terça-feira, 2 de abril de 2013

SEU KOROCKA - A DESPEDIDA DE SOLTEIRO

Até hoje, as peladas dos amigos de longas datas, sempre tem o time dos solteiros, contra os casados. Houve um tempo, faz tempo à beça, em que as peladas começavam a escassear do lado dos solteiros, pois todo mundo decidia casar e quanto mais o tempo dava as caras, menos solteiros para completar o outro lado. Mas como já disse, faz tempo que se perdeu de vista. Hoje, depois que os carolas protestaram contra o advento do divórcio, mas mesmo assim passou, contra a família e os bons costumes cristãos, está difícil completar o time dos casados. Tem gente que já casou, pelo menos, umas 5 vezes e ainda está atrás da alma gêmea. Principalmente aqueles que nasceram antes do prazo e sozinhos, nem com Deus a acompanhar.
Mas na pelada dos amigos de Seu Korocka, apareceu mais um para virar casaca. Geraldo, depois de anos de boa vida, de liberdade total, decidiu se engalfinhar nos braços de uma mulher, trocar o anel pela aliança. A turma até tentou Convencê-lo a não cometer tal barbaridade.
- Geraldo, tanto tempo na boa vida, o que te deu rapaz?
- Encontrei a mulher que me completa!
- Porra, deixa de leseira. Daqui a pouco, vais encontrar outras que completam até melhor!
- Mas não é como a Pacheco. Ela me completa em tudo.
- Rapaz, é melhor completar aos poucos, uma pro sexo, outra pra convivência, outra pra...
- Não adianta. É isso que eu quero.
- Tudo bem. Mas vai sabendo que o anel, se algum dia ela cedeu, depois que colocares a aliança no dedo, nunca mais vais comer rosquinha. Só perereca e olhe lá.
O cara estava decido realmente, a cometer tal desatino. Então, deixa. Depois não diga que não foi avisado.
Então, tradicionalmente, nós humanos caminhamos uma longa jornada, para repetir as mesmas coisas de nossos ancestrais, mais cretinos, a tal Despedida de Solteiro tinha de sair. Lógico. Todo mundo da pelada estava convidado e convocado. Ninguém iria fazer uma desfeita dessas, de não participar.
Dia, mês, hora, local, tudo marcado, todos se preparam para o grande evento. A despedida de Geraldo. Dependendo até de como seria a relação, talvez, até a despedida do convívio com o Geraldo.
Sim, existem cônjuges tão inseguros que só faltam prender o outro numa jaula particular e nem a luz do dia se puderem, não permitem que seja vista. E esses são os mais perigosos, pois refletem a imagem deles próprios, em quem têm medo que façam o que pensa fazer, do outro lado do campo. Realmente, ciúme definitivamente não é amor em excesso, tão somente um medo danado de que o outro seja tão safado, tão infiel, quanto pensa de si.
No dia, na hora e no local, todos se encontraram. Afinal Geraldo era quem distribuía a bola mais perfeitamente, na pelada dos brothers. Era hora de retribuir, no réquiem pré-matrimônio.
Fecharam o clube, como se fala, de tanto homem. Território livre para se largar. Valia tudo.
Seu Korocka como sempre, o mais espevitado, o mais saliente, pediu logo, só para começar, para “aliviar a timidez”, como dizia, três talagadas de absinto, o proibido no Brasil, teor alcoólico que se compara a uma overdose de cocaína. Pronto, estava no ponto, para a brincadeira.
Eu queria saber, quem foi o filho de uma égua que inventou essa iluminação meio penumbra, em locais onde rolam paquera. Boites, bares e até puteiros, é uma porra de se ver pouco, o espectro de luz ser sempre reduzido. De repente, aquela gatinha que ficava linda sob a luz negra, na verdade é uma onça sem dentes, caolha e meio careca. É muita esculhambação. E não tem como pedir ressarcimento, por uma propaganda enganosa dessas.
Todo mulher que passava, era chamada para fazer parte da festa, para ficar à mesa com eles. Aliás, já não era nem uma mesa, mas um daqueles balcões de Far West, onde todos sentam ao lado, nos Saloons, em bares e restaurantes.
De repente, aquela garçonete com aquele vestido justo, mostrando as curvas, um decote que passava no meio dos bicos dos seios, até o começo do monte de Venus, nas costas faltava tanto pano que dava para poupar no cofrinho, chamou a atenção de Seu Korocka. Os amigos sabendo que ele não dispensava nem freira em fim de carreira, chamaram a moça, para apresentar ao velho Korocka, visto o estado etílico, não iria dispensar nem a Marta da Seleção Brasileira de Futebol, com meião.
Lá veio a moça.
- Chamou paixão?
- Sim, meu amigo está interessado em tua pessoa!
- Podemos ser amigos. Eu sou solteira. E aí neném, afim de um programa diferente?
Seu Korocka, mesmo embriagado, percebeu algo muito diferente, apesar da iluminação do ambiente, só comparável à iluminação pública de Manaus, principalmente na periferia.
- Sim. Pode deixar o teu nome, o teu endereço, a data de nascimento, o CPF, a identidade, a idade e a tua cor preferida?
- Poxa, tantos dados para quê?
- Posso colocar teu nome no culto, pra ver se tu deixas de frescura?
- Égua! Sai de mim Joelma. Eu sou muito feliz assim. Não pretendo mudar, nunca.
- Porra Korocka, isso é jeito de tratar uma dama?
- Isso é rei de xadrez, não dama. Tu és leso? Só fico junto do Raimundão aí, se for para marcar na grande área. Tás afim de completar o time bebê? Um zagueiro de primeira.
- Eu hein, do cara preconceituoso!
Afora esse pequeno incidente na noite, o resto estava impecável.
De repente apareceu outro time de machos. Esquisitos, mas hoje, está muito difícil dizer quem é quem, desde que o Pepeu Gomes mostrou ao público aquela música do homem que tem o seu lado feminino e o Gilberto Gil cantou o homem meio efeminado, agora, difícil é encontrar homem de verdade. Ou são uns moleques que nunca ficam adultos, ou umas bichas que pensam que são princesas desamparadas, em busca do seu Príncipe Encantado, mas a coisa já está difícil para mulher com todos os apetrechos, imagina para quem só tem um lado da história. O que tem de Cinderela beijando sapo, pois o Príncipe, pelas últimas estatísticas, caiu do cavalo e bateu o Gato de Botas, fechou o paletó de madeira e nem teve vigília pelo cadáver, virou cinzas. Até melhor, porque desde que pregaram o Homem no pau, é um tal de virar purpurina e sair da toca, como borboleta.
Pronto, aquele grupo de outros machos foi integrado ao grupo. Seu Korocka, logo ficou amigo do bigodudo. Ninguém entendeu como ele dispensou aquele gay todo alinhado, para fazer amizade tão fácil, com um homem, até de bigode.
- Meu filho, qual a tua academia?
- Por quê?
- Rapaz, com um supino desses, eu faria show de strip-tease todo dia.
- Ah, tolice, é que eu malho desde pequeno.
- Eu também, mas não tenho um peito desses. Vamos ali no banheiro, aliviar a tensão?
Todos ficaram com a pulga atrás da orelha. Será que Seu Korocka é que nem muitos políticos amazonenses, que quando sóbrio são macho de meter medo, quando bebem, querem que metam neles, como se fossem meninas carentes de colégio de freira?
Todo mundo estava preparando para jogar na cara de Seu Korocka, na primeira pelada, depois da Despedida. Ele sóbrio, era o Hulk, quando liberava seu lado mais enrustido, era do tipo de pentear taturana? Dizia que só comia perereca, mas no íntimo, era daqueles que só ordenham as tetas do boi?
De repente aquela confusão, justamente do banheiro masculino.
Seu Korocka veio bufando fogo pelas ventas.
- Alguém aí, sabe dizer o que é ato libidinoso? Tenho de me defender, caso seja uma injúria. Safado!
- O que foi Korocka?
- Aquele segurança, veio me dizer que eu estava em ato libidinoso!
- Korocka, é putaria!
- Eu também acho!
- Não, putaria, obscenidade, saliências, como diria o Maguila, depravação, o sinônimo de libidinagem.
- Ah é isso?
- O que tu aprontaste no banheiro?
- Não, eu conheci o João que na verdade era a Matilde, uma gata sem tirar nem por. Nem precisou de operação para ser mulher.
- Matilde?
- É. Vai lá.
E Geraldo, meio acabrunhado, foi verificar de perto, o que estava acontecendo.
- Pacheco sua filha de uma puta. O que tu estás fazendo nua aqui no banheiro masculino?
- Porra meu amor, eu estava com medo de perder você, estava com ciúmes, decidi vir bisbilhotar a sua festa. Eu e umas amigas nos vestimos de homem e nos infiltramos entre vocês. Mas a carne é fraca, não sei o que era aquela bebida daquele homem, de repente, estava apaixonada. Era o Príncipe Encantado que a mamãe falou.
- Príncipe Encantado? Logo o velho Korocka?
- Sei lá. Ele dizia cada coisa!
Acabou a festa. Geral e Pacheco mantiveram o compromisso, apesar de tudo, ainda havia amor, ninguém da pelada fora convidado para o enlace, a noiva vestia branco, véu e grinalda sem mácula, flor de lótus, tudo que simbolizasse pureza, no sentido religioso de nunca ter levado uma pombada, mesmo que soubesse mais do que a Mãe Joana, em termos de putaria.
Saíram da igreja, felizes para sempre, para a maternidade. Pacheco se mantivera virgem, até o dia da Despedida de Solteiro e no mesmo dia em que perdeu o cabaço, engravidou.
Geraldo assumiu a contragosto, o filho do Korocka, velho, mas não é besta.

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