Até
hoje, as peladas dos amigos de longas datas, sempre tem o time dos solteiros,
contra os casados. Houve um tempo, faz tempo à beça, em que as peladas começavam
a escassear do lado dos solteiros, pois todo mundo decidia casar e quanto mais
o tempo dava as caras, menos solteiros para completar o outro lado. Mas como já
disse, faz tempo que se perdeu de vista. Hoje, depois que os carolas
protestaram contra o advento do divórcio, mas mesmo assim passou, contra a família
e os bons costumes cristãos, está difícil completar o time dos casados. Tem
gente que já casou, pelo menos, umas 5 vezes e ainda está atrás da alma gêmea.
Principalmente aqueles que nasceram antes do prazo e sozinhos, nem com Deus a
acompanhar.
Mas na
pelada dos amigos de Seu Korocka, apareceu mais um para virar casaca. Geraldo,
depois de anos de boa vida, de liberdade total, decidiu se engalfinhar nos
braços de uma mulher, trocar o anel pela aliança. A turma até tentou
Convencê-lo a não cometer tal barbaridade.
-
Geraldo, tanto tempo na boa vida, o que te deu rapaz?
-
Encontrei a mulher que me completa!
-
Porra, deixa de leseira. Daqui a pouco, vais encontrar outras que completam até
melhor!
- Mas
não é como a Pacheco. Ela me completa em tudo.
- Rapaz,
é melhor completar aos poucos, uma pro sexo, outra pra convivência, outra
pra...
- Não
adianta. É isso que eu quero.
- Tudo
bem. Mas vai sabendo que o anel, se algum dia ela cedeu, depois que colocares a
aliança no dedo, nunca mais vais comer rosquinha. Só perereca e olhe lá.
O cara
estava decido realmente, a cometer tal desatino. Então, deixa. Depois não diga
que não foi avisado.
Então,
tradicionalmente, nós humanos caminhamos uma longa jornada, para repetir as
mesmas coisas de nossos ancestrais, mais cretinos, a tal Despedida de Solteiro
tinha de sair. Lógico. Todo mundo da pelada estava convidado e convocado.
Ninguém iria fazer uma desfeita dessas, de não participar.
Dia,
mês, hora, local, tudo marcado, todos se preparam para o grande evento. A
despedida de Geraldo. Dependendo até de como seria a relação, talvez, até a
despedida do convívio com o Geraldo.
Sim,
existem cônjuges tão inseguros que só faltam prender o outro numa jaula
particular e nem a luz do dia se puderem, não permitem que seja vista. E esses
são os mais perigosos, pois refletem a imagem deles próprios, em quem têm medo
que façam o que pensa fazer, do outro lado do campo. Realmente, ciúme
definitivamente não é amor em excesso, tão somente um medo danado de que o
outro seja tão safado, tão infiel, quanto pensa de si.
No
dia, na hora e no local, todos se encontraram. Afinal Geraldo era quem
distribuía a bola mais perfeitamente, na pelada dos brothers. Era hora de retribuir, no réquiem pré-matrimônio.
Fecharam
o clube, como se fala, de tanto homem. Território livre para se largar. Valia
tudo.
Seu
Korocka como sempre, o mais espevitado, o mais saliente, pediu logo, só para
começar, para “aliviar a timidez”, como dizia, três talagadas de absinto, o
proibido no Brasil, teor alcoólico que se compara a uma overdose de cocaína.
Pronto, estava no ponto, para a brincadeira.
Eu
queria saber, quem foi o filho de uma égua que inventou essa iluminação meio
penumbra, em locais onde rolam paquera. Boites,
bares e até puteiros, é uma porra de se ver pouco, o espectro de luz ser sempre
reduzido. De repente, aquela gatinha que ficava linda sob a luz negra, na
verdade é uma onça sem dentes, caolha e meio careca. É muita esculhambação. E
não tem como pedir ressarcimento, por uma propaganda enganosa dessas.
Todo
mulher que passava, era chamada para fazer parte da festa, para ficar à mesa
com eles. Aliás, já não era nem uma mesa, mas um daqueles balcões de Far West, onde todos sentam ao lado, nos
Saloons, em bares e restaurantes.
De
repente, aquela garçonete com aquele vestido justo, mostrando as curvas, um
decote que passava no meio dos bicos dos seios, até o começo do monte de Venus,
nas costas faltava tanto pano que dava para poupar no cofrinho, chamou a
atenção de Seu Korocka. Os amigos sabendo que ele não dispensava nem freira em
fim de carreira, chamaram a moça, para apresentar ao velho Korocka, visto o
estado etílico, não iria dispensar nem a Marta da Seleção Brasileira de
Futebol, com meião.
Lá
veio a moça.
-
Chamou paixão?
- Sim,
meu amigo está interessado em tua pessoa!
-
Podemos ser amigos. Eu sou solteira. E aí neném, afim de um programa diferente?
Seu
Korocka, mesmo embriagado, percebeu algo muito diferente, apesar da iluminação
do ambiente, só comparável à iluminação pública de Manaus, principalmente na
periferia.
- Sim.
Pode deixar o teu nome, o teu endereço, a data de nascimento, o CPF, a
identidade, a idade e a tua cor preferida?
-
Poxa, tantos dados para quê?
-
Posso colocar teu nome no culto, pra ver se tu deixas de frescura?
-
Égua! Sai de mim Joelma. Eu sou muito feliz assim. Não pretendo mudar, nunca.
-
Porra Korocka, isso é jeito de tratar uma dama?
- Isso
é rei de xadrez, não dama. Tu és leso? Só fico junto do Raimundão aí, se for
para marcar na grande área. Tás afim de completar o time bebê? Um zagueiro de
primeira.
- Eu
hein, do cara preconceituoso!
Afora
esse pequeno incidente na noite, o resto estava impecável.
De
repente apareceu outro time de machos. Esquisitos, mas hoje, está muito difícil
dizer quem é quem, desde que o Pepeu Gomes mostrou ao público aquela música do
homem que tem o seu lado feminino e o Gilberto Gil cantou o homem meio
efeminado, agora, difícil é encontrar homem de verdade. Ou são uns moleques que
nunca ficam adultos, ou umas bichas que pensam que são princesas desamparadas,
em busca do seu Príncipe Encantado, mas a coisa já está difícil para mulher com
todos os apetrechos, imagina para quem só tem um lado da história. O que tem de
Cinderela beijando sapo, pois o Príncipe, pelas últimas estatísticas, caiu do
cavalo e bateu o Gato de Botas, fechou o paletó de madeira e nem teve vigília
pelo cadáver, virou cinzas. Até melhor, porque desde que pregaram o Homem no
pau, é um tal de virar purpurina e sair da toca, como borboleta.
Pronto,
aquele grupo de outros machos foi integrado ao grupo. Seu Korocka, logo ficou
amigo do bigodudo. Ninguém entendeu como ele dispensou aquele gay todo alinhado, para fazer amizade
tão fácil, com um homem, até de bigode.
- Meu
filho, qual a tua academia?
- Por
quê?
-
Rapaz, com um supino desses, eu faria show de strip-tease todo dia.
- Ah,
tolice, é que eu malho desde pequeno.
- Eu
também, mas não tenho um peito desses. Vamos ali no banheiro, aliviar a tensão?
Todos
ficaram com a pulga atrás da orelha. Será que Seu Korocka é que nem muitos
políticos amazonenses, que quando sóbrio são macho de meter medo, quando bebem,
querem que metam neles, como se fossem meninas carentes de colégio de freira?
Todo
mundo estava preparando para jogar na cara de Seu Korocka, na primeira pelada,
depois da Despedida. Ele sóbrio, era o Hulk, quando liberava seu lado mais
enrustido, era do tipo de pentear taturana? Dizia que só comia perereca, mas no
íntimo, era daqueles que só ordenham as tetas do boi?
De
repente aquela confusão, justamente do banheiro masculino.
Seu
Korocka veio bufando fogo pelas ventas.
-
Alguém aí, sabe dizer o que é ato libidinoso? Tenho de me defender, caso seja
uma injúria. Safado!
- O
que foi Korocka?
-
Aquele segurança, veio me dizer que eu estava em ato libidinoso!
-
Korocka, é putaria!
- Eu
também acho!
- Não,
putaria, obscenidade, saliências, como diria o Maguila, depravação, o sinônimo
de libidinagem.
- Ah é
isso?
- O
que tu aprontaste no banheiro?
- Não,
eu conheci o João que na verdade era a Matilde, uma gata sem tirar nem por. Nem
precisou de operação para ser mulher.
-
Matilde?
- É.
Vai lá.
E
Geraldo, meio acabrunhado, foi verificar de perto, o que estava acontecendo.
-
Pacheco sua filha de uma puta. O que tu estás fazendo nua aqui no banheiro
masculino?
-
Porra meu amor, eu estava com medo de perder você, estava com ciúmes, decidi
vir bisbilhotar a sua festa. Eu e umas amigas nos vestimos de homem e nos
infiltramos entre vocês. Mas a carne é fraca, não sei o que era aquela bebida
daquele homem, de repente, estava apaixonada. Era o Príncipe Encantado que a
mamãe falou.
-
Príncipe Encantado? Logo o velho Korocka?
- Sei
lá. Ele dizia cada coisa!
Acabou
a festa. Geral e Pacheco mantiveram o compromisso, apesar de tudo, ainda havia
amor, ninguém da pelada fora convidado para o enlace, a noiva vestia branco, véu
e grinalda sem mácula, flor de lótus, tudo que simbolizasse pureza, no sentido
religioso de nunca ter levado uma pombada, mesmo que soubesse mais do que a Mãe
Joana, em termos de putaria.
Saíram
da igreja, felizes para sempre, para a maternidade. Pacheco se mantivera
virgem, até o dia da Despedida de Solteiro e no mesmo dia em que perdeu o
cabaço, engravidou.
Geraldo
assumiu a contragosto, o filho do Korocka, velho, mas não é besta.
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