Hayek? Já leste Lord Byron?...
- Não preciso. Eu estou à frente desses atrasados.
- Não camarada, tu queres te mostrar muito inteligente, sem passar pelo básico. Tu queres posar de escritor de best-seller, sem aprender a ler e a escrever. Para ser pintor, é necessário saber o mínimo de geometria. Hoje o cara que sabe que é uma bosta, já chega se dizendo isso e aquilo, por não saber nem fazer um círculo nu na areia. Para ser músico, é preciso no mínimo, saber fazer solfejo. Hoje o cara não sabe nada, mas já chega se dizendo pagodeiro, sertanejo, roqueiro, sem base nenhuma e ainda quer inventar moda. Para falar em política, é primordial que se conheça o mínimo dos pensadores de cada tendência. Os caras já chegam lendo o resumo do resumo, do resumo, e saem cagando sabedoria. Meu companheiro, intelectual uma bosta. Tu és um merda metido a besta que só sabes ler orelha de livro e a única coisa que tu aprendeste de verdade, é fazer pose.
Pronto, desde aí, Theo, ou Theofilus foi visto sem máscara. Além da pose, ele não tinha nada mais a oferecer. Cagou-se!
Então Carmélia que sempre o teve como o cara, aproveitou para afundá-lo mais.
- Theo, me diga uma coisa. O Comunismo está acabado. Certo?
- Certo.
- E o Capitalismo?
- Também não tem muito futuro.
- Mas sejamos inteligentes. O Feudalismo é impensável, para o nível de desenvolvimento a que chegamos. Existe o Capitalismo, o Feudalismo, as sociedades dos clãs, as sociedades tribais, ou Comunismo Primitivo e o Comunismo Científico. Qual destes tu és?
- Eu fico com o Socialismo.
- Mas Théo meu querido, o Socialismo, é um passo para o Comunismo. É justamente, quando existe a Ditadura do Proletariado, a troca de um sistema por outro.
- Não, o Socialismo Democrático.
- Pois é. Desde o Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels já falavam que o Comunismo começa com o Socialismo Democrático. Já leste? É um livrinho fininho, que até quem está aprendendo a soletrar, consegue ler em um dia.
- Não. Esse Socialismo, mas aquele que não trás consigo a violência, o Socialismo Pacífico.
- Também tem esse debate, logo no Manifesto. Entendi. Tu és social-democrata.
- Não. Sou socialista.
- Tu és social-democrata e pela conclusão de Lenin, era a última etapa do Capitalismo. Então, tu és capitalista na verdade. Só não tens coragem de te declarar e pior, não tens fundamentos, para sustentar tua ideologia, sem que seja, tentando calar, quem nem abriu a boca ainda.
- Bem, se a gente encontrar novas ideias, pode dar certo.
- Pode? O Que está posto hoje é a ideologia que mantém a riqueza concentrada, contra a busca de qualidade de vida para todos. Quer dizer, quando tu gozas os outros, mas não mostras a tua ideologia, é por medo de te chamarem de reacionário? Ou de quererem que tu esclareça como o que está morto, pode ser ressuscitado.
- Não. Eu acredito que se todos doarem seus lucros, se todos dividirem suas riquezas, o estado não precisa aparecer.
- E tu acreditas realmente nisso? Acreditas também em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa? É a mania de quem não tem fundamentação alguma, pensar que está descobrindo a pólvora, sem nem saber a quem pertence.
- Não. Se o Capitalismo for modificado, podemos chegar a uma sociedade onde todos tenham suas necessidades atendidas.
- Théo, deixa de ser tolo. Se a gente tem o número 2 e o número 3, tu podes colocar 2,01, continua sendo 2. Se tu acrescentas 2,58, continua sendo 2. Se tu quiseres mascarar como 2,99, continua sendo 2. Se tu chegares a 2,99147, continua sendo dois. Agora, se ao dois, soma-se mais 1, deixa de ser 2 e acaba sendo 3. Deixa de se enganar e querer enganar os outros, fazendo pose. Tu és reacionário, na verdade, lutas pela manutenção do que já está posto, mas com pose de vanguardista. Só pose. Não te sustentas, em defender o que tu pensas.
Théo o intelectual gozador, na verdade, era gozador, por não ser nem um pouco intelectual, nem mesmo inteligente.

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